"A questão não é, eu não me decidir, se ligou?
Tu não me deixa claro o que é que cê quer também
como é que eu vou adivinhar?
Assim fica difícil pra nós dois."
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— Nós somos Aquela mina e Aqueles Caras e hoje tentaremos descobrir quem é o endividado. Cinco participantes, quatro impostores e apenas um que está com o nome sujo na praça. Será que conseguimos acertar? Vamos descobrir. — Beltrão falou lendo no celular e nós nos posicionamos para gravar.
Gravamos o vídeo e estávamos prontos para começar o outro, quando o celular da Letícia começou a tocar sem parar em cima da mesa, ela desligou a chamada umas duas vezes e eu me sentei, pronto pra começar a gravar, mas meu celular tocou. Eu desliguei e ele tocou de novo.
— Alô? — atendi passando a mão pelo meu bigode, descendo pro cavanhaque.
— Boa tarde, estou falando com Francisco? — a voz feminina se fez presente.
— Depende, quem é que tá falando? — franzi o cenho, já achando que era alguma fã maluca, que tinha conseguido meu número de novo.
— Me chamo Kaylane. Kaylane Mendes. Deve se lembrar de mim, eu sou a assistente social que acompanhou seu pedido de adoção junto com a Letícia. Eu tentei ligar pra ela, mas sem respostas. — arregalei os olhos.
— A-ah, claro. Só um minuto. — engoli em seco pegando uma garrafinha de água.
— Ok.
Apoiei o celular em cima da mesa e tirei o microfone de mim.
— O que tá fazendo? Ou melhor, o que cê pensa que tá fazendo? — Luzia me perguntou e eu reparei que todo mundo me olhava, mas nem consegui retribuir.
— Cadê a Letícia? — quis saber baixinho, minha voz falhando.
— To aqui. O que houve? — ela se aproximou de mim.
— Luzia, atrasa uns 15 minutos, por favor. Só 15, a gente já volta. — pedi. Peguei meu celular, a garrafa de água e a mão da Letícia, puxando ela pra fora do estúdio. — Alô? — tirei o celular do mudo e coloquei no viva-voz.
— Oi, Francisco.
— O que tá acontecendo? — Lele me perguntou com o cenho franzido.
— Acende. — pedi entregando um cigarro pra ela e bebendo a água.
— Você está junto da Letícia? — a assistente social perguntou.
— Sim. — concordei baixinho e soltei a fumaça pro lado oposto dela.
— Então, eu liguei porque o sistema avaliou o perfil de vocês e achamos uma criança que é de acordo com a que vocês queriam. Eu sei que faz muito tempo, mas quando vocês quiseram dar início a adoção, sabiam que era demorado. Quero saber se ainda estão dispostos a adotar. Eu faria uma visita a vocês, para ver a situação em que estão vivendo e lhes falar mais sobre esse assunto. O que acham?
Lele levantou o olhar pro meu, com os olhos arregalados e a boca entre aberta. Eu entendia ela. Isso já faz anos, desde que tomamos essa decisão.
— Olha, eu posso ligar pra vocês amanhã, nesse mesmo horário, pode ser? Dar um tempo pra vocês pensarem. É uma mudança pra vida toda e ainda tem o susto, depois de tanto tempo né. — Kaylane riu fraco.
