A briga mais esquisita que já me meti

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Hoje é sexta, dia de festa dos calouros, e eu estou com muito medo de matar alguém sem querer. Não sei, aquele cara embaçada entrou na minha cabeça, agora eu tô com medo da minha própria imagem. Hoje, quando eu levantei e fui ao banheiro escovar os dentes para me preparar pra uma batalha no jogo VALORANT, meu jogo preferido onde eu dou tiros violentos em crianças de 12 anos, eu tomei um susto ao me olhar no espelho... não porque estava feio, eu acordo lindo, cuido da minha pele muito bem, ganhei de presente da minha mãe um kit de skin care... talvez por isso meu pai ache que sou gay. Enfim, eu tomei um susto porque, durante um segundo, eu o vi atrás de mim, o que me fez engolir pasta de dente e me engasgar com a escova, tamanho foi o susto que tive. Acabei acordando o Paulo no processo, que arrombou a porta e veio me agarrar por trás para fazer a manobra de Heimlich. Senti o pão de açúcar do Paulo roçar nas minhas costas enquanto ele fazia isso, então quando eu consegui me recuperar, eu tenho certeza que minha cara virou um pimentão vermelho de tanta vergonha que eu tava. Ao menos deu certo.

Mais cedo eu mandei uma mensagem para Evie, convidando ela pra almoçar comigo no refeitório, porque ontem vivi apenas de fritura. O único problema era que eu gosto muito de tomar banho de manhã, e como os chuveiros são compartilhados, tenho medo de alguém ver o meu piupiu. Forças, Lucas Roldem, você consegue, ninguém vai espiar você, se alguém se atrever, eu bah na cara deles. É isso, não posso ser expulso se eu alegar que fui molestado, não é? Faz sentido na minha cabeça. Pego meus itens de higiene e minhas roupas, faço uma oração para a minha action figure da Reyna e me preparo pra ir encarar a ducha coletiva.

- Você vai tomar banho? - Dou um pulo de susto quando escuto a voz de Helloi atrás de mim, quase derrubando as coisas da minha mão. - Desculpa, Luquinhas, não quis te assustar.

- Tá tudo bem... - Ajeito meu óculos que escorregou do meu nariz. - Tô sim, ouvi que é um horário mais vazio, porque os caras estão na academia agora, então vou aproveitar. - Dou um sorrisinho.

- É mesmo, o Paulo está na academia. Inclusive, seu brinquedo é muito bonito, posso ver? - Ele tenta encostar na minha Reyna, do jogo VALORANT.

- NÃO! - Grito, e depois de ver que exagerei, eu limpo a garganta e repito. - Não, por favor... eu tenho ciúmes dos meus bonecos...

- Você tem mais? - Helloi pergunta, brilho em seus olhos.

- Alguns, mas ainda não tive tempo de arrumar, deixei de trazer cuecas pra trazer meus bonecos.

- Você pode usar as minhas, se precisar... - Helloi abaixa a cabeça, tímido.

- Você faria isso por mim? A gente mal se conhece. - Eu fico agradecido, mas acho estranho usar a cueca de um cara que mal conheço.

- Eu tenho umas novas, tá tudo bem por mim, eu sou de Garanhuns mesmo, então consigo pegar roupas todo fim de semana, sério. - Helloi se aproxima e coloca a mão em meu ombro. - Pode usar, eu gosto de você.

Dou meu melhor sorriso pra agradecer Helloi, que fica meio sem jeito. Ajeito minhas coisas novamente e me dirijo ao banheiro um pouco mais calmo, conversar com o rapazinho me deixou menos tenso, mas foi só chegar na frente da porta do banheiro que eu comecei a suar. Eu sou um guri pequeno e indefeso, se algum gurizão quiser me bater, eu vou acabar apanhando, e eu prometi pros meus pais que eu não iria apanhar na primeira semana.

- Vamos, Lucas, você consegue!

Respiro fundo e entro no banheiro, e definitivamente o que eu vejo não é o que eu esperava. O banheiro estava vazio, não tinha nenhum macho nu e nem uma orgia, infelizmente. Havia algumas cabines individuais de chuveiros, mas só duas tinham portas, as outras foram quebradas, e também havia uma parte com mais ou menos dez chuveiros, um ao lado do outro, e com um corredor separando, tinha o vestiário, cujos armários eram grandes. Fui logo até o armário pra ver onde era o meu, e pro meu azar, era bem nas partes do meio, então qualquer um que entrasse podia me ver pelado logo de cara. Bosta. Guardo minha roupa lá e tranco, ficando só com a toalha, o sabonete, o shampoo e o condicionador, correndo até a cabine fechada. Consigo tomar meu banho em paz, a água estava uma delícia, me lembrou a Reptilia. Achei que eu conseguiria terminar tudo sem ninguém me interromper, mas aparentemente eu não calculei bem o meu tempo, porque um barulho de uma multidão atrapalhou minha música.

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