Capítulo 34 - Autumn: O monstro devorador.

35 3 2
                                    


POV Daemon.

Fazia quase uma hora que estávamos no Mar de Monstros e eu poderia dizer que era um dos lugares mais esquisitos para estar. Aquela tempestade durou cerca de quinze minutos apenas, cedendo lugar apenas para um clima com forte ventania. Laenor teve de lutar contra as correntes de ar para manter o curso que Sabitha ditou. Eu tinha de admitir, para conseguir fazer aquilo devia ter sido muito difícil, mas em nenhum momento eu vi Laenor hesitar ou fazer cara feia. Porém agora o cenário era completamente outro. Era uma total calmaria, mal passando uma brisa ou tendo ondas no mar.

O oceano parecia mais um enorme lago tedioso. Aconteceu apenas um ataque pelo ar, uma águia gigante selvagem que não demorou a se afastar quando percebeu que eu era um filho de Zeus. Águias eram um dos animais que representava meu pai.

— Deveríamos ter trazido algum jogo. — Laena comentou ao meu lado entediada.

Estávamos no topo do mastro principal, sentados no vigia onde tínhamos uma visão privilegiada do luar e do mar estranhamente calmo.

— Eu estava esperando monstros aparecendo a torto e a direita. — admiti frustrado — Acho que o plano é nos matar pela falta do que fazer.

— Se for parar pra pensar, morrer de tédio é uma morte muito ruim. — Laena fez uma breve careta.

Ri baixo achando graça do teor de nossa conversa. Inclinei o corpo vendo lá embaixo os outros semideuses circulando pelo barco. Rhaenyra estava ao lado de Agnes e Sabitha, o trio parado na proa do navio.

— Daemon, o que é aquilo? — Laena cutucou o meu ombro.

Desviei o olhar encarando o horizonte a nossa frente. Franzi o cenho tentando entender o que a filha de Hermes estava se referindo, até finalmente ver algo que parecia algumas rochas se erguendo nas águas e começando a formar ondas.

— Está se movendo? — perguntei incerto do que estava vendo.

A formação de ondas começou a aumentar e um vento mais forte passou por mim, seguindo de um calafrio que me deixou totalmente em alerta. Isso não era bom sinal. Toquei no ombro de Laena antes de pular do posto de vigia do mastro e começar a cair para o navio. Manipulei o ar para pousar suavemente sobre o chão de madeira, seguindo rapidamente em direção a Sabitha e as outras na proa.

— Tem algo mais a frente. — avisei em alerta — Não sei o que é, mas parece rochas e está agitando o mar. Aliás, não estou com bom pressentimento.

— Agnes, você consegue ver algo? — Sabitha perguntou um pouco tensa.

Não era a toa que a Sabitha era a melhor arqueira. Ela tinha uma visão apurada, que dava um alcance maior do que o normal desse sentido, além de ter uma mira quase impecável. Eu nunca a vi errar um alvo, mesmo que estivesse muito, mas muito distante.

A filha de Apolo se inclinou um pouco sobre a grade e franziu o cenho concentrada. Ao mesmo tempo, as ondas e as correntezas pareciam aumentar exponencialmente. A sensação era de que o navio estava sendo, pouco a pouco, arrastado em direção as rochas que se moviam. Levou quase um minuto completo para Agnes se mover, afastando bruscamente da grade com uma expressão que me deixou ainda mais tenso.

— Está se movendo! — Agnes confirmou e olhou para Sabitha. — Os dois monstros da Odisseia, qual era o nome?

— Ah eu li sobre isso! — Rhaenyra falou levemente empolgada por saber de algo. — Cila e Caríbdis!

Meu sangue gelou completamente. Como inferno ninguém tinha pensado na possibilidade de encontrar Cila ou Caríbdis? Eles eram os monstros que representavam o limite do Mar de Monstros! Não tinha como fugir, ou você encontrava um ou outro. Se der muito azar e for mesmo o seu destino morrer, você pode escapar de um e encontrar o outro.

EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora