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Helena Abreu.
03:14

☠︎︎

Alguns corriam dos tiros e outros corriam com armas nas mãos, disparando sem parar. Quando minhas pernas finalmente ganham movimento, eu corro. Corro mesmo com as pernas cansadas.  Será que estava longe o bastante? Vejo a porta da minha casa e subo as escadas com pressa.

Fecho a porta rapidamente com o coração na boca. Coloco as mãos na testa e quando a adrenalina passa, finalmente, eu desabo em um choro copioso. Busco por ar mas meus pensamentos não saiam daquele baile.

Será que meu irmão estava bem? Me lembro bem das memórias recentes de um amigo de infância no chão com uma bala atravessada no peito. Os homens sacando as armas. Os homens da farda preta.

As vezes me esqueço que essa porra é o Brasil. Como nós poderíamos crescer? Com a mão no coração? Meu irmão entrou pro tráfico apenas com dezesseis anos. Mas como ser diferente? Nosso pai é um drogado fodido e nossa mãe vive a base de remédios para depressão.
Sempre odiei os gritos dela. Os barulhos dos inúmeros tapas que recebia de nosso pai. Mas ela se sujeitava a isso.

A pior parte é que ela permitia ele fazer isso conosco também.

Tiro o salto totalmente detonada e sigo até o banheiro tirando o vestido azul e o deixando no chão da sala se me importar. Ao ligar o chuveiro, abraço meus ombros.
Não era só bandido. Bandido também tem família. Gabriel tinha uma mãe. O pai dele morreu quando éramos crianças. Mas porra, o cara era trabalhador e apesar de não concordar com a vida que o filho tava seguindo o amava mesmo assim.

Mas o que adianta agora? Os dois não estavam nessa Terra mais.

Fecho meus olhos pedindo a Deus, se é que ele existe, que meu irmão volte seguro pra casa.


[...]


02:48

Tiro os fios de cabelo grudados pelo suor em meu rosto enquanto respirava ofegante. Estava há muito tempo dançando sem parar. O som estava tão alto que era quase ensurdecedor.

Dou um sorriso irônico pro homem a minha frente.

–Nem vem, Guilherme. Não vai rolar. Nunca mais.

–Vai me desmerecer mesmo, Lena? Poxa, já disse que tô arrependido.–ele diz e eu reviro os olhos.

Nós terminamos há mais de quatro meses. Peguei o filha da puta marcando de transar com a minha melhor amiga em um final de semana na minha casa. Além de várias fotos nojentas no chat deles, eles estavam ficando há quatro dias.

Homens só pensam com a cabeça de baixo e isso já é fato.

–Meu amor, você é tão patético que não conseguiu me enganar por duas semanas! Poderia ter sido mais esperto, poxa.–digo e cruzo os braços.–Me acha tão burra assim? Quando se amigo me chupou no seu sofá, fui mais esperta...

Ele arregala os olhos e abre a bora pra falar algo mas eu viro pro lado e vejo o carro da polícia do nosso lado.

Um dos vapores é derrubado no chão com uma bala através da cabeça. Meu olhos se arregalam e o caos começa. Os policiais que tinham saído do carro pegam as armas rapidamente e apontam pro resto dos bandidos que se aproximam também armados.
Eu sabia que isso iria virar um banho de sangue. Ninguém mata bandido dentro da favela e sai ileso.

–VAI PRA CASA, HELENA!-Meu irmão grita com um fuzil na mão atirando para os homens de farda preta. Eu apenas fiquei lá.–NÃO VOU FALAR DE NOVO CARALHO!

Empurrou a multidão que corria desesperada e tento fugir também.

𝙎𝙃𝘼𝘿𝙀𝙎 𝙊𝙁 𝘾𝙊𝙊𝙇 | Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora