Faye POV
- Seu consultório me dá arrepios. - Disse Alisa, minha mais nova paciente.
- O que quer dizer? - Pergunto com um sorriso de canto.
- Imaginei que seria mais reconfortante... Aconchegante. - Suspiro.
- Sabe, Ali, as pessoas chegam aqui geralmente muito tensas, principalmente aquelas que nunca tiveram experiência com psicólogos antes. Então é mais questão de adaptação, com o tempo talvez aqui se torne um lugar realmente reconfortante para você. - A menina de 22 anos sorri de canto, assentindo levemente ainda muito desconfortável. Alisa possuí cabelos mal penteados e uma camisa xadrez, verde e preta, amarrotada. Não é difícil saber que ela está cansada. - Então, você me procurou dizendo que era urgente...
- Sim, eu... Uma amiga me indicou. Disse que você a ajudou muito, fez milagres.
- Bom, eu não faço milagres. A terapia é um processo contínuo de evolução a partir da comunicação, quanto mais você se abre comigo mais eu poderei te ajudar. - Ela assente. - Vamos começar pelo motivo que te trouxe aqui.
- Eu... Comecei a tomar pílulas depois que entrei para faculdade. De início serviam apenas para trabalhar e tal, mas depois... As coisas saíram do controle.
- Que tipo de pílulas?
- De início anfetamina, para melhorar a concentração e... Depois outras coisas. - Desvia o olhar, parecendo conversar com ela mesma. - O problema é que essas merdas são muito caras, bem caras, e minha mãe é quem paga minha faculdade. Ela é recepcionista e se esforça muito para isso mas... Mesmo assim as drogas não me deixaram aproveitar isso. Eu roubei um cheque para comprá-las e acabei sendo expulsa da faculdade. - Me olha novamente. - Agora não sei o que fazer.
- Sua mãe sabe dessas coisas?
- Não... Nem consigo imaginar a decepção dela se souber disso. E como se já não bastasse tudo, minha mãe acabou de pegar o resultado da tomografia e ela está com câncer no pulmão. Então... - Ela respira fundo e começa a chorar. - Eu sou a maior decepção dela e vai ser assim que ela vai se lembrar de mim.
Suspiro. Alisa está profundamente arrependida de tudo que fez, afinal, quem não estaria nessa situação? De qualquer forma, é curioso porque aparentemente ela também tinha todos os motivos do mundo para parar enquanto isso ainda não havia se tornado uma enorme bola de neve. Então me atrevo a perguntar:
- Posso perguntar o que te fez continuar com as drogas? - Ela respira fundo e enxuga algumas lágrimas.
- As sensações... É como se você nunca tivesse sentido porra nenhuma antes disso entrar no seu corpo. - Fixa seu olhar em um ponto, percebo que as drogas ainda fazem um grande efeito em Ali quando a mesma mal consegue explicar como se sente quando as usa, automaticamente seu corpo desliga, ela está hipnotizada por seus próprios pensamentos. - E eu faria de tudo pra tê-las de novo, mesmo sabendo de tudo o que causam. É além do meu controle... Já se sentiu assim?
Já, eu com certeza já me senti assim. Todas as manhãs que vou até "Amor" sinto um enorme conflito interno dentro de mim, eu sei que não é certo o que estou fazendo mas mesmo assim faço de tudo para ir até lá pelo menos uma vez por semana. Eu tenho uma vida completa fora desse escritório, com uma filha incrível e um financeiro relativamente estável, mas ainda assim eu sinto a necessidade de ter Yoko Apasra por perto.
Essa mulher me causa um efeito... Como se fosse um vício. Por mais que eu lute para me afastar, eu ainda me pergunto como é conversar com Yoko e conhecê-la além do que seu ex-namorado diz. Além de todas essas situações que deveriam me levar para longe dela, ainda existe a possibilidade de eu estar lidando com uma ótima manipuladora. Uma pessoa que descarta as outras facilmente como se fossem papéis riscados com uma só linha que ela mesma fez, dando um gosto de quero mais para suas vítimas antes de jogá-las no lixo.
E novamente eu estou aqui, indo de encontro a minha razão, entrando pela porta do café que dessa vez está mais cheio. Hoje vim mais tarde, depois que as sessões do dia acabaram, ao invés de ir antes do trabalho. Assim que entro, vejo Yoko passando atrás do balcão carregando uma bandeja nas mãos. Como sempre está linda com os cabelos castanhos ondulados e seu avental com o nome do café, concentrada fazendo seu trabalho. Assim que me viu, veio até mim e faz a pergunta mesma de sempre:
- Qual seu pedido?
- Um americano descafeinado, por favor. - Disse e me arrependo logo em seguida. Álcool não faria mal uma vez na vida. - Ham... Na verdade... - A mulher, que já havia se virado para preparar meu pedido, volta sua atenção a mim. - Quais vinhos você tem?
-Vivendo loucamente. - Diz dano sorriso sarcástico e devo dizer... Bonito. Isso foi interessante. - Temos Pinot Grigio, Chardonnay ou o tinto da casa que, cá entre nós, é uma porcaria. - Dou risada de sua sinceridade.
- Um Chardonnay, por favor.
- Ok, nome para o pedido? - Estou prestes a pagar com meu cartão, mas repenso minha ação após sua pergunta.
- Fern. - Pego o dinheiro e a entrego, ela me dá o copo com a bebida. Tomo um gole e estranho o gosto. - Isso não é Chardo...
- É melhor, vai por mim. - Diz e apenas se afasta, continuando seu trabalho em outra parte do balcão. Disfarçadamente me sento num banco, próximo se onde ela está realizando alguma tarefa, e vejo alguns panfletos ali sobre um show. - Você conhece essa banda? - Ela olha para mim e me dá um sorriso.
- Conheço, é a minha banda. Nós tocamos toda sexta. - Assinto.
- Hum... Legal. - Continuo analisando o panfleto pensando em mais alguma forma de puxar assunto com ela. - Então... Você sempre gostou de café? - Que merda de criatividade, Faye.
- Nunca gostei. - Riu. - É só um trabalho, ganho dinheiro aqui enquanto os shows não dão muito lucro.
- Entendi. - Sorrio.
- E você deve ter um emprego sério, né? - Yoko provavelmente se refere as roupas que eu estou usando, estou de social.
- Sou escritora.
- Não parece escritora.
- Bom, eu escrevo para o jornal. Jornalistas precisam ser meio sérios.
- Será que já li algum livro seu?
- Ah não, eu... Escrevo mais como freelancer, colunas em jornal ou coisas assim. - Ela me encara por um momento. - O que foi? - Pergunto interessada por sua reação.
- Nada, é que você não é uma cliente típica. Mas isso não é ruim... - Seus olhos percorrem todo meu corpo e param nos botões desabotoados da minha camiseta por um momento, e voltam a olhar-me nos olhos. - Na verdade é até bem sexy. - Surpreendi-me com sua investida repentina, aquela mulher parece ter todas as regras de cor para conquistar alguém, mesmo mantendo o rosto inocente. - Prazer, meu nome é Yoko.
- O meu é...
- Fern. - Me interrompe enquanto se afasta e olha para trás para dizer: - Não vou esquecer dessa vez. - Dá seu costumeiro sorriso simpático e então se vai.
Meus olhos voltaram-se novamente para os panfletos onde está o local do show que acontecerá naquela mesma noite. Pego um deles e o guardo em minha bolsa. Termino o último gole da minha bebida e saio do café. Essa foi a primeira vez que eu interagi de verdade com Yoko Apasra e algo me dizia que esta não será a última.
💌
Se gostaram, votem e comentem bastante, isso me incentiva a continuar😊
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vício (FayeYoko)
FanfictionFaye Peraya é uma psicóloga de 30 anos e mãe solo dedicada, que tem o hábito de se envolver profundamente com seus casos. Faye chega ao ponto de usar um outro nome, "Fern", para conhecer Yoko Apasra, a ex-namorada de seu paciente Folk. Yoko, uma ba...