VII

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Planeta ilha da Consolação 

Na terceira viagem, fui atrás do planeta das tulipas. Contudo, eu não lembrara muito bem como lá chegar, e por esse mesmo motivo, acabei perdendo-me num planeta com diversa água e pouca terra, com sorte, nadei sempre em frente até que fui parar em uma diminuta ilha; a Ilha da Consolação, estava sentando em uma encosta de terra uma pequena doninha. Aproximei-me, e, sem que ela percebesse, coloquei a mão. Mas ela não se sentira confortável e ficará chocada. E soltou um cheiro mau.

— Não se deve tocar no que não se sabe.

— Venho do lugar onde as gentes não se alimentam de gente. Você sabe para onde vão as estrelas?

Ela ficara curiosa. E sem me responder. E baralhada.

— Você tem alguma razão pra viver?

— Quem disse que precisamos de razão pra viver? – Ergueu-se e confortou-se sobe a duna.

— O crocodilo. – Revelei, cheio de motivação.

— E você tem alguma razão pra viver?

— Não sei.

— Pois então, nem sempre precisamos de uma razão pra viver. Às vezes, precisamos de uma pra não morrer.

— E qual é a diferença?

— Precisa de razão pra viver quem não vê gosto na vida. Precisa de razão pra não morrer quem estima a morte; aquele que acredita que a vida é melhor.

— Começo a entender...

— O que entendes, pequena criatura?

— Que você não sabe para onde vão as estrelas.

— Não, mas eu sei um montão de coisas também. Por exemplo, existe um planeta bem perto deste, muito parecido com este e por fora o mesmo verde tingido e os mesmos detalhes de área árida, porém, o que lhes distinguem, é o seu aroma.

Parei pra sentir e percebi que a Ilha da Consolação tinha um aroma de doces, ao mesmo tempo, de mel de abelha e de nuvens. Olhei ao redor, com atenção e vi a beleza da qual ela não queria perder, a qual era a razão pra não morrer. Era uma ilha redonda sobre uma água azul cristalina, pequenas algas fundo ao mar, separados à uma grande distância de pequenas, médias, grandes montanhas cobertas de hortícolas. E um espaço que permitiria que qualquer um nadasse.

— É muito lindo! – exclamei.

— É mesmo... neste planeta, nós não nos alimentamos de coisas, nos preenchemos com o que vemos. E nada mais que ver a natureza na sua mais bela forma; não existe algo mais confortador que isso.

Quis eu, contar a história da amiga que fizera durante essas últimas semanas. Mas no lugar onde tudo está completo; tudo demais acaba por ser destruidor. E fiquei quieto, enunciando algo que era uma música;

— Tum-tum, tum-tum-tum, tum-tum, tum-tum-tum.

— O que é isto que proferes?

— Melodia...

— Que significa?

— Que não estou sozinho. Me lembra que sempre posso dar uma volta e olhar p'ra trás ou que posso sempre seguir em frente; mas, se me perder ( sempre me perco), terei alguém p'ra me ajudar a levantar.

— Hum! – gemeu a doninha, soltando, desta vez, um aroma mais bonito, e permitindo que eu a alcançasse com minhas mãos.

— Há uma diferença entre o odor de a pouco e este.

— É que também há uma diferença entre o ser que julgava conhecer e este que conheço agora. – respondeu.

Olhei, sorrindo, para a doninha. Estava começando a compreender.

Venho de todo lado, conheço a maioria dos planetas habitáveis, posso afirmar que já até vivi em mais planetas do o que eu sigo. Conheci Tulipas, um cordeiro e um papagaio, os quais sinto mais compaixão do que outros seres, flores, pessoas quadradas, um crocodilo do qual passei a sentir muita estima, e todas as variações de solidões. Sei também que precisamos de uma razão pra viver. Mas quando sua vida é agradável demais e você vive em uma ilha de consolação, vai precisar mais de motivos pra morrer do que pra viver; porque a vida é suficientemente boa. Você não se deixara tocar por quem não te conhece, deixara que eles te conheçam para que te toquem.

De Onde Vêm As EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora