Sou tão pequeno e inocente

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É incrível como o clima desses tipos de festas é totalmente diferente. Lá em Ijuí, eu tinha que esconder dos meus pais que rolava drogas, sexo explícito, violência física e homossexualidade, já aqui, eles simplesmente só sabem e nem podem falar nada a respeito. A única coisa diferente das festas daqui de Garanhuns é que já teve polêmica de canibalismo, mas eu não sei nem explicar como, já que não me interesso tanto no nordeste ao ponto de buscar saber.

Já perto da festa, conseguíamos sentir o cheiro de maconha e vape de melancia há vários metros de distância, o que irritou um pouco meu nariz e me fez ter uma crise de espirros muito vergonhosa na frente da garota que eu gosto, e o mais embaraçoso nem foi ter ficado com o rosto vermelho, mas sim ouvir ela dizendo que minha cara de espirro parecia o bambi assustado. Na porta do ginásio tinha dois caras, que eu percebi que eram os rapazes que conversavam com Josh no intervalo, eles estavam com alguns folhetos na mão e entregavam para todo mundo que entrasse.

- O que é isso? Uma seita? - Moonin pergunta.

- Você deveria saber, você é daqui. - Helloi responde.

- E você acha que eu conheço tudo sobre a cidade? - Ela cutuca o braço de Helloi com certa força.

- Deveria... ela é pequena... - Ele alisa o braço onde ela dedou.

- Sem discutir com ela, você foi meio xenofóbico... - Julha abraça Moonin.

- Obrigada, meu amor. Você é uma ótima amiga. - Moonin beija a bochecha de Julha, fazendo a pobre mulher ficar com as bochechas rosadas.

Enquanto eles estavam ali discutindo sobre algo (que eu não prestei atenção porque estava olhando meu perfil do last fm), eu nem percebi quando Reptilia chegou perto de mim, então acabei tomando um susto e fechando o aplicativo como se eu estivesse assistindo algo pornográfico.

- Que foi, Roldem? Tá escondendo algo? - Ela sorri pra mim.

- Não, eu só estava vendo meus últimos scrobbles no aplicativo last fm, o qual eu acompanho não só a minha atividade no spotify, mas também dos meus friends, nós somos uma big family, e eu acho isso muito sick, you know? Tipo, poder seguir seus amigos através de um follow... wow, é tão interesting. - Fico nervoso e acabo misturando os idiomas, é comum quando você é bilingue.

- Calma there, amigo. - Ela ri, me fazendo rir de nervosismo também. - Só ia te chamar pra entrar logo, acho que o pessoal tá ocupado lá atrás e eu não quero ficar parada aqui fora por mais cinco minutos, é esquisito. Fora que eu estou com frio, mas ninguém se importa que eu estou sem casaco nesse tempo horrível, depois eu pego gripe e eles ficam "ai, tadinha da Reptilia, tá com o nariz escorrendo", mas você vê, né, Lucas? - Ela aponta pra eles. - Nem se importam. - E abaixa a cabeça, coitada.

- Eu entro contigo, e se você quiser, te empresto minha camisa. - Digo, sorrindo para a pequena morena, menor que eu.

- Não precisa, vai estragar meu look. - Ela dá uma giradinha, e realmente, ela está linda. A Reptilia está usando um vestido justo estampado com um biquíni, como se fosse a parte de cima e a parte de baixo, e a cor de fundo é preta. Esse vestido estampado de biquíni combina tanto com ela, eu só me encanto mais por essa mulher.

Nos dirigimos até a porta e quando vamos entrar, somos abordados pelos dois guris cacheados.

- Opa, de boa? Pega meu folhetinho aqui, é algo legal e você ainda pode usar de piteira. - O loiro faz um símbolo com a mão como se tivesse fumando. - A propósito, sou o Radio, e esse é o Caio. - O cacheado de cabelos escuros nos cumprimenta.

- Valeu, a gente não tem interesse em conhecer o Salão do Reino. - Reptilia diz de cara.

- Oxente, que Salão do Reino, mulher? Que desgraça, tu acha que a gente falaria de piteira se fosse algo da igreja? Bichinha arretada viu. - Caio ri, seguido por Radio. - Hoje um bandinha massa vai tocar na festa e a gente tá dando folhetinho pro pix, mas se quiser, pode mandar pra mim também, tá? Obrigado.

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