Capítulo 4

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João Ricardo

Quantas vezes eu tinha lido aquela porcaria de mensagem? Três? Quatro? Ainda estava presa na minha mente. Ela estava não só defendendo o seu amado como estava me atacando em contrapartida. Levanto-me saindo do meu escritório e pedindo café à minha copeira. Preciso de uma garrafa no mínimo. Minha vontade honesta é de deixar aquele fodido morrer na cadeia, mas sou profissional demais para isso. Tentei meu máximo para recorrer a uma prisão domiciliar, não ajuda que ele nunca tenha trabalhado registrado e que a localização de sua casa é um morro dominado por facção.

Já faz três dias desde que enviei a mensagem para Gabriela sobre as visitas. Sabia que a primeira visita que ela tinha era nesse sábado, ou seja, daqui a poucos dias. Por mais que meu lado racional grite para largar de mão dessa porra, eu não consigo permitir que ela vá entrar em uma maldita cadeia. Então estou fazendo o máximo para tirar aquele merda antes de sábado. A possibilidade é inferior a zero, mas estou mexendo os pauzinhos.

—O senhor sabe que precisa ir pra casa dormir né, doutor João?—minha copeira gentil pergunta. Júlia é uma mulher morena de 40 anos, ela meio que me adotou desde que começou aqui. Ela não só é minha copeira como também é minha cozinheira quando largo meu escritório. Ela está sempre insistindo que eu vá pra casa no horário certo e eu estou sempre dizendo que ela está ficando uma velhinha metida.

—Você sabe que precisa cuidar mais da sua vida, né, Júlia?—digo não permitindo que ela tenha o vislumbre do meu sorriso enquanto afundo minha cara no notebook.

—Não seja grosseiro, eu bem sei que isso é falta de sono, e café nenhum mata uma noite bem dormida. Ainda o caso da menina?—ela me pergunta e eu finalmente a encaro e concordo. Ah se ela soubesse que a menina é a mesma que ela diz que me transformou no homem cético que sou.—Olhe, o senhor sabe o que eu acho sobre isso. O senhor não pode se matar pra tirar alguém da cadeia da noite pro dia.—ela murmura.

—Você está subestimando minha capacidade.

—Jamais, eu estou com receio de sua saúde. Sabe porque doutor João? Se esse homem sair da cadeia, ela vai cuidar dele, mas quem vai cuidar do senhor?—ela pergunta se encaminhando novamente para a porta. Aquilo amarga, mas não dou o braço a torcer. Isso porque Julia sequer sabe do contexto dessa história.

—Julia, não seja metida.—ela manda beijos no ar e sai da minha sala. Me deixando com um maldito pensamento negativo alugando o lugar onde pensamento estratégicos deveriam estar.

Abro meu celular mandando mensagem para Lorena.

Mensagem on

Como está o andamento do aniversário da Valentina?

Um caos. Ela quer se vestir como adulta, o pai dela disse que ela só vai fazer 17 anos e não 20.

Nunca concordo com ele, mas sobre isso estamos no mesmo time. Ela ainda está brava comigo?

Ela disse que ia te bloquear do Instagram e whatsapp se você não fosse.

Ela sabe que é assim todos os anos, pq essa birra logo agora Lorena.

Você prometeu pra ela, João. Disse que no aniversário de 17 anos estaria aqui.

Eu sei, porra. Mas você sabe o clima de merda que isso vai ser.

E desde quando você se importa em deixar alguém confortável? É importante pra ela.

Mensagem off

Fecho minhas mensagens com a Lorena somente para abrir as minhas com a Valentina.

Mensagem on

Escolha roupas decentes ou espancarei todos seus amigos homens da sua festa junto com seu pai.

O advogado da facção [FACCIONADOS 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora