Capítulo um: De volta pra casa

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Yamaguchi Tadashi

"Com cada pequeno desastre, eu vou deixar as águas continuarem a me levar a algum lugar real."
-Home, Gabrielle Aplin

"Lar (s.m.) é uma forma especial de se definir a casa ou os assuntos relacionados a ela, como a convivência com a família e os vizinhos. "Lar" pode ter uma conotação sentimental ou carinhosa."

Casa. Lar. É um local aconchegante, com uma família que te ama e cuida de você. Um lugar de convivência boa, sentimental e carinhosa. É o que significa, é o que deveria ser.

Então por que eu não me sinto assim quando piso no primeiro degrau e fico parado sobre o segundo, observando a porta aberta e vejo as costas curvadas de meu avô? Meu único parente vivo, que ainda cuida.. cuidar não é bem a palavra certa para ser usada, ele tem a minha guarda desde que sua filha, minha mãe, e seu genro, meu pai, faleceram anos atrás.

Respiro fundo, não alto o suficiente para que ele ouça e se irrite, e solto o ar com calma enquanto me mantenho parado e com o olhar fixo em suas costas enquanto ele observa a nova casa. Desde que minha avó morreu, sua esposa, somos apenas nós dois. Ele, por algum milagre, decidiu que seria uma grande ideia virmos morar nessa casa. A casa em que um dia já foi cheia de vida e alegria, a casa em que um dia eu morei com meus pais. E desde então, desde que se foram, nunca mais pisei aqui.

E a única coisa que sinto quando olho para a entrada dessa casa é tudo, mesmo felicidade.

- Vai entrar ou vai continuar aí parado, garoto?

O tom áspero, impaciente, do homem idoso ainda parado ali na sala me tira de meus devaneios, sentimentos e pensamentos. Garoto. Posso contar nos dedos quantas vezes meu nome saiu de sua boca e foram poucas, muito poucas.

Pego as poucas malas e termino de subir os poucos degraus restantes e assim que entro na casa sou tomado por um misto de memórias. Memórias que haviam se perdido em um lugar tão fundo da minha mente que nem eu mesmo me lembrava que elas existiam.

Observo a casa diante de mim, respirando fundo e soltando o ar com calma. É estranho voltar aqui depois de tantos anos.

Pisco algumas vezes a fim de espantar a vontade de chorar que me abateu e engulo a bile que subiu pela minha garganta, puxando o ar com força.

Meu avô se afasta, andando devagar com sua bengala já velha mas bem resistente, olhando em volta.

Deixo as malas do homem mais velho ali no canto e me viro para pegar as minhas, entrando novamente.

Um arrepio escorre pelas minhas costas, sentindo um olhar pesado sobre mim, fixo, e puxo o ar lentamente virando a cabeça para trás e encontro olhos dourados, por baixo do óculos retangular, me olhando fixamente.

Eu nunca, nunca, me esqueceria daquele óculos, rosto, olhos dourados. E nem mesmo da altura. Ele tinha crescido ainda mais.

Sinto meus pulmões arderem pela falta de ar e acabo puxando-o com força, mantendo o olhar fixo até que ele decide quebrar o breve contato visual, totalmente desinteressado e segue seu caminho até a casa do outro lado da rua, de frente para a minha, como se não lembrasse de mim. Ótimo.

- Fecha essa porta, garoto.

Pisco um pouco, abaixando a cabeça, e fecho a porta perdendo a visão das costas de Tsukishima Kei, meu ex melhor amigo de infância. E.. ex paixão de infância.

Fecho meus olhos com força, ainda de cabeça baixa, e passo a língua na bochecha com força.

Não pensei que fosse vê-lo tão cedo assim. Sinto falta de Tsukki, desde o dia em que vi meus pais pela última vez. Desce o dia em que minha vida virou de cabeça pra baixo. Perdi tudo o que eu tinha, tudo o que eu amava no dia em que meus pais morreram. Quando tive que ir morar na casa de meus avós, longe o suficiente daqui.

Te amo, idiota - Em pausaOnde histórias criam vida. Descubra agora