Capítulo 11 - Roxenne Cher Wolf

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Feliz

As vozes dizem assim que escuto os passos de Kai se afastarem.

Rosno imediatamente para o comentário, e me ajeito no chão.

Gostamos de dança, de ballet principalmente, é o favorito da irmã.

Os animais falam novamente, todas juntas, nunca conseguia dizer quem as falava, se era homem ou mulher, eram grossas, finas, roucas, na maioria das vezes diziam coisas estranhas. Sempre falando ao mesmo tempo, como se fossem algo que eu não sou, como sobre Caleb não ter vindo dormir ontem à noite.

Não que eu me importasse, não gosto de nenhum deles por perto, o cheiro deles me deixava com uma sensação ruim, mesmo que os animais que estavam dentro de mim gostassem e se sentiam bem. A mudança da respiração, os batimentos cardíacos, me davam dor de cabeça, mas a voz desses animais eles... de alguma forma, pareciam amar cada detalhe que eu me esforçava para que desaparecesse, os observando e tomando notas de cada parte que eu odiava, como se tudo que eles fossem, fosse a coisa mais extraordinária no mundo, o que não era.

-Eles vão querer algo em troca.

Todos querem algo em troca, até mesmo o Doutor Evan queria algo em troca a cada vez que me trazia algo para me deixar mais ''dócil''.

Eles são nossos.

Não nos machucaria.

Elos não machucam.

Mentira.

Era mentira e nem mesmo os seres que viviam dentro de mim podiam me fazer acreditar, eu vi elos se machucando, Doutor Evans matou a propria esposa, e a devorou por completo. O sangue escorrendo pelo chão marrom, a pelagem dourada do Doutor manchada em vermelho, os olhos azuis da mulher me encaravam, o sorriso de seu corpo morto me perseguiu por dias, as mãos dos cães me segurando, me forçando a ficar parada e encarar aquele pequeno banquete do Doutor Evans que estava mais do que feliz.

Afinal ele mais do que ninguém queria de tornar Deus.

Elos não machucam.

Elos protegem.

Eles não machucariam uma igual.

Não é?



Caleb me trouxe almoço, assim como ele havia feito no café da manhã, uma grande bandeja com dois pratos, dois copos com algum líquido escuro e borbulhante, talheres e guardanapos, ele havia me dito ontem que Anna não viria, então estaria ainda mais perto durante os próximos dias.

Eu gosto do cheiro dela, era doce, como caramelo, mas odiava as conversas, e de como sua vida parecia perfeita, com a família perfeita e como sempre foi protegida pelas irmãs mais velhas, ou em como seus elos a pediram em casamento, eu odiava aquilo, cada palavra que saia da boca dela me fazia querer arrancar sua língua rosa.

Caleb se senta no chão, colocando a bandeja ao seu lado, ele pega um dos pratos e coloca em cima de uma almofada entre as pernas, então pega o controle da minha Tv e coloca em algum desenho antigo.

Eu me lembro disso.

Lembro da música, e em como eu gostava de assistir várias vezes durante o dia, da parte do príncipe e da princesa dançando e em como tudo parecia tão perfeito e certo, como se nada mais importasse além deles.

Me sento ao lado de Caleb, meus olhos ainda grudados na TV, e em como a pessoa que contava a história, tinha uma voz tão familiar.

-Já assistiu? - o escuto perguntar e balanço minha cabeça -Eu posso trocar se quiser.

Almas Entrelaçadas - Um Romance de Harem Reverso - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora