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Estou no planeta T600, junto com minha curiosidade e minhas perguntas. é o primeiro que visito que tenha gente, mas são todos quadrados, penso, inocentemente desapontado, principalmente os homens, cabeças com quatro centímetros de largura, e cinco de espessura. Terá aqui alguém que me possa me revelar para onde vão as estrelas? Mas eu não sei minha casa, então como essas pessoas saberão onde é.

— Você pode me levar a casa? – perguntei a um menino sentado debaixo da Maceira, ele está... sem emoções, penso. Dedico um minuto o examinando. Manifesta, ele, um olhar curioso quando me nota. E levanta-se rapidamente.

— De onde você é? – indaga, eufórico. – Eu posso te levar a minha. – Acrescenta.

— Das estrelas. – Digo.

— Onde ficam as estrelas? Quer ir a minha casa?

— É o que eu vim saber! – ele acomodasse no chão, o chão é esverdeado, muito esverdeado, noto, o que me faz pensar que aqui está tudo raquiticamente cuidado, na medida certa e no tamanho certo, e vou junto a ele e me sento.

— O que você faz aqui sozinho?

— Mas eu não estou sozinho, estou com meus irmãos. – Olho a volta e não consigo ver ninguém, então penso que ele esteja sozinho demais e isso o terá custado a sanidade mental.

— Você está sozinho. – Eu afirmei.

— Você acha? – ele olhou devagar para as arvores, era uma espécie diferente de carvalho branco, com poucos troncos e muitas folhas, talvez mais folhas do que troncos, muito mais folhas, é a única arvore com folhas rosas ao alcance, as demais, estão distantes demais, num campo de visão que não atinjo.

— Você está com ela?

Ele agachou-se e levou sua mão ao corpo de cada árvore que ele podia alcançar, e de outras plantas das quais não sei o nome, passou sua mão com afeto e delicadeza.

— Na verdade, você nunca está sozinho quando tem algo à sua volta, tudo pode ser o suficiente. – Ele declara corajosamente, enquanto joga a bola de plásticos quadrada para meus pés. – Nunca estamos sozinhos. – Assegura.

Ele me atinge. Será que ele também tem dúvidas? Penso, vagamente. Estou parado ainda, em sua mira, seguindo seu olhar, sua atenção, sua preocupação. Eu tenho dúvidas.

— Onde é a sua casa? – pergunto.

— É em todo o lado. Todo lado. Todo. O. Lado. – Ele diz, repetidamente, como se um eco o atravessasse no íntimo.

Venho de todo lado, conheço a maioria dos planetas habitáveis, posso afirmar que já até vivi em mais planetas do que o eu sigo. Conheci Tulipas, das quais sinto mais compaixão do que outros seres, flores, gentes quadradas e todas as variações de solidões.

De Onde Vêm As EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora