✥𝐀𝐲𝐚𝐧𝐧𝐚 𝐘𝐨𝐠𝐢✥
Não sei se é sorte ou azar. Mas não vejo Cal muito frequentemente, ele tem uma agenda um tanto cheia. As vezes tem que lidar com tropas então sai do Palacete por um tempo. E não posso conversar muito com Maven, já que ele é irmão do meu noivo e a corte tem uma tradição boba de que rapazes e moças nobres não podem ficar muito a sós, dizem que seria tentador.
Por isso, passo a maior parte do dia com a Titanos, não conversamos muito para ser sincera. Mas é bom saber que não estou sozinha aqui. Passei praticamente a vida inteira sozinha em um castelo, por mais que eu tinha Maggie, nossos horários de aulas nunca batiam. Então eu ficava só. Talvez eu consiga me aproximar dela, visto que convivemos juntas a um tempo.
Eu sei que ela esconde algo, só não sei o que. Minha intenção não é descobrir isso na verdade. Se é algo que está sendo escondido significa que o propósito é eu não descobrir. Mas suspeito de que Cal e Maven saibam do que se trata. Mareena não fala muito, mas quando fala as palavras saem sem pensar. Até que ela é meio engraçada.
Eu gosto bastante das aulas de Julian. Mas geralmente ele leva Mareena para um segundo cômodo e vai intercalando de sala em sala conosco. Ele me ensinou muito mais coisas sobre mim e meus poderes do que todos os meus outros professores que já me deram aula. Isso sem comentar da Lady Osanos e suas aulas esquisitas, onde eu sempre levo banhos.
Hoje, Julian me liberou mais cedo. Disse que tinha algo importante para ensinar a Mareena hoje, e precisava usar a sala inteira. Então me dispensou, resolvi dar uma volta no jardim. Mas justo hoje, e justo agora a chuva começou a cair. Decido que a opção mais inteligente seria voltar ao castelo. Mas me deparo com uma figura caída no chão chorando como uma criança. Mareena.
Quando vou me aproximar, dois sentinelas chegam antes. Um deles coloca a mão no braço dela, sem mostrar um pingo de respeito com a situação. Ela pede para saírem mas não fazem nada. Porque ela não tem poder aqui, acabou de entrar na corte. Vou lá o mais rápido possível.
— Vocês não ouviram Mareena por acaso? Podem ir, por favor.
Um deles relaxa a mão do ombro dela e me olha. Assim como o segundo. Ele ajustam as posturas antes de falar comigo.
— Sinto muito. Mas as ordens que recebemos foram de assegurar que Lady Titanos cumpra sua agenda. Assim como você, Lady Yogi.
— Nem os pétreos são feitos de pedra a ponto de não terem sentimentos. Garanto que assim como eu, Lady Titanos cumprirá suas obrigações. Agora que já fizeram o que precisavam. Podem ir. — eles claramente entendem a mensagem. Não podem ignorar. São ordens da futura rainha.
— Muito bem. Estamos indo então. Tenham um ótimo dia. Com licença.
E assim eles deixam o local. Não acho que seja uma boa ideia eu ficar também. Talvez Mareena deva ficar um pouco sozinha agora, talvez ela queira.
— Obrigada, Lady Yogi. — ela murmura quando vou dar meia-volta.
— Sem problemas. Aya já está bom. Mas, tem chuveiros lá dentro, e a sala da Lady Osanos. Caso queira um banho.
— Primeira chuva da estação. Não podia perder.
— Te entendo, sabe? — ela sabe que não estou falando da chuva ao dizer isso.
— Não diga como se soubesse o que eu sinto.
Não diga como se soubesse o que eu sinto. Ela não sabe como é ter que suportar uma vida inteira de mentiras, não ter o direito de expressar o que sente e mais muitas regras prateadas tolas.
— Você acha que não sei como é ser forçada a estar aqui? Com esse tipo de gente?!
Olho em volta, para garantir que ninguém esteja ouvindo. Mas só é possível escutar os sons de trovões.
— Tive que me preparar para isso desde pequena. Perdi minha infância para essa merda de Prova Real. Enquanto as outras crianças brincavam eu tinha aulas sobre política. Por causa de adultos sem noção tive tudo que qualquer criança merecia. E agora não mudou, tenho que sustentar as mentiras deles. Forçar um sorriso mais falso que o outro. Não tenho direito de expressar o que sinto. Não posso rir, não posso chorar. Sempre fui privada de tudo que eu queria. Ninguém nunca deu a mínima para o que eu queria ou sentia. Sabe a quanto tempo não vejo minha família? Mesmo elas estando debaixo do mesmo teto que eu, não tenho permissão de visitá-las. E isso não é nem metade de tudo.
Ela pisca refletindo com o que falei. Sinto uma pontada de arrependimento. Não poderia ter contado nada disso para Mareena.
— Desculpa, eu não poderia ter te contado nada disso. É melhor eu ir.
— Tudo bem. É bom saber que não sou só eu que me sinto assim aqui. Eu acho que devo voltar para a aula.
— Eu também devia, mas não vou. Acho que seria bom você ouvir o que Maven irá te falar. Talvez ele ajude com o seu problema.
— Meu... problema?
— Caso esteja preocupada, eu não faço a mínima ideia do que seja. Mas sei que alguma coisa está te incomodando agora. Acho que Maven sabe. E consigo ver ele sair da porta do Palacete rumo ao nosso local. Por isso, já vou indo. Até amanhã, Mareena. — consigo dar o meu melhor sorriso de conforto para ela, que olha para trás e vê Maven ao longe.
Tenho certeza de que ele conseguirá ajudar ela. Maven sempre foi bom em entender o sentimento dos outros. Até mesmo os meus. Só não tenho certeza se ele consegue compreender os dele.
Tudo que comentei com Mareena é verdade. Eu não tive infância, mal sei o que é ser criança. Meu futuro foi decidido a partir do momento do meu nascimento.
Quando meus pais estavam vivos era tudo mais fácil, não que eu conseguisse ser criança, mas eles sempre davam um jeito de me distrair quando o clima ficava ruim. Mas os únicos momentos em que eu realmente descansava era quando visitava Maven e Cal, eles conseguiram me fazer rir sempre, até que fui proibida de vê-los por conta de Elara. Depois da morte dos meus pais , quem cuidou de mim foi minha avó. E foi uma fase bem difícil para todos, ela se isolou. Então as coisas ficaram difíceis para mim também. Eu nunca brinquei de faz de conta, boneca, pega-pega. Nem sei brincar na verdade, mas foi nessa vida em que nasci e é nessa em que vou viver.
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Silver Queen
Fanfic𝐄m um país denominado de Norta. Existiam dois tipos de sangue. Prateado, cujo as pessoas desse tipo possuíam diferentes tipos poderes, eram os nobres poderosos. E também existia o sangue vermelho, pessoas comuns que serviam os prateados. 𝐌are Bar...