1- De volta à Hawkins.

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S/N P.O.V

Eu dei um suspiro frustrado ao observar todas as caixas que estão espalhadas pelo chão do meu quarto.

Hoje é uma quinta-feira, e já está no final da tarde. Eu não estou me sentindo nem um pouco animada, porque amanhã a minha família e eu estaremos voltando para a cidade de Hawkins, em Indiana. A minha cidade natal. Outras pessoas poderiam acabar ficando felizes por voltar ao lugar onde nasceu, mas eu não.

Eu levantei um pouco a barra da minha camiseta de manga comprida, fazendo a tatuagem 002 aparecer. Tanto esse, quanto outros motivos pelos quais me fazem não querer voltar para lá. Eu passei anos sendo tratada feito um rato de laboratório, sendo submetida a todos os tipos de experimentos que você possa imaginar. E eu sempre fui torturada durante todos os dias desde que nasci, e abusada também.

Fora que desde que eu consegui fugir, não houve apenas um dia em que eu consegui dormir durante a noite toda sem tomar calmantes fortes, ou sem ter pesadelos. Por sorte, as minhas mães e minhas irmãs se tornaram a minha maior rede de apoio. Ter sido acolhida, e amada por essas três foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo. Após a minha adoção, nos mudamos para o Brasil e moramos aqui por cerca de uns sete anos.

Porém, agora teremos que voltar, já que as minhas mães receberam novas ofertas em seus empregos, que lhes pagarão muito melhor. E segundo elas, essa mudança não será permanente. Só iremos ficar por lá só até elas conseguirem juntar dinheiro suficiente para comprar uma casa. Então, é por uma boa causa.

Eu acredito que terei sérios problemas para me adaptar a uma nova escola, pois é quase impossível eu conseguir me enturmar, muito menos fazer amizades. No laboratório, era normal que todas as crianças usassem camisolas como aquelas que os pacientes usam nos hospitais, eu acho que isso facilitava na hora dos experimentos. O fato é que isso fazia o meu órgão ficar aparente na maioria das vezes. Ninguém queria ficar perto de mim, ou brincar comigo a não ser a Onze, ela era legal. Nós fugimos juntas, mas acabamos nos separando. Eu acabei indo parar em uma delegacia, enquanto ela sumiu na floresta. Sendo assim, eu desenvolvi fobia social.

Eu era taxada como aberração e, era espancada diversas vezes por um garoto que se achava o rei dali. Sem contar as vezes em que as câmeras foram desativadas, dando passe livre aos seguranças para que fizessem o que bem entendessem comigo.

Eu fui despertada dos meus pensamentos sombrios por duas batidas suaves na porta do meu quarto, que em seguida foi aberta bem devagar. Era a minha mãe Chloe.

- Oi, filha. - minha mãe murmurou, sorrindo levemente. Eu sorri de volta. Ela entrou no meu quarto e depois fechou a porta atrás de si. - Você já terminou de arrumar suas coisas?

- Eu acho que sim. - eu respondi, e por instinto olhei para o meu guarda roupa - agora vazio - que estava com todas as portas e gavetas abertas.

Apesar dos traumas, os anos que eu passei neste país foram os melhores de toda minha vida. Eu não tenho do quê reclamar. Tive a sorte de ganhar uma família que realmente me ama e não me abomina pelo que eu sou. Às vezes parecia até ser um sonho de tão bom.

Eu sei e entendo que nós estaremos mudando por uma causa maior, e que também me envolve. Mas, estava tudo indo tão bem. E eu sinto que ir para lá não trará coisas boas. Até porque, todas as coisas ruins que aconteceram comigo foram naquela cidade, e vai ser doloroso voltar para lá.

- Você sabe que todas aquelas coisas não vão acontecer novamente, não né? - minha mãe me questionou, provavelmente já imaginando por onde a minha mente divagava alguns segundos atrás.

- Como você sabe? - eu perguntei, e me sentei na minha cama. Minha mãe se sentou ao meu lado em silêncio. - Por favor, não tente me dar esperanças de que tudo vai dar certo. Eu estou com tanto medo, mãe. - eu pedi, sentindo as lágrimas começarem a se formar em meus olhos.

Minha Outra Metade. (Max Mayfield/You G!P).Onde histórias criam vida. Descubra agora