𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎, 𝟏𝟓 𝐃𝐄 𝐒𝐄𝐓𝐄𝐌𝐁𝐑𝐎

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Hoje é um dia feliz.

Toda Florentia encontra-se eufórica com os preparativos para a construção da nova ponte que ligaria as regiões mais distantes do reino. Como é um evento importante e oficial, não tive escolha a não ser acompanhar a Rainha Edwina.

"Um dia tudo isto será seu.", disse, e no mesmo instante me recordei da outra. "Você precisa aprender comigo, venha e deixe de ser ingrata."

Ajeito as mangas bufantes da blusa azul de algodão, parecida com a coloração das flores que nos mantém presos, mas não brilhantes a ponto de serem comparáveis com as florentias. Arrumo o cabelo sem ajuda dos criados, que estão cuidando dos preparativos.

Espio o corredor. Fujo rapidamente para a cozinha, pois Senhora Dulce também se juntou às festividades, mas deixou seus utensílios espalhados sobre o balcão. Talvez pretenda assar alguns biscoitos, ou quem sabe uma fornada completa de sobremesa.

Decidi deixar as coisas como estavam, mas, assim que me virei para sair, tropecei nos cadarços da sapatilha insanamente apertada. Um grito desarmônico me escapou no mesmo instante.

Em câmera lenta, o piso se aproximava, como naqueles filmes do Tommy Croz, mas sem o efeito cinematográfico. Meus olhos fecharam-se, prevendo o momento exato da colisão.

O que aconteceu...

"STENA!"

Um vento gelado me acariciou na nuca. Em um momento, eu sentia os cadarços me apertando e o piso de porcelana, no outro, o aroma de rosas inebriava o ar melancólico do castelo, superando o cheiro enjoativo das peônias. Me encontrei presa em um mar de roxo e amarelo e verde.

Pietro.

Ele erguia uma sobrancelha, ao mesmo tempo em que me segurava suavemente pela cintura com um dos braços. Na mão esquerda, deixava pender um botão de rosa. Torci para que não percebesse o tom levemente rosado de minhas bochechas, apesar do sorriso estampado no rosto dele, o qual afirmava justamente o contrário.

Seus olhos se desviaram dos meus por um instante, fixando-se nos pés que deliberadamente tentei esconder por trás do tecido branco da saia. Pietro afrouxou o braço que estendia para me deixar no lugar, então, assoviou baixo. Como pequenos raios esverdeados, três gnomos, cada um ornamentando um chapéu com uma flor diferente, saltaram da janela em direção ao ombro de Pietro.

"Gnomildo, por favor, traga um calçado que esteja à altura desta dama.", em resposta, a minúscula criatura ergueu um par de botas amarelo fosforescentes, feias de dar dó. No entanto, ofereci-lhe um imenso sorriso de agradecimento.

Pietro desaprovou o presente. 

"Gnomina, minimize a vergonha que Gnomildo trouxe para sua espécie, e mostre que possui um senso mais apurado na moda."

Ela bateu continência, entregando-me um par de saltos azuis, que combinavam perfeitamente com a roupa que eu vestia. A agradeci, mas senti pena do outro gnomo. A terceira criaturinha se despediu com um aceno, e os pequenos ajudantes saíram janela afora. Pietro, agora, analisava a blusa de algodão.

"Não há muito que posso fazer nesse caso, mas tome isto.", disse, empurrando um leque para mim, azul e branco. "É uma pena que esta época do ano seja a mais quente."

Soltei uma risada sincera. 

"Obrigada.", eu estava precisando daquilo.

Subitamente, seu olhar se tornou sombrio.

"Não me agradeça."

E me lançou um olhar que congelou até meus ossos.


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⏰ Última atualização: Sep 22 ⏰

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