Capítulo 16

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Alguns meses se passaram desde que tive um aborto, quando retornei da Inglaterra e fui deixada por Thomas, tudo havia mudado para mim em Nova York, fui demitida, tive que trancar a matrícula na fatura por falta de pagamento e já havia sido reprovada por faltas. Não exista mais nada neste lugar para mim, tudo que eu havia lutado para construir, foi destruído por uma decisão burra, uma atitude precipitada de uma mulher apaixonada. Não me restou nada a não ser voltar para a Espanha, para próximo de minha família, precisava do apoio de minha mãe nesse momento. Já havia se passado oito meses desde que tudo aconteceu, nunca mais tive notícias de Thomas, era como se ele tivesse desaparecido, nem se quer as manchetes escreviam sobre ele. Mas eu li em um artigo que Arthur se casou.

__ Anne, __ disse minha mãe entrando em meu quarto logo que o dia amanheceu. __ estou indo, preciso acompanhar seu irmão no tratamento, vai ficar bem?

__ Sim, ficarei. __ sorri amigável.

__ Deixei algo na geladeira para você, tenha um bom dia querida.

Como eu disse, tudo mudou, agora eu costumava trabalhar no período noturno em um bar da outra cidade, isso me divertia, enquanto durante o dia eu trabalhava como psicóloga em uma escola infantil. Na verdade, eu trabalhava mais como uma psicopedagoga, contribuindo no desenvolvimento das crianças. Não era o que eu sonhava, mas era um emprego próximo e eu não havia concluído o curso de psicologia criminal, tudo havia mudado em mim. Quando estava com as crianças, poderia sentir-me mais próxima de uma realidade paralela a qual um dia criei. Enfim, muito tempo já havia se passado, não o suficiente para me fazer esquecer, mas o suficiente para me permitir voltar a sorrir e fingir que nada havia acontecido. Na espanha as pessoas eram sociáveis e agradáveis.

__ Aqui está, ele está bem, só precisa que você limite um pouco mais o uso dos aparelhos digitais. __ disse amigável, sorrindo na saída da instituição, entregando uma criança para sua mãe. __ Tchau tchau Rick.

__ Obrigada, Anne, você é muito especial. __ disparou a mãe do garoto.

__ Tchau tia Anne!

Minha realidade era tão diferente agora, eu precisava sorrir o tempo inteiro e ser amigável, mas enfim, eu estava longe de todo aquele perigo. Em algumas noites, eu sonhava com o momento onde aquele homem que colocou a arma na minha boca, como eu quase morri. Quando estava voltando para dentro da escola senti uma presença, como se alguém estivesse me observando, tinha essas sensações estranha de um tempo para cá, tentando não dar importância e olhei em volta e logo entrei.

__ Estou indo, Loli, nos vemos na semana seguinte.

__ Está bem. Tenha um bom fim de semana Anne.

__ Igualmente.

Loli era uma das moças que me ajudavam no acompanhamento na instituição, não éramos amigas ou muito próximas. Agora era hora do segundo turno, eu ia para o bar servir bebida porque conseguia encontrar gente interessante para conversar, beber e me distrair. O dono do bar se chamava Andrew, tinha uma amizade de longa data, era um homem gay que não era sociável, mas esse bar lhe promovia um grande capital. Então, muitos turistas também passavam por aqui e eu conseguia um certo lucro.

__ Trouxe aquela sainha hoje? __ Andrew disse dando risada.

__ Claro que não. __ ri junto a ele. __ Mas trouxe uma peruca e um vestidinho colado.

__ Maravilhoso! __ ele riu mais uma vez. __ Escuta Anne, tem alguns caras novos por aqui, devem ser turistas, mas fica atenta, podem estar procurando confusão.

__ Tudo bem, vou ficar atenta.

Era por volta da meia noite já e nada havia acontecido, não estava vendo ninguém suspeito, tudo completamente tranquilo. Música alta e muita bebida, eu já havia tomado algumas doses também, mas não o suficiente para ficar bebada. Um cara se aproximou do balcão e pediu uma dose de tequila, baixei minha cabeça, voltando minha atenção para a bebida, enquanto isso, mais um homem se aproximou.

__ Uísque. __ era uma voz familiar.

__ Quem... __ voltei minha atenção para o homem que acabava de sentar-se.

__ Oi Anne, senti saudades.

Era Alfie Solomons, aquele judeu que eu havia conhecido na Inglaterra, durante a estadia na casa dos Shelbys. Ele estava no bar, vestido como um inglês, me encarando com um largo sorriso no rosto. Talvez se eu tivesse encontrado uma alma teria sido mais fácil encarar, deixei o copo de tequila cair ao chão, quebrando em vários pedaços, logo Andrew correu até mim.

__ O que aconteceu? __ ele segurou meus braços. __ Esse cara tá te incomodando Anne?

__ Imagina. __ disparou Alfie. __ Eu sou um amigo de longa data, não é Anne? Acredita que eu tive que vir até a Espanha para te encontrar?

__ Tá tudo bem Andrew. __ disparei. __ Fica um pouquinho no balcão porque eu preciso conversar com esse cara.

__ Mas se você precisar de mim, __ ele suspirou. __ grita, tá bom?

__ Tudo bem.

Caminhei devagar até uma das mesas vazias do bar, deixando que Alfie me seguisse e senta-se à minha frente, com a intenção de ouvir quais razões haviam trazido ate mim, além disso, ele estava sozinho? Eram tantas dúvidas, tanto medo, talvez pavor.

__ Amigo, pode trazer pra gente dois copos de uísque, tá bem? __ ele pediu a um dos garçons.

__ O que você quer comigo? __ questionei de imediato.

__ Anne, que prazer reencontrar você, __ ele sorriu se acomodando no banco do bar. __ imagina como foi fácil encontrar você? Não deveria falar que na verdade você era natural da Espanha para qualquer um.

__ Você não pode ter nenhum interesse em mim, afinal, não sou rica, não sei dos planos dos Shelbys, nada que possa te ajudar.

__ Acha que vim aqui para saber o que os Shelbys pretendem fazer? __ ele riu. __ Eu te avisei que ele ia sumir, cadê ele?

__ Eu não sei. __ dei de ombros como se não me importasse. __ Você é amigo dele, deve saber, tem negócios com ele.

A verdade é que eu não tinha muito o que conversar com Alfie, nem mesmo o que perguntar, mas tinha raiva, era uma sensação estranha de estar voltando ao passado ou melhor, de está com meu passado bem na minha frente. Quando eu olhava aquele homem, só poderia ter a ideia de encontrar Thomas.

__ Procurei você por toda Nova York, então o seu amiguinho Joseph, me contou que você havia voltado pra Espanha, foi tão fácil te achar. Sabe o que foi estranho? Ver você trabalhando em um bar no período noturno, enquanto de dia você cuida de crianças desprotegidas. __ ele bebeu sua bebida que já havia chegado e em seguida acendeu um cigarro. __ Mudou a cor do cabelo, o jeito de se vestir, mudou de profissão, o que mais mudou?

__ Tudo. __ declarei impaciente. __ Pode ser objetivo?

__ Pensei em telefonar, mandar uma mensagem, talvez até um e-mail, mas por quais motivos eu faria isso se eu poderia vim ver exatamente desse ângulo? __ ele sorriu maliciosamente. __ E aqui estou eu, além disso, ver você em um vestido coladinho ganhou o meu dia, facilmente eu perderia minhas boas maneiras e pediria a você para dormir comigo.

__ Não veio até aqui só para tentar dormir comigo, você quer algo, já adianto que eu não quero me envolver em absolutamente nada que envolva qualquer um daqueles Shelby, nem com você.

__ Lembra o que te falei sobre os pães? __ ele bebeu mais uma dose. __ Não perca as oportunidades que a vida está te dando, venda seu pão.

__ Para você eu não posso. __ levantei da cadeira apressada.

__ Não sente vontade de se vingar por ele ter te largado?__ disse ele segurando meu braço.

__ Vingança só funciona em filmes, na vida real, é uma lenda, além disso, eu não perderia meu tempo caçando um homem que me largou.

Foi o fim da conversa, ele largou meu braço e eu voltei para trás do balcão, passou-se um tempo até que finalmente ele pagou a conta e partiu. Eu deveria tomar mais cuidado a partir de agora, não sabia o que aquele homem queria comigo, poderia está tentando atrair Thomas ou tentar atingi-lo através de mim, como aquele maluco fez em Nova York. Por isso, decidi sair apenas ao nascer do sol do bar, por volta das cinco ou seis da manhã.

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⏰ Última atualização: Jul 14 ⏰

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