Na manhã do dia três de setembro a rotina da família Granger começava a entrar nos eixos. A mãe, temendo as perguntas dos vizinhos e familiares, avisou de antemão que a filha mais velha fora selecionada para estudar em uma renomada escola interna de nome muito difícil em outro país. Mas, voltaria para casa sempre que pudesse. O pai, preocupado com a filha mais nova, sugeriu que o assunto sobre magia fosse banido temporariamente da casa. A filha mais nova, que passava a maior parte do tempo em seu quarto desde o retorno de King’s Cross, ainda buscava uma resposta lógica para os recentes acontecimentos.
Porém, nada na mente de Agnes poderia explicar, logicamente, o susto que a Sra. Ganger levou naquela manhã, enquanto preparava o café. Uma coruja, de penas marrons avermelhadas, pousou ao lado de fora da janela da cozinha, bicando insistentemente o vidro. A Sra. Granger, não era a maior fã de pássaros, fato o qual, fez seus berros serem ouvidos por todos os cômodos da casa. Marido e filha correram escada abaixo para descobrir o que o motivo de tentos gritos. Ao chegarem a cozinha, um breve silêncio recaiu ao cômodo, com todos os três Grangers olhando desconfiados para o animal.
– Correio? – Lembrou o pai após alguns minutos – Ela avisou sobre isso, lembram?
– Eu esperava morcegos. – As primeiras palavras da menina eram cheias de desprezo. Agnes se aproximou com cuidado da janela e abriu o suficiente para que a ave pudesse entrar. Desfazendo o nó que prendia a carta a um dos pés da ave com cuidado, a menina levou um breve instante para se recompor. A carta em suas mãos, não poderia ser de mais ninguém além de Hermione. A letra apressada e inconfundível da irmã não era apenas o que denunciava a remetente, mas sim a forma como estava endereçada.
“ Para Papai, Mamãe e Aggie.” – A irmã era a única que a chamava assim. Agnes, que nas últimas vinte e quatro horas, prometera a si mesma que se tudo isso fosse realmente real, não agiria de outra forma além de indiferente e desdenhosa, entregou a carta nas mãos do pai dizendo sem emoção alguma na voz;
– Podem ler. Caso eu me interesse, leio mais tarde.
Agnes sempre achou a irmã estranha. As pessoas sempre notavam que Hermione era diferente das outras crianças, alguns até achavam que era um pouco mais esperta, mas e se na realidade isso tudo não fosse um sinal de seu gene estranho? Porque isso definitivamente não era algo normal. Aquela carta era a prova que ela precisava para provar que sua irmã só poderia ser algum tipo de aberração.
– Certeza, querida? – Perguntou o pai erguendo as sobrancelhas.
– Não quero ter nada haver com esse tipo de monstruosidade. – Proferiu as palavras com veneno. Mas, a verdade é que no fundo, Agnes não via a hora de pôr as mãos na carta. A carta era extremamente volumosa para dois dias de estadia na nova escola, o que significava que Hermione teria sido muito detalhista com cada acontecimento. Naquela noite, quando os pais se recolheram, Agnes desceu até a sala de jantar, pegou o volumoso envelope de cima da mesa, levou até seu quarto e embaixo das cobertas leu as palavras da irmã tantas vezes que poderia recitá-las de cór ao amanhecer.
Quanto mais cartas chegavam, ao longo das semanas, mais injustiçada Agnes se sentia. Havia algo de muito errado nessa história toda. A irmã vivia em um castelo com fantasmas de verdade, banquetes com todo tipo de comida, sem precisar fazer nenhuma tarefa doméstica, pois tudo se resolvia com mágica, mas em suas cartas só falava, em sua maioria, sobre os professores, deveres de casa e aulas. Isso tudo era muito injusto, era ela quem deveria estar lá e não a irmã, ela com certeza aproveitaria a situação muito melhor que Hermione. Não que ela não se interessasse pelas aulas, seria muito divertido estudar poções e voar em vassouras. Contudo, não podia deixar de pensar que Hermione floreava muitas de suas cartas. Apesar da magia realmente existir, era difícil de acreditar que um de seus professores era um dos fantasmas, mas difícil ainda era acreditar que sua irmã possuía amigos. Quem seria amigo dela ? Difícil de acreditar.
As aparições de corujas começaram a se tornar muito comuns na casa da família Granger. Tão comuns, que em uma ocasião, uma coruja comum foi confundida por Sr. Granger, que correu quintal afora atrás do animal, balançando uma carta dizendo “Leve essa”, fato o qual foi presenciado por dois vizinhos, que mais tarde sugeriram a Sra. Granger que seu marido tirasse umas férias.
Conforme as semanas passavam, mais e mais cartas chegavam. Os pais, se enchiam de orgulho a cada carta. A irmã, ficava cada vez mais fria e irritadiça. Afinal, como a irmã podia ter algo que ela não tinha? Mesmo não gostando de admitir, as duas eram extremamente parecidas em certos pontos. Seus pais também pareciam pensar da mesma forma, olhavam constantemente de forma estranha para ela. Se bem que … Os olhares poderiam ser de desconfiança, pois nos últimos dias era frequentemente comum encontrar Agnes em cima de vassouras ou falando com pássaros e outros animais. Se a irmã era especial, talvez ela também seria, só não sabia ainda como.
O assunto sobre magia foi, sem contestação, proibido de forma rigorosa pelo pai, após Agnes ler uma carta que detalhava o coral de sapos da escola. Após a carta, Agnes passou a ter pesadelos constantes com um grupo de sapos falantes usando chapéus pontudos que discutiam sua natureza mágica.
– Comum. – Dizia um grande sapo cor de laranja de voz grossa.
– Uhum – Concordou o menor de voz esganiçada. – Excepcionalmente comum.
– Nenhum gene, diria, nadinha. – O mais feio dizia.
– É pode crer. – Encorajava o menor. E então, como um coro, todos diziam em unisom — COMUM, COMUM, COMUM …
Agnes acordava todas as noites suada e muito assustada, passou a ter um temor enorme por sapos, o que parecia atraí-los para ela ao longo dos dias, pois uma infestação deles aparecia no jardim. Isso se sucedeu até perto de seu aniversário, em outubro, quando uma coruja diferente bicou a janela, com um envelope diferente e um remetente muito aguardado por Agnes.
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A outra Granger
FanfictionOs últimos meses foram terríveis para Agnes Granger. Sua irmã mais velha, a qual sempre teve um intenso sentimento de competitividade, foi convidada para estudar em uma escola de magia e bruxaria intitulada "Hogwarts". Foi um susto enorme para seus...