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Roberto Nascimento.
Um mês depois.

☠︎︎


No Rio de Janeiro, quem quer ser policial tem que escolher: Ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra.
Eu não sou um policial convencional. Eu sou do BOPE. Da Tropa de Elite da polícia militar. Na teoria a gente faz parte da polícia militar.

Na prática, o BOPE é outra política. O nosso símbolo mostra o que acontece quando a gente entra na favela.

Suspiro frustrado. Encosto a mão no volante do carro. O que eu estava fazendo aqui afinal? Ah...Ela.

Ela esconde um segredo e eu vi em seus olhos. Me lembro das palavras que Mathias usou para me informar. A mulher ajudava na ONG que ele visitava. Ele me garantiu que a garota não era uma envolvida.

O problema do Mathias é que ele estava cego. Acreditou no que a tal namorada da faculdade o disse.

A música do bar em que meu carro estava próximo em um canto deserto era alta mas nem tanto. A mulher dos cabelos castanhos mexe os quadris enquanto desce devagar até o chão. As mãos nos joelhos, os cabelos grudados na testa por causa do suor. Eu observo tudo.

Isso me leva a pensar traficantezinho do namorado dela. Deixamos ele todo fodido. Fomos atrás do filha da puta mas ele não nos disse nada de útil.
Ou ela havia mentido ou realmente falava a verdade quando disse que não sabia de nada.

Eu não podia intervir. A sequestrar seria muito arriscado. Eu não tenho provas concretas e isso é uma droga. Eu confio nos meus instintos e eles me levam até ela. Venho a acompanhando desde a última vez que nos vimos. Ela amarrada na cadeira enquanto montava um triplex em minha cabeça.

A vejo franzir o cenho e falar algo com um homem ao seu lado. Ela parece se despedir dele e andar...em direção a meu carro.

Ela se aproxima da janela e dá duas batidinhas no vidro. Abaixo a janela do carro e deixo meu semblante sério.


–Boa noite.

Ela não responde. Ela me reconheceu.

–O que faz aqui? Vai colocar uma sacola na minha cabeça de novo?–Ela pareceu hesitar em dizer mas disse mesmo assim. Ergui minha sobrancelha direita um pouco surpreso com a sua audácia.

–O que eu faço da minha vida não tem muita a ver com você, não? Não acho que lhe devo satisfações.


Ela ergue a sobrancelha assim como eu fiz.


–Vê se não vem atrás de mim. Eu realmente não tenho nada a ver com o que o senhor faz ou deixa de fazer, Capitão.–Ergueu o queixo e levou as mãos na cintura exposta. A mini saia tão curta como as que sempre usava. Ela dá uma risada sem humor.

–Não tem vergonha na cara? Uma foto dura mais...–Cruzou os braços.

–Para que? Fazer meu olhos sangrarem toda vez que olhar?

–Não sou como as putas que você come.


Meus lábios se curvam em um sorriso irônico.


–Ah é, esqueci que você é marmita de bandido.–Digo ao ligar o carro e sair daquele lugar.

Suspiro frustrado com o volume entre minhas pernas.



[...]


Sábado.
08:29.

Desço do carro que havia estacionado em outro lugar. Vestia uma roupa social, diferente do uniforme que eu uso no trabalho. A única coisa que não muda é minha expressão. Tô correndo um risco com caralho só por estar vindo aqui.

E se ela não estiver lá? Caralho...

Eu nem sei o que faço aqui. Me aproximar dela pode ser perigoso...ou vantajoso.

Entro pela porta da ONG vendo uma garota de cabelos curtos que vai até os ombros. Dou um aceno com a cabeça quando ela se aproxima.

–Bom dia! Como posso ajudar o senhor?

–Helena.–Digo direto.–Ela está?

A garota concorda com a cabeça e aponta em direção a sala em que ela está. Caminho até lá e consigo a ver com duas crianças. Ela fala com eles de forma descontraída. Me encosto no batente da porta, a qual estava aberta.

Ela repara a minha presença e revira os olhos. Insolente.

Helena sorri para as crianças e diz algo inaudível por mim mas pelo menos faz as crianças saírem da sala. Ela se aproxima da porta e eu desencosto meu ombro do batente.

Ela fecha a porta e me olha irritada.

–Não falei para não me procurar? Tá maluco? Sabia que se alguém descobre que tem um policial do BOPE aqui dentro, os caras são capazes de fechar essa porra dessa ONG?!–Ela sussurra.–Diz logo o que você quer dizer,  não sou de ficar dando esmola pra ninguém.

–Não se cansa de ser tão abusada?–Me aproximo dela, olhando para baixo percebendo nossa diferença de tamanho. Helena não era baixa. Provavelmente tem 1,70 mas eu sou mais alto.
Ela engole em seco mas sustenta meu encarar em seus olhos.

Inclino minha cabeça em sua direção para sussurrar em seu rosto.

–Vim apenas dizer que...aquilo não irá se repetir novamente, senhorita.

Ela franze o cenho. Ela está se fazendo de burra ou é assim mesmo?

–O que?

–...O interrogatório. A sacola, a cadeira... perdão.–Meus olhos vacilam um pouco se suavizando. Ela deixa a boca entre aberta e fica alguns segundos sem dizer nada.

–Beleza...okay. tá bom.

Suspiro. "Beleza"? Eu não deveria ter vindo aqui. Me afasto e ela segura minha mão. Que era bem menor que a minha.

–Quer dizer... obrigada. E aqui não tem nenhuma senhorita não! É só Helena, Capitão!–Diz e posso perceber ela mordendo o interior da bochecha.

Só Helena. Helena Abreu. A dona dos olhos castanhos.







Notas da autora:

Não se esqueçam de votar e comentar sobre o que acharam! 🩷

Capítulo pequeno pois achei difícil demais escrever pelo ponto de vista do Nascimento. O que vocês preferem? O ponto de vista da Helena ou o dele? Eu não pretendo fazer todos os capítulos na visão da Helena apesar dela ser a protagonista.

𝙎𝙃𝘼𝘿𝙀𝙎 𝙊𝙁 𝘾𝙊𝙊𝙇 | Capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora