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Fernanda

Caminhei até Daniel e o observei
analisar os homens que colocavam
algumas malas no jatinho. Ele fumava um cigarro em silêncio, quieto em um canto...

Estava terrivelmente frio aquela noite,
me mantive estática ao seu lado e o olhei de relance. Retirei do bolso um sobre tudo preto um cantil personalizado que dentro possuía o maldito e viciante whisky irlandês.

-Tudo bem? - ele questionou rouco.

Assenti milimetricamente ainda em silêncio.

-Então por que está tão estranha?

-Eu... Não sei. -Confessei.

Guardei a bebida novamente e ele me
analisou por alguns segundos enquanto
ainda fumava.

-Conclui o que pediu a 1 mês atrás...
os números para contato com Aline
Dias e o celular descartável foi
colocado na sua bolsa. - ele disse paciente. - Pode dizer a ela, e entregar os objetos necessários assim que quiser.

A pista de voo ficava um pouco longe da casa, tratei de ir depois pois havia ficado para resolver algumas últimas coisas.

-Então ela está livre... - sorri de canto e Daniel assentiu. - Você foi mais rápido do que imaginei.

-No fundo não queria que eu falasse isso, não é? - ele questionou e eu concordei.

"Você é a arquiteta da própria
infelicidade" Pitel costumava dizer.

-Arquiteto a minha própria infelicidade.
Daniel se manteve em silêncio e meu
olhar ficou disperso, minha garganta
secou e meu maxilar travou. Caminhei em passos lentos até a escada que me levaria para dentro da aeronave. Notei que Pitel dormia em uma posição desajeitada apoiada sobre o corpo de Buda , Marcelo entretido em olhar pela janela e Laura entediada enquanto analisava o irmão.

Sentei ao lado de Alane e parei pra
refletir que talvez aquelas horas de
voo seriam nosso último tempo juntas. Deitei a cabeça em seu ombro e ela de
uma forma desengonçada acariciou meu pescoço enquanto eu sentia suas finas unhas arranharem lentamente a região.

Ela estava livre...

Seu nome era quase inexistente agora, poucos sabiam do sequestro que ocorreu a exatamente um mês atrás e... muitos dos que poderiam a colocar em risco estavam mortos. Sua família ainda tinha a proteção dos meus seguranças por mais que nem soubessem disso.

-O que aconteceu? - ela questionou baixo e eu ergui o rosto para olhá-la.

Tentei evitar o assunto, não queria falar
sobre isso agora. Ela compreendeu e
voltamos a antiga posição, respirei fundo e ela deixou um beijo demorado na minh cabeça.

Alane

A intimidade pareceu crescer depois que ela confessou gostar de mim e gostar do que tínhamos.

Era uma ilha magnífica, mas não dava pra ver muito por conta da imensa escuridão da noite. Entramos para dentro de outra luxuosa mansão e... dessa vez ficamos no mesmo quarto. Só que... seu silêncio extremo me incomodava um pouco.

Deitamos na cama mas ainda nos
encontrávamos tímidas pra algo mais
intenso. Ficamos ali enquanto ela mexia
no notebook e eu apertava os botões do
controle da maldita TV em busca de algoque me tirasse daquele tédio. Ela parecia concentrada e eu não queria perturba-la. Acabei caindo no sono.

(...)

Procurei Fernanda pela cama e não
encontrei, eu estava sozinha. Sentei na
cama com dificuldade e liguei o abajur... notei que já era quase manhã e ao observar ao redor, a vi sentada numa poltrona em silêncio. Aparentava estar desconfortável.

-Não consegue dormir? - questionei rouca.

Ela movimentou a cabeça milimetricamente confirmando que não conseguia. Esperei em silêncio e ela por mais que relutasse em falar... se permitiu dizer. Ela abraçava as pernas enquanto se mantinha coberta com um edredom escuro...

-As vezes dura a noite inteira. - soou
rouca. E quando estou deitada fico -
paralisada ouvindo o barulho das sirenes e a repetida voz do noticiário... escuto a voz soar lentamente recitando milhares e milhares de vezes o nome dele.

Ela suspirou pesado e eu me mantive
estática escutando.

-Eu tento fechar os olhos e posso ouvir o
advogado dizer que ele seria levado ao
corredor da morte. Daí... Eu rezo.

-Reza? - Questionei baixo.

-Rezo pro sol bater na cortina antes que o telefone toque informando que ele havia falecido cumprindo a pena de morte.

Não pude ver suas lágrimas, mas podia
perceber em sua voz embargada que
estava prestes a chorar.

-E quando não dá tempo de rezar eu apenas desejo.

Ela calou-se colocando a respiração em ordem, procurando palavras para se expressar.

-Estamos sempre entre a vida e a morte... esperando para continuar. E no final não temos decisão... nos aceitamos e fazemos as pazes com o diabo, seguimos em frente.

-Você tem a inteligência do seu pai e a
maldade da sua mãe. Eles brigam dentro
de você.....- pude ver que ela me olhou. - Deixe seu pai ganhar.

-Eu deixo uma trilha de corpos por onde
passo... a parte da minha mãe nunca vai
morrer dentro de mim. -Notei sua voz chorosa.

-Ei.. - me levantei me aproximando e
agachando próximo a ela. Ela ainda
abraçava as pernas e se mantinha
estática. - Não faz assim.

-Eu não me tornei assim porque eu quis... foi minha mãe quem me arruinou. - ela respirou fundo. - Sou uma abominação e não quero te arrastar comigo pro fundo do poço.

Fernanda era manipuladora, tinha sede de poder de controle, de castigo. E todas as ações eram motivadas por apenas uma parte dentro de si...

Mas qual era?

A solidão. E ela odiava isso.

Quem Fernanda tinha de verdade,
sem forçar a lealdade com seu poder
aquisitivo, sua frieza e sede de sangue
assustadora? Ninguém.

O legado de morte feito por ela e pela família nunca morreria, eram a definição de maldição.

-Sem fundo do poço. - toquei seu rosto o
erguendo. Apenas nós.

Me levantei e a dei a mão, ela levantou e
fomos para a cama. Apaguei a abajur e a
puxei para se aninhar em meu corpo, aabracei transmitindo toda segurança que podia.

Fernanda

Deitei em seu peito escondendo o rosto na curva do seu pescoço. Sua respiração lenta emanava próximo ao meu ouvido enquanto eu sentia suas mãos se perderem em um carinho entre meus cabelos, beijos eram deixados no topo da minha cabeça e eu me prendia a ela abraçando sua cintura.

-As vozes não vão te incomodar... - ela sussurrou em um fio de voz. - Somos apenas nós.

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Oii, como vocês estão? Bom ainda sairá mas 1 ou 2 cap hj!!

Não esqueçam a ⭐️

[Não revisado❌️]

Lá marfia • FerlaneOnde histórias criam vida. Descubra agora