O gene mágico

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O Sr. Granger acordou mais cedo do que o habitual naquela manhã. Se dirigiu a cozinha. Abriu a janela, como de costume. Preparou o café. Ao sentar-se à mesa, com uma xícara fumegante, pegou o jornal e começou a lê-lo. Uma das características de Sr. Granger que irritam um pouco a esposa, era o fato de que quando começava a ler algo tudo em sua volta desaparecia, característica herdada pela filha mais velha. Enquanto lia o jornal, mal percebeu a entrada a de uma coruja diferente, de penas cinzas e muito rápida. O animal, que geralmente pousava em uma das cadeiras, voou escada a cima, passou por dois quartos e como um piscar de olhos entrou no quarto mais desarrumado da casa.

Agnes, dormia tranquilamente nesta manhã, o pesadelo com sapos a acordou perto das três da madrugada, mas como já havia se acostumado com eles, apenas voltou a dormir logo em seguida. Os sonhos se tornaram tão comuns que mantinha um copo d’água ao lado da cama, caso os gritos secassem a garganta. A ave pousou graciosamente em sua escrivaninha, ao lado da cama, arranhando o móvel delicadamente, mas o suficiente para acordar a menina.

— Xôô! — Cobrindo a cabeça com um dos travesseiros, Agnes fechou os olhos e tentou ignorar a ave. Corujas não a assustavam e nem causavam mais estranheza, não importava a hora nem o lugar em que aparecessem. — Vá embora! — Insistiu a menina quando ouviu a coruja arranhar o móvel outra vez. Se a irmã queria falar com ela, poderia esperar até o Natal para conversarem pessoalmente. O animal em protesto balançou as asas, Agnes descobriu um dos olhos para ver se havia ido embora, mas ainda estava lá, com um envelope diferente do que a irmã costumava mandar. Olhou com mais atenção a pata do animal. Agnes se levantou devagar e com cuidado desatou o nó da carta. Era um envelope fino, de papel amarelado, com o logo e selo de Hogwarts e no remetente dizia;

Agnes Jean Granger

A menina levou alguns segundos para entender o que aquela carta significava. Mas também, poderia não ser. Talvez a escola soubesse de como havia se comportado nos últimos meses, ou talvez a irmã devesse ter dito algo aos diretores sobre as últimas cartas de seus pais. Com o coração acelerado Agnes abriu o envelope, poderia jurar que o coração fosse realmente sair pelos ouvidos. Lá estava. A mesma carta endereçada à irmã no ano anterior.

— Sou uma bruxa? — Perguntou aos sussurros para a coruja, a mesma a olhou com um olhar inexpressivo — Vou para Hogwarts? — Como em resposta o animal voou para fora do quarto em direção a cozinha, assustando Sr. Granger que acabara de ler as tirinhas cômicas, sobre um homem que achava ser uma torradeira.

Pousando o jornal a mesa, Sr. Granger subiu os degraus com cuidado, estava mais cuidadoso após o desentendimento com a coruja em seu quintal. Mas poderia jurar ter visto um vulto cinza passando pela janela. Ouviu-se um sussurro do quarto da filha mais nova. Se aproximou devagar, segurando o jornal com firmeza em forma de cone, se fosse algo ele espantaria. Mas nada o preparava para a cena diante de si. Sua filha mais nova, a que tanto abominava magia, estava pálida e trêmula, em suas mãos uma carta longa, uma carta que ele reconheceria em qualquer lugar.

– Querida! – Exclamou em um tom mais alto que o habitual, virando-se em direção a seus aposentos. – É melhor se levantar e vir até aqui! – Sr. Granger sempre soube se virar muito bem com as filhas, poucas as vezes que precisou da esposa para resolver algo relacionado a elas, mas desta vez ele sabia que não iria conseguir resolver sozinho.

O calendário preso à porta do guarda-roupas dizia ser a segunda semana de Outubro. Um coração marcado com caneta preta envolta do dia 31 revelava a quem fosse muito observador o como a data do aniversário de onze anos de Agnes era importante para ela, mas do que isso, se a pessoa fosse realmente observadora iria perceber pequenos pontos com a mesma caneta por todos os dias do mês de Outubro. Para alguns é claro, esses pontos não eram nada, poderiam ser apenas pontos feitos com caneta por uma criança muito animada contando os dias para seu aniversário. Mas para uma mãe observadora, que conhecia muito bem suas duas filhas, era um detalhe um tanto estranho, já que a filha mais nova sempre detestou comemorar aniversários. Não tão estranho, quanto a mesma filha ter questionado semanas antes em qual dia do mês de Setembro a mulher de vestes estranhas trouxe a carta de Hermione. O marido, podia ser muito cego quanto a tudo, mas para ela estava muito óbvio.

– QUERIDA? – Sr. Granger chamou novamente a esposa, com uma mão no batente da porta da filha e outra tentando alcançar a maçaneta da porta de seu quarto.

A esposa se levantou calmamente naquela manhã. Se vestiu devagar. Sentou-se na cama com um livro e checou o relógio de pouco em pouco, aguardando os primeiros gritos. Era evidente a semanas. Conforme os pesadelos de Agnes aumentavam, mas sapos apareciam ao redor da casa. Quanto mais chateada ficava, mais frio a casa parecia ficar. Ela já havia reparado os mesmos sinais com Hermione, perto do aniversário de onze anos os sinais ficaram mais evidentes, como em certa ocasião, quando a filha mais velha não achava um de seus livros favoritos e o mesmo pulou da estante bem na cabeça do marido.

– QUERI… Oh, finalmente. – O alívio na voz do marido era evidente. A mãe sentou-se ao lado da filha, pegou a carta das mãos trêmulas da menina e leu em voz alta para que todos pudessem ouvir. Agnes já havia lido duas vezes antes do pai aparecer à porta e pela primeira vez parecia não ter palavras.

– Bem, todos sabemos o que fazer agora. – Disse a mãe calmamente. Pai e filha se entre olharam. – Escreveremos para sua irmã, ela ficará muito animada. Depois é claro, veremos um dia para ir às compras. Pensando bem, melhor esperarmos por Hermione, entre nós é a única que consegue abrir aquela parede, eu mesma não me lembro mais como encontrar aquele bar em Londres.

– Mas… mas é claro, querida. Muito engenhoso pensar nisso. – Sra. Granger olhou para o marido com amor. Sabia o quanto confuso deveria estar, não apenas com a situação, mas com sua reação diante a tudo isso. O marido tinha seus pontos fortes, mas agir em meio ao furacão não era uma delas, e em situações assim era melhor agir normalmente e deixar que se ajeitassem com o tempo.

– Terá que esperar até o Natal, tudo bem, meu amor? – Sra. Granger se dirigiu à filha, ignorando o olhar estranho estampado em seu rostinho. A mesma apenas concordou afirmativamente com a cabeça. A mãe saiu do quarto logo em seguida puxando o marido pelo braço. Pai e filha teriam muito o que digerir nos próximos dias.

A outra GrangerOnde histórias criam vida. Descubra agora