Avril
Admiro a grande habitação de dois andares em madeira a minha frente, estou cansada de ficar nesta casa grande e funesta, então saí, decidida a caminhar pela floresta a sua volta, a fim de pegar um pouco de ar.Mesmo de dia com o radiante brilho vermelho do Sol, parece que está de noite de tão pesada que é a atmosfera, por causa da neblina que cobre o sol e torna tudo mais frio e pelo tom esverdeado que o céu contém.
A floresta é assustadoramente bonita. As grandes árvores de tronco negro e folhas verdes.
Estou trajando uma longa saia vermelha de cetim e uma regata azul e uma capa para me cobrir, me esconder.
Acho que se eu fosse uma pessoa que passeia agora pela floresta e visse um indivíduo como eu, mesmo de dia,estaria me cagando de medo.-Tu pareces uma bruxa.- ouço uma voz grave atrás de mim e viro-me abruptamente para o encarar com desdém.
-Pior do que parecer é ser não é.- insinuo.
Eu sinto que o conheço mas não me lembro quem é.
Seus cabelos parecem cortinas lisas que cobrem parte da sua face, tapando um de seus olhos azuis.-Não sou tão mal quanto tu pensas.- declara o mais alto.
Rio-me com escárnio e descrença.
-Quer dizer que é ainda pior do que penso?- pergunto em tom de sarcasmo.
-Não. - responde ele simplesmente, com um olhar sério.
Ele realmente quer falar sério, ter uma conversa de verdade.
-Quando se cresce rodeado de pessoas que não sabem o que são sentimentos reias além de ódio aos outros e amor só a si mesmo, acho que acaba por se tornar alguém tão vil como eu.- desabafa ele, não tenho a certeza de quem quer que seja mas penso que é alguém de quem eu devesse lembrar.
Ouço em silêncio e faço um sinal com a cabeça para ele prossiga.
Sento-me me apoiando em uma árvore e ele se senta ao meu lado.
Que outra escolha tenho se não ouvir os desabafos de um aparente menino rebelde.-As vezes chego a pensar que meu pai me espancava na intenção de apagar os mínimos sinais de bons sentimentos que eu podia mostrar e espancava a minha mãe pelo mínimo descontentamento que ela poderia demonstrar. - pobre criança, penso que me afeiçoei ao rapaz, apesar de sentir uma súbita raiva de si, em meu interior.
-Ele dizia que eu tinha que ser um homem forte e não um maricas. - ele sorri desgostoso.
-Mesmo assim tudo o que faço e tudo o que quero é que ele tenha orgulho de mim.- confessa o rapaz.-Eu entendo como é precisar da validação dos pais.- admito, não me reconhecendo nas minhas próprias palavras.
-A minha mãe também é muito controladora e ensinou me a ser egoísta para que ninguém passe por cima de mim ou tome o meu lugar.Eu não falo da minha mãe, a minha mãe mãe dos meus irmãos, falo de outra mulher, uma mulher cuja tal não me consigo lembrar das características físicas nem do nome, não tenho nem sequer certeza se ela existe.
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Enterina 1
FantasyA celebridade da noite desaparece misteriosamente durante um grande evento. Apesar das incessantes buscas, durante muito tempo o seu real paradeiro tornou-se desconhecido. "Estaria ela morta? Porque sumiu por tanto tempo? Para onde ela foi?"- os r...