É ela

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De todos os casos possíveis em São Paulo, eu havia pegado o único no qual ela estava presente. Aquilo só poderia ser algum prova de fogo, ou uma pegadinha de televisāo.

Não era possível, com tantas mulheres nesse mundo, Felipe tinha que ter casado justamente com Virgínia? Quer dizer, não era culpa do homem, se a algumas semanas eu havia transado com sua esposa, se é que na época eram casados.

Soraya: - Está tudo bem? — Soraya perguntou ao sentar a minha frente.

Eu meneei com a cabeça negativamente, tentando voltar a minha realidade.

Janja: - Está! Eu só estou pensando no caso de hoje.

Soraya: - Está animada? Soube que é um caso grande! — seu tom de voz, era surpreso.

Janja: - É um caso importante, e difícil. Muito difícil.

Soraya: - Pensei que quisesse um caso dificil, Janja. Foi para isso que viemos para cá, não é?

Eu suspirei pesado, enquanto ela me olhava um tanto confusa.

Janja: - E eu quero! Vou resolver isso. Lula apostou todas a fichas em mim.

Soraya: - Isso é maravilhoso! Mesmo você não sendo mais delegada, creio que esse cargo é tão importante quanto!

Janja: - Com certeza é. Só tem um problema.

Soraya semicerrou os olhos em minha direção.

Soraya: - Que problema?

Eu olhei para ambos os lados, como se procurasse alguém que tivesse interesse em nossa conversa. Apoiei meus braços sobre a mesa, me inclinando um pouco para frente, a ponto de ficar mais próxima de minha amiga.

Janja: - A mulher do empresário, Felipe.

Soraya: - Ela é gata? — perguntou com um sorriso.

Eu sorri da expressão sacana e ao mesmo tempo maldosa de Soraya.

Janja: - Sim, muito!

Soraya: Oh, Deus! Você quer pegar a mulher dele?

Janja: - A questão é essa, eu já peguei.

Soraya arregalou os olhos em puro susto.

Soraya: - Você está brincando, não é? — ela cochichou.

Fechei os olhos, levando meus dedos até minhas têmporas, onde fiz uma massagem leve.

Janja: - Não! Ele é casado com Virgínia Fonseca.

A mulher ficou calada por alguns segundos, talvez pensando em quem poderia ser Virgínia Fonseca, quando em um lampejo de memória, Soraya tocou com a ponta do dedo indicador em sua cabeça.

Soraya: - A loira do ménage?

Eu voltei com meu corpo para trás, encostando minhas costas na cadeira estofada.

Janja: - Ela mesma.

Soraya levantou de sua cadeira, com uma risada que se espalhou por todo o ambiente.

Soraya: - Você está muito fodida!

Janja: - Obrigada pela parte que me toca.

Soraya: - Janja, você passou o mês todo falando o quão boa na cama aquela mulher é. E olha que você já dormiu com muitas, mas nenhuma teve esse efeito sobre você.

Janja: - Eu sei! Porra. — resmunguei ao levantar de minha cadeira. — Ela não pareceu ficar desconcertada, pelo contrario, gostou de me ver.

Caminhei devagar até a estante, pegando uma das xícaras pretas com o brasão da delegacia, para depositar uma boa quantidade de café quente.

Aspirei a pequena fumaça que saia do recipiente, sentindo o cheiro gostoso do café.

Soraya: - De duas uma, ou ela é muito safada ou você está louca. —  Eu virei em direção a Soraya, que me olhava com um olhar divertido.

Janja: - Eu aposto nos dois! — disse antes de tomar um gole do café quente.

Soraya: - Eu acho que você deveria manter o foco no seu trabalho. Ela deu bola pra vocế?

Janja: - Ela passou o dia me provocando!

Soraya: - Tem certeza?

Janja: - Sory, ela é cínica demais.

Soraya: - Talvez Você esteja assustada com tudo. Vai ver aquela noite deveria ser a despedida de solteiro dela. E ela aproveitou com você, e Aniele.

Eu me encostei sobre a estante, deixando minha cabeça vagar sobre a idéia de Soraya.

Talvez eu estivesse louca, a correria e as poucas horas dormidas estavam me fazendo imaginar coisas que não existem. Mesmo que suas palavras estivessem nítidas em minha cabeça, eu ainda queria acreditar que eu estava ficando louca.

Soraya: - O que vai fazer hoje? — Perguntou a mulher.

Janja: - Eu tenho que ir ao jantar com o Felipe. Vamos relatar o caso mais detalhadamente. E você?

Soraya: - Eu vou curtir a noite. A agente Simone é interessante, e me prometeu algumas bebidas depois daqui. — seu tom de voz era animado.

Eu franzi o cenho.

Janja: - Você mal chegou e já vai sair com alguém da delegacia?

Soraya: - Pelo menos não vou sair com a mulher da vitima, não é?

Janja: - Vai se foder!

Soraya soltou uma risada e se afastou.

Soraya: - Agora é sério, ela é divertida e bonita! Disse que me levaria para conhecer um pouco de São Paulo, e como tem poucos dias na delegacia, eu aceitei!

Janja: - Espero que tenha uma boa noite então.

Levantei a xícara como se fizesse um brinde.

Soraya: - Com toda certeza eu terei, Silva!

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