Capítulo 3

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Gabriela Santos

Minha vida estava uma bagunça, as paredes seguras do meu mundo desmoronavam aos meus pés e aqui estava meu corpo paralisado em um camarote, assistindo a minha fodida destruição como um maldito circo. Eu não sabia se era carma, castigo ou promessa. Mas não podia tantas coisas darem errado ao mesmo tempo assim, quer dizer, era isso que eu pensava, que não poderia piorar. Contudo agora sentada na sala do meu chefe que está com uma foto do meu ex marido me buscando de moto na porta do edifício gigante que era meu local de trabalho, tenho certeza não só podia, como estava acontecendo bem ali à minha frente.

Observo ao redor do local onde estou sentada com a farda tão bem passada que arrumei essa manhã enquanto tomava um café pra camuflar minha falta de uma boa noite de sono. Minha maquiagem soava claramente exagerada, mas vamos lá, ou era isso ou uma cara de fracassada com olheiras evidentes. Mordo meu lábio inferior para conter qualquer palavra de defesa enquanto o meu chefe me declara culpada do seu julgamento. Arranho minhas unhas na minha saia social enquanto retorno meu olhar para o dele novamente.

—Acho que não preciso dizer mais nada, certo? Você trouxe um criminoso, traficante, até nossa empresa.—ele suspirou passando a mão em seu maxilar tenso—colocou em pauta toda a segurança e seriedade da nossa empresa.  E pelo amor de Deus, não me diga que você simplesmente não sabia que ele era traficante, Gabriela, eu não sou tolo.—Cospe com tamanha rispidez que me faz segurar na cadeira pra não avançar na cara desse idiota.

—Entendi. Vou retirar minhas coisas e estou saindo.—aturei esse maldito um ano e meio, enfiando trabalho até pelas minhas artérias, sendo rude, impaciente a abusivo. Ele que simplesmente entrasse no próprio cu e explodisse. Esse mesquinho acha que seu tratamento rude pode me afetar? Experimente dez minutos em minha pele, idiota.

Saindo da sua sala enquanto meu salto da empresa batuca com força todo meu caminho em direção ao setor dos funcionários. Não me disponho a me despedir de ninguém, todo mundo aqui era como cobras peçonhentas e espero que se fodam muito. Depois de pegar minhas coisas e me trocar, sai pegando meu ônibus e assim que estou acomodada ligo para minha irmã.

Ligação on

—Oi irmã, como você tá?—o tom da Giovanna é cuidadoso. Ela sempre foi a mais gentil de nós três.

—Acabei de ser demitida. Terminei meu casamento, meu ex ou atual marido foi preso e vi o João. Minha vida é uma bagunça que chega a ser hilária.

—Meu amor, eu sinto muito por tudo isso…—sussurra com suavidade.

—E eu não posso nem chorar…—minha garganta se arranha— não posso, não posso ser fraca agora, eu…—respiro fundo sufocando as lágrimas prontas para descer. Mas agora não, eu não vou chorar na porcaria de um ônibus lotado, é humilhante demais até pra mim.

—Eu sei, minha linda, eu estou indo pra sua casa, agora, tudo bem? Vou levar doces e podemos ignorar tudo, pelo menos hoje, Gabi

—Tudo bem, Gio.

Giovanna era o meu equilíbrio, onde eu era caos e frustração, minha irmã era calmaria e determinação. Ela conseguia superar e lidar com cada coisinha que aparecesse em sua vida, enquanto eu sucumbia em puro desespero em cada episódio. Eu merecia no final do dia, sabia disso. Minha parada chega e salto no lugar exato onde vi André me esperando pela última vez. Ignorando o formigamento no meu peito, caminho o meu trajeto para casa. Russo me informou que ele foi levado para prisão hoje pela manhã, eu ainda estava enfraquecida de tristeza, de culpa, de remorso e de medo. O André merecia alguém melhor que eu, definitivamente. Porra como eu me odiava.

Jogando minha bolsa em cima do sofá, me encaminho pro banheiro torcendo que a água fria levasse todo o desgosto da minha vida, não aconteceu. Mas pelo menos o banho me relaxou. Giovanna bateu na porta e gritou anunciando sua chegada. Como prometido em suas mãos estava doces e uma caixa de pizza de mercado. A minha favorita de quatro queijos. Meu primeiro sorriso aparece em meu rosto.

O advogado da facção [FACCIONADOS 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora