Capítulo 23

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Fang POV

Acordei com o despertador tocando e respirei fundo. A preguiça me impediu de levantar imediatamente, então apenas me sentei na cama para não dormir novamente. Me espriguicei e olhei em volta, percebendo um feixe de luz saindo da janela em direção ao calendário presente em meu quarto. Ao olhá-lo com atenção, percebi que aquela data era um tanto... Marcante em minha vida.

Havia se passado exatamente um ano desde que fui sequestrado e quase perdi minha mãe. Desde aquele dia, nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Até então, eu nunca tinha me visto numa situação tão desesperadora quanto ter uma arma apontada para minha cabeça e ouvir disparos que por sorte não causaram danos fatais... Pelo menos não para as vítimas.

Falando em vítimas, também fazia quase um ano que vi Yoko pela última vez. Ela não se despediu de mim para ir embora, apenas me deixou um bilhete dizendo que foi um prazer me conhecer e que sou um garoto incrível. Entendi que, para ela, ficar ao lado da minha mãe tornou-se uma tarefa árdua, mas na época também sentia que ela precisava de apoio, por isso insisti tanto para que ela ficasse em nossa casa. Ela sentiu as mesmas dores que eu, talvez por isso nossa conexão tenha sido tão rápida.

Quanto a minha mãe e a mim, nossas vidas meio que viraram de cabeça para baixo. Yoko conseguiu convencer os policiais de que Folk teve um surto, e decidiu descontar sua raiva nela, a ex, e em sua ex-psicóloga. No entanto, omitiu detalhes que poderiam prejudicar minha mãe no trabalho. Embora isso tenha sido benéfico, minha mãe sabia que continuar atendendo pacientes não seria ético depois de tudo que aconteceu. Ela parou por um tempo e iniciou tratamento psicológico, assim como eu.

Eu, diferente do que tentava demonstrar, também tive sequelas do que houve. Sair de casa me deixava tenso, a todo momento sentia que alguém estava me observando e tive algumas crises por conta das lembranças que tinha daquele dia. Eu escondi o máximo que eu pude, minha mãe já estava se culpando o suficiente. Mas é claro que ela percebeu e fez de tudo para resolver. Hoje já me sinto melhor, consigo sair sem me preocupar tanto e lido melhor com essas lembranças.

Minha mãe passou a compreender melhor as razões por trás de suas ações, mas a culpa ainda a assombrava. Conversamos sobre isso, ela me contou com mais detalhes a história do surgimento de 'Fern'. Me disse que se tornou 'outra pessoa' não porque estava insatisfeita com sua vida, mas sim porque estava insatisfeita com ela mesma. Disse que a situação se tornou maior a cada dia e quando se viu apaixonada por Yoko, não conseguia mais sair. Confesso que ouví-la falando daquela maneira sobre outra mulher foi surpreendente para mim, mas é óbvio que a apoiei assim como ela mesma fez comigo.

Minha mãe evita a falar sobre essa história, falamos em momentos muito específicos. Percebo sua vergonha em relação a tudo que aconteceu. Além disso, posso estar errado, mas perder Yoko também a machucou muito. Acredito que minha mãe ainda sente muitas coisas por ela, e por isso não quer falar sobre isso. Sinto falta do sorriso que iluminava o rosto dela no tempo em que estava com Yoko em segredo.

Inclinei meu pescoço para o lado e para o outro e então decidi levantar de uma vez, afinal se eu demorasse mais um pouco atrasaria para a escola. Fui até o banheiro, tomei um banho rápido e me vesti. Em poucos minutos eu já estava pronto para tomar café da manhã. Saí do quarto com minha mochila nas costas e desci as escadas, já sentindo o cheiro gostoso e característico de uma coisa que eu amava:

- Panquecas! - Falei assim que cheguei na cozinha, chamando a atenção da minha mãe que se virou sorrindo.

- Especialidade da chef aqui. - Ri e larguei a mochila para ir abraçá-la. - Bom dia, meu amor.

- Bom dia, mãe. - Abri um sorrisão para ela, que me correspondeu.

- Filho, arruma a mesa que já estou terminando aqui.

Vício (FayeYoko)Onde histórias criam vida. Descubra agora