Capítulo 14 - Summer: A cidade do inferno, quer dizer, dos anjos.

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POV Rhaenyra.

Antes do sol nascer, saímos da caverna. Sem a escuridão da noite, pude finalmente ver que estávamos naquele terreno árido característico de Nevada. Por uma graça muito divina, achamos a estrada principal e conseguimos uma carona até Las Vegas.
Como sempre, Daemon não conversou muito, parecia estar até mais pensativo do que o normal. Devo admitir que ao contrário dele, eu tagarelei o tempo todo junto com Rhaenys. Era uma forma de distrair a mente e não deixar que o desespero me tomasse. Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que eu temia, no fundo, não conseguir ser capaz de lidar com tudo.

Em Las Vegas, Rhaenys e Daemon roubaram um carro. Ao que parecia, Laena deu algumas aulas de como enganar alguém enquanto o seu parceiro estava fazendo a ligação direta no carro da pessoa. Eu me sentia mal por isso. Digo, é um dos mandamentos, certo?
Pessoas iam até presas por causa disso! Mas Rhaenys me consolou dizendo que era apenas um empréstimo por uma boa causa. A garota foi dirigindo, Daemon ia esticado no banco traseiro com o rosto virado para a parte de trás do carro. Estava tão quieto que eu só poderia presumir que estivesse dormindo.

  — Estou preocupada. — Rhaenys comentou do nada. — O Daemon não gritou ainda, isso é estranho.

  — Ele só deve estar pensando na vida. — dei de ombros, sabendo que parte disso era culpa minha, por causa de meus discursos de garota sonhadora. — Na verdade isso não seria uma coisa boa.

  — Nem sempre. — ela deu de ombros — Ao menos eu sei que ele está bem quando fica ameaçando e brigando com os outros. É a forma dele lidar com tudo isso.

  — Eu sei. — respondi em total compreensão e a fitei de perfil, já que o seu olhar ainda continuava na estrada. — Como vocês dois se conheceram? No acampamento?

— Não, antes disso. Na verdade, ele que me levou até lá. — Rhaenys sorriu, mas não era um de seus melhores sorrisos. — Dae salvou minha vida anos atrás. Sabe aquele lance de fogo que eu fiz? Vamos dizer que eu não descobri aquilo do melhor jeito. Acabei incendiando minha própria casa e fugi depois disso. Estava dormindo na rua e sendo perseguida por monstros quando Daemon me encontrou. Fugimos em um Pégaso, então eu não demorei em acreditar nessa loucura toda.

  — Ele tem esse jeito todo durão, mas no fim sempre acaba salvando as pessoas. — ri baixo, chegava a ser irônico.

  — Sim. — Rhaenys  suspirou e remexeu incomodada no banco. — Sabe, minha irmã menor estava em casa. Eu consegui salvá-la, mas... Parte de seu rosto hoje tem uma cicatriz de queimadura. Minha mãe não me expulsou de casa, mas não era mais a mesma coisa. Eu a via e me sentia culpada, então vinha o medo de que alguma coisa acontecesse de pior. Ela poderia ter morrido e seria a minha culpa.

  — Claro que não, Rhaenys! — segurei firme no braço dela — Você deveria ser só uma criança que não sabia nada do que estava acontecendo.

  — Não, não sabia. Mas no fim, isso não importa muito. Meu pai é o deus da forja, mas também do fogo. Dizem que os filhos que recebem a benção das chamas são meio que azarados demais.

  — Bem, eu vivo tropeçando e esbarrando nas coisas. Isso é ser azarada demais. Você só teve uma infeliz circunstância, Rhaenys, um acidente. Não irá se repetir, até porque você treina para isso, não é?

  — Claro, desde que entrei no Acampamento Meio-Sangue praticamente vivo lá. Preferi dessa forma, era mais seguro — ela fez uma pausa antes de continuar — Mas e você, Nyra? Qual sua história?

  — Não é tão emocionante assim. — dei de ombros - Confusões, tropeços aqui e ali... — soltei um suspiro discreto e engoli em seco — Meu pai morreu quando eu tinha sete anos. Ninguém sabia direito como explicar como e o porquê. Agora eu me pergunto se foi por um monstro ou coisa assim.

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