XIV

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Brilhando...

— Estou começando a brilhar. Estou começando a brilhar.

— Você está se tornando um sol.

— Mas o sol não é quente?

— Não é esse tipo de sol de que falo, Pequena Criatura.

Ele não sentia mais o vazio em seu corpo, por algum motivo, soubera que aquele era seu lugar. E então, todas as suas lembranças, vinham com mais delicadeza, maestria e de maneira sinfônica. E por fim, compreendeu que ele era uma estrela, não porque ele devia ser, mas porque todos são, mas poucos, muito poucos, conseguiam brilhar o tanto até virar sol. Afinal, é preciso que você faça as pazes com sua mente para que comece a viver.

Ele entendeu que havia iluminado todos os lugares que devia iluminar; aquela era altura de se iluminar a si mesmo.

Por fim, ele proferiu, suas palavras:

Venho das estrelas. E as estrelas não vem apenas do espaço como diz a física dos humanos, as estrelas, são uma espécie de coração, não, uma espécie de razão, uma razão que temos sem perceber, que precisa brilhar, que brilha quando chega sua hora. Não há instruções sobre como ser uma estrela, mas a cada caminhada, a cada solidão, dor, desesperança, em cada conversa, se prestarmos atenção, estaremos sendo preparados a ser uma estrela; uma que brilha de verdade, tão intensamente capaz de se tornar num pequeno, médio e grande sol.

Venho de todo lado, conheço a maioria dos planetas habitáveis no globo, posso afirmar que já até vivi em mais planetas do que a maioria dos viajantes de planetas em todo o espaço. Conheci várias gentes, amigos dos quais sinto mais compaixão do que eu considerava que sentiria um dia. Conheço também flores, pessoas quadradas, um crocodilo do qual passo a perguntar-me se terá conseguido achar a razão, uma avozinha anã que entende de auria, uma doninha que vive em uma pequena ilha, uma Rosa, e todos os tipos de seres possíveis – até pequenos peixes. Durante minha viagem, procurando respostas, aprendi a fazer a pergunta correta e a entender que as vezes, as respostas estão dentro de mim. A doninha que conheci, com mais manchas brancas do que pretas, mas que tem uma enorme fé na vida, quando você é uma doninha solitária, quando você é essa doninha, tudo o que se espera é que você procure motivos para viver, mas, você procura por um pra não morrer; ela tinha varias razões pra ficar viva. Nada é mais positivo do que saber que você nunca está realmente sozinho, e se de algum modo, real ou fictício, você for uma velhinha anã, seus ensinamentos podem mudar o rumo de qualquer história, a maneira como ela é contada e a maneira como ela termina; você nunca é velho demais, mesmo quando seus cabelos brancos começam a ficar pálidos, e que macieiras sabem o que é felicidade tanto quanto outros seres vivos. Que as vezes, só preciso mergulhar fundo na minha mente e deixar-me viver, porque tudo o que procuro, está, na maioria das vezes, dentro de mim. Nós não nos alimentamos de gentes.

Venho de todo lodo. De um planeta onde uma flor amava um pequeno príncipe da mesma forma que um homem ama outro homem. De um lugar, onde, tudo se transforma, até as solidões. Venho do mesmo lugar de onde vem as estrelas.

Terminou, assim, de escrever em sua lápide, e mais intensamente brilhou, recordando-se de tudo.

De Onde Vêm As EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora