Seus olhos estavam fechados, mas ainda podia sentir o peso de seu corpo, os gritos de Drogon distantes, o formigar em seu coração onde a adaga havia perfurado a carne. Aos poucos seus últimos sentidos se desligaram, e nada além de escuridão. Nada além de medo. Nenhum som, nenhuma luz, nada que pudesse sentir sobre os pés, nada que pudesse tocar, apenas escuridão e vácuo. Não sentia frio, não sentia calor, não sentia nada, apenas o desespero crescente dentro de si.
Não havia ar para respirar, por isso seus pulmões não se enchiam mais, não havia olhos para abrir suas pálpebras por isso nada ela enxergava.
Não havia nada.
E então, havia dor.
E então havia frio.
Um grito, aos poucos e com dificuldade se formou em sua garganta, com muito esforço ele saiu por seus lábios. Com muito esforço ela abriu as suas pálpebras, dando o máximo de si como uma criança lutando para sair do ventre da mãe. Como um afogado que não sabe nadar tentando ressurgir à superfície, ela levantou o corpo que parecia pesar toneladas.
Ela estava nua, seus cabelos soltos, sem tranças alguma para emoldurar suas ondas. A cascata platinada escorregava por seus ombros, a servindo de manto. Ela se encolheu, e abraçou as próprias pernas, o vento gelado fazia com que seu corpo tremesse ao seu toque, mas além de senti-lo em sua pele, ela podia ouvi-lo. Ele, o vento, falava com ela, sussurrava em seus ouvidos, mas era como uma língua que ela não entendia, familiar mas difícil de compreender.
Ela ainda estava encolhida quando de repente a melodia que assobiava em seus ouvidos começou a se tornar decifrável. O vento havia mandado ela se levantar, e assim ela fez. Quando se pôs de pé viu que uma fina linha de sangue escorria de seu coração. Ela levou os dedos até a ferida em seu peito, mas nada além de uma cicatriz antiga se encontrava ali. Onde um dia a adaga cortou sua pele, atravessou sua caixa torácica e perfurou seu coração. Agora uma cicatriz. Quando voltou a olhar para baixo, o sangue já não estava mais ali.
"Um lembrete, do futuro de sua casa"
Foi o que o vento sussurrou para ela.
Aquele seria o fim da casa Targaryen, sangue traindo sangue. Cinzas e ruínas.
— Onde eu estou? — A jovem perguntou ao vento, analisando a colina alta e vazia, onde só a grama tocava seus pés, e o vento sua pele.
Mas o vento não a respondeu.
Ela olhou ao redor, à procura de algo, ou alguém. Nada.
De repente, o som de trovões cortou o céu, e seu coração se apertou em seu peito. Ela conhecia aquele som.
E então a figura preta subiu aos céus. Drogon. O dragão cortou os céus, ainda maior do que ela se lembrava, como se tivesse vivido mais alguns anos sem a presença dela para vê-lo crescer.
" Você de fato não estava lá para vê-lo, seus restos queimados e velados por ele, apodreciam no chão enquanto ele crescia por três longos invernos e três longos verões" o vento sussurrou.
Ela estava morta a três anos. Mas porque voltado a vida só agora?
Drogon circulava no ar em torno dela.
"Quando o último Targaryen que caminhava sobre a terra morreu, você pode voltar"
Jon Snow. Jon Snow estava morto. Ela não sabia se a dor em seu coração era da facada em seu peito, ou da perda do sobrinho. Ela não deu espaço para tal coisa, expulsou o homem de seus devaneios, memórias e do mais importante, o expulsou de seu coração que ele mesmo partiu de todas as formas possíveis.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Chamas do Passado | Herdeiras do fogo
FanfictionDaenerys Targaryen se vê presa ao passado de sua casa, durante a mais sangrenta e mortal guerra de todos os tempos, a dança dos dragões. Ela não sabe como foi parar ali, a última coisa que se lembra é da adaga que perfurou seu coração. Mas de uma c...