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Jão Romania, point of view,
São Paulo, 2024.

Olhava ao redor, lembrando-me de um passado não tão distante. Eu só queria voltar aos braços de Pedro, mas aparentemente isso eu tinha perdido também.

Nunca fui muito bom em dizer coisas, sempre fui melhor escrevendo, mas agora não me sentia nem apto a escrever, só me jogaria no sofá e dormiria eternamente se pudesse. Quando bati a porta do Tófani, senti uma leve esperança, quando vi seu rosto, meu corpo acendeu, mas com o passar do diálogo voltei ao estado dos últimos meses.

Sem rumo, travado e perdido, sem meu amor por telepatia.

E talvez fosse necessário, esquecer o passado, esquecer nos dois e voltar pra casa. Mas como esquecer o amor?! Como fazer ele chegar ao fim de forma tão simples?!

— João, tudo bem?! — Acordei de meu estado quando ouvi a voz de Pedro vindo da porta, olhei para o mesmo, que me observava de forma cuidadosa.

Então recordei-me da nossa primeira noite juntos. Procurei ele na cama e o encontrei-me admirando meu dorso pelo batente, levemente preocupado com o futuro e o presente. Todos esses momentos das memórias pareciam tão distantes de mim agora.

— Nada! — Engoli minhas lágrimas e então vi o horário, eram duas da tarde, mas eu sentia o peso do mundo pedindo-me para dormir. — Poderia me dar algum cobertor para dormir no sofá?!

— Pode deitar na cama! Vou ficar na sala assistindo uma série! — Suspirei fundo, não tinha forças para contrariar. Ele fechou a porta de forma cuidadosa e então deitei-me em seus lençóis.

Sentindo seu cheiro, que não havia mudado, e as lembranças só afetavam mais meu sono. Forcei-me a deixá-las de lado, e enfim, no cheiro do Palhares, tive um sono minimamente completo.

[...]

Acordo com um cheiro familiar de lasanha que reinava na casa, suspirei pois provavelmente não poderia comer já que sou vegetariano. Levantei e fui até o banheiro. O apartamento era como eu me lembrava, só que mais moderno. Procurei uma escova de dentes, ele sempre tinha uma reserva, encontrando uma azul.

Escovei meus dentes sem nenhuma pressa, lidar com o que me aguardava na sala desse apartamento me deixava enjoado. Terminei, lavei meu rosto e fui até a sala, encontrando um Tófani encolhido no sofá, como fazia em minha casa, esperando-me voltar.

— Acordou! Eu fiz lasanha, mas não sei se você vai querer!

— Eu sou vegetariano... Então não sei se vou poder comer! — Afirmei e o rosto do moreno se iluminou.

— Acho que esse universo tá do seu lado. Fiz lasanha de berinjela, só porque a Malu falou que é incrível! — Disse Pedro sorrindo. Olhei para o mesmo, com os olhos levemente arregalados.

— Malu?! Malu Alves?! — Perguntei e ele me observou em dúvida.

— Sim! Exatamente! Porquê?! — Ele ia até a cozinha em passos pequenos.

— Nada... Absolutamente nada... — Senti meu peito se encher de uma mistura estranha entre alívio e confusão.

Me segurava para as lágrimas persistentes não caírem, talvez eu pudesse me conectar com alguém dessa realidade sem me sentir uma merda. Mas só talvez.

[...]

Andei pelo condomínio, tentando reparar o que tinha sido trocado, o que havia mudado nesses últimos anos. Mas parecia que eu andava e não saia do lugar, preso por linhas e me questionando se tudo isso é real, se eu não acordarei na minha sala mais uma vez, sozinho e bêbado. Ou na melhor das hipóteses, ao lado de Pedro, pois eu sei que o que vivi ao lado do moreno não foi um simples sonho.

Minha cabeça não conseguia parar de imaginar cenários, e todos eles eram tão trágicos tanto que eu me forçava a pensar em algo minimamente positivo. O que eu não faria para um copo de bebida agora...

— Ei, tá tarde! Não vai entrar?! — Fazendo-me sair de meus pensamentos, Tófani aparece, todo agasalhado, cabelos levemente molhados, deveria ter acabado de sair do banho.

— Eu... — Até queria negar, ficar aqui olhando a vida acontecer enquanto a minha se despedaça em minha frente, mas não quero preocupar o homem que já fez o favor de me deixar ficar em sua casa perante toda esse loucura. — Vou sim...

— Vamos?! — Esticou-me a mão, vendo que eu não iria me mover. Encarei-a por alguns segundos, mas peguei, senti uma energia passar por meu corpo. Tantos meses sem isso...

[...]

Acordei em um sobressalvo no sofá, por algum milagre havia conseguido cochilar, mas quando acordei ainda estava escuro. Olhei para fora, esperando a luz vermelha me chamar de novo, mas nada ocorreu.

Levantei-me devagar, indo até a sacada, fiquei parado observando o horizonte. Vendo a cidade por cima. Pedro me dizia que sempre aprendemos voar na descida. Só que ele foi mais alto, e eu fiquei com o que dói...

— Ei, João, tá tudo bem?! — Assustei-me um pouco, observando o Palhares com uma cara amassada pelo sono. Ele é incrivelmente bonito, tudo nele me alucina.

— Te acordei?! Se sim, me desculpa eu...

— Não, não precisa se desculpar, você não me acordou! Não consegue dormir?! — Perguntou se aproximando, encostou perto da barreira, de costas para vista. É impressionante como nada muda.

— Eu tenho uma leve insônia. Eu só, tô cansado... Mas minha mente não- — Percebi que comecei a falar demais e logo me calei. Aquele não era meu Pedro, não podia falar demais.

— Ei, tudo bem... — Pós a mão em meu rosto e senti as lágrimas chegarem em meus olhos. Fechei os olhos me inclinando pro toque, mas sem me permitir me entregar demais. — Vamos, vem comigo!

Fui sem pensar muito, acompanhando o mesmo com nossas mãos entrelaçadas mais uma vez naquela noite. Sentamos no sofá e então ele ligou a TV, pondo numa tal de Netflix, escolhendo um filme. Se encolheu no sofá como sempre fazia quando íamos assistir, me forcei a ficar distante e prestar atenção no que se passava na tela.

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Lembrando que aqui temos referências múltiplas. Comenta!!

Capitulo Revisado
Palavras: 888

ᴇᴛᴇʀɴᴏ ᴊᴜʟʜᴏ, au pejao Onde histórias criam vida. Descubra agora