Ela é mais especial?

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Qualquer pessoa, por qualquer motivo que fosse, que vagase pelos arredores das plataformas 9 e 10 das estações de King 's Cross, poderiam presenciar uma garotinha de cabelos longos e volumosos, circulando um grosso pilar diversas vezes, murmurando e apalpando de todas as formas possíveis os quatro lados da grossa parede. Também poderiam apreciar dois pais muito nervosos tentando acalmar, sem sucesso, a menina.

- Não faz sentido - Murmurou a menina, tocando novamente o tijolo frio. - Mas tenho que admitir, foi um belo truque. - Sr. Granger, um homem alto de corpulento trocou olhares preocupados com a esposa.

- Do que está falando, querida? - De certa forma, o pai já espera uma reação de incredulidade da filha menor. Mesmo aparentando tranquilidade e compreensão com a situação da irmã, ele sabia que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. Agnes conseguia enganar a todos, menos a ele.

- É como aquele show de ilusionismo que vimos ano passado. - Sorriu a menina visivelmente impressionada. - Devo admitir, é bem engenhoso. - Com as mãos voltou a tatear os tijolos procurando algum botão ou maçaneta. - Tudo bem Mione, pode sair... - Disse a menina em um tom mais elevado, mas nada aconteceu. Após longos minutos, muita insistência da menina e nenhuma irmã mais velha a vista, Agnes começou a perder a paciência. - Vamos logo Hermione, está ficando chato. - Sr. Granger não conseguia pensar em uma forma de resolver aquela difícil situação, trocando olhares desconfortáveis com a esposa, avistou um garoto magricela e baixo carregando um malão e uma coruja.

- Venha querida, quero que veja uma coisa. - Arrastando a menina para o mais longe que conseguia da entrada mágica, Sr. Granger se certificou que não seriam vistos por nenhum bruxo ou bruxa que tentasse atravessar a passagem. Alguns longos minutos se passaram até que um aglomerado de pessoas de cabelos muito avermelhados carregando diversas malas, acompanhados do garoto dono da coruja desaparecessem pela passagem, deixando para trás uma garotinha Granger com um olhar muito espantado. - Está vendo? Não é um truque querida, não cabe tantas pessoas assim em uma caixa de mágico, não com tantas malas.

- Ou com uma coruja - Acrescentou a mãe, ainda chorosa pela partida da filha mais velha.

O caminho de volta para casa foi mais silencioso e mais longo do que o esperado. Ao volante se encontrava um pai nervoso e preocupado, no banco ao lado, uma mãe chorosa e abatida, ao fundo, uma garotinha assustada e incrédula.

Afinal, mágica não é real, a irmã nunca foi um exemplo de normalidade, mas uma bruxa? Agnes sempre a chamava assim em diversas ocasiões, mas uma bruxa, bruxa? Não, isso não era possível. Essas coisas de magia não existiam, deveria ter uma explicação lógica. Não só o truque de desaparecimento, mas todos os acontecimentos das últimas semanas. Mas, nesse caso, então para onde a irmã teria ido? E como todas as quedas pessoas desapareceram pela mesma parede, a parede que ela encostou de todas as formas e ângulos possíveis e nada aconteceu.

" Nem sempre o gene bruxo passa para ambos os filhos " - A imagem da senhora alta de vestes estranhas veio à mente de Agnes. Isso não poderia ser real. Mas, caso fosse isso significava que Hermione era especial e ela não? Que ela era melhor? Que os pais iriam preferir a irmã e ter pena dela por não ser especial? Agnes olhou para o retrovisor e viu o olhar do pai sobre ela, ela não iria admitir essa situação.




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Notas da autora; Destaquei em itálico os pensamentos e lembranças de Agnes para que o leitor perceba a diferença entre a voz do narrador e da personagem. Manterei assim ao longo da história.

A outra GrangerOnde histórias criam vida. Descubra agora