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— Eu sou gay - não consegui mais segurar as lágrimas.

Eu estava basicamente encolhido naquela poltrona, sentia meu corpo arder, minha cabeça doía por chorar por muito tempo, e ainda estar chorando.

O medo de ser rejeitado era grande, a dúvida do amor deles por mim, a insegurança é algo que pode te destruir.

Senti braços abraçando meu corpo, e sussurrando "está tudo bem".

— A mãe não vai te abandonar - ela falou quando eu já estava sem lágrimas no rosto.

— Nem o pai - meu pai completou.

Ela se sentou ao lado dele de novo, os dois me olhando.

— Nós te amamos independente de tudo - minha mãe começou falar - Você veio de mim pequeno, eu tenho no meu corpo a data do seu nascimento, você é o ser mais importante que existe na minha vida, eu não me importo com sua orientação sexual, a única coisa que importa é a sua felicidade, se você é feliz eu serei feliz.

Esquece a parte de não estar mais chorando.

— Eu seria um tolo de não te amar por causa disso, isso faz eu te amar mais, você é o meu maior tesouro, o fato de ser gay não irá mudar o que eu sinto por você - meu pai falou, e isso é bastante coisa, ele não é muito de demonstrar sentimentos.

— Que emocionante - o lobo fez drama.

Não consigo formar uma frase, não tenho palavras para esse momento.

— E eu já sabia - minha mãe soltou.

— Quê? - agora eu tenho palavras.

— Eu também - meu pai completou.

— Como vocês sabem? - perguntei alarmado.

— Eu sou sua mãe, é óbvio que eu iria saber - ela respondeu - E também ouvi sua oração, aí tive certeza, e como você sabe? Tu é lerdo, como iria notar? - perguntou olhando para o meu pai.

— Como se o Felix fosse ótimo em esconder algo, está escrito na testa dele - meu pai retrucou, eles sabem que eu ainda estou aqui né? - Quando ele começou com a história da "amiga", passou rapidamente pela minha cabeça que ele era hétero.

— Eu ainda estou aqui tá? - falei e eles fizeram "shiu" para mim.

— Vamos mudar amanhã, Felix - disseram após ficarem discutindo entre si, eu estava concentrado no desenho da televisão.

— Para onde? - perguntei, se for de cidade eu morro.

— Para outra casa, sua mãe está incomodada com a vizinhança, principalmente a vizinha do lado, ela anda xeretando muito na nossa vida, sempre querendo saber quem está aqui - meu pai respondeu, realmente é uma velha fuxiqueira.

— Para mim não sair da graça e dar na cara dela vamos mudar - minha mãe falou e eu ri - Estávamos conversando sobre isso desde que aconteceu aquele infeliz incidente no carro voltando da igreja, que ela foi preconceituosa com os Kim, e essa vizinhança inteira é parecida.

— Se soubéssemos que eles eram assim, nem teríamos vindo para cá - meu pai completou - E também queremos uma casa maior.

— Três quartos é pouco, a casa que iremos morar têm seis quartos, e a área de lazer que eu sempre quis - minha mãe contou empolgada - E seu pai pesquisou sobre a vizinhança, boa parte são gays, e a outra são idosos gentis, não teremos problemas com gente preconceituosa.

— Quando iriam me contar? - perguntei após o balde de informações ser jogado em mim.

— No jantar - responderam juntos.

my literature teacher | hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora