Helena Queiroz
Dois atrás...
A sala de gravação era um turbilhão de sons. Baixos profundos, batidas frenéticas e a voz rouca de Juca ecoavam pelas paredes, criando uma atmosfera vibrante e intensa. Mas, por mais que tentasse me concentrar na música, meus pensamentos insistiam em vagar por outros caminhos.
Na noite anterior, Rafael havia batido à porta do meu quarto no hotel. Meu primeiro amor, o garoto que me fez sentir a paixão pela primeira vez, estava ali, diante de mim, com aqueles olhos castanhos que me hipnotizaram por tantos anos e ainda mexiam com meu coração. Me perguntou se o havia esquecido. A pergunta me acertou como um soco no estômago. Eu não sabia o que responder e nem queria responder, porque eu o amava de todas as maneiras existentes neste mundo, mas não queria amar. Apenas pedi que se retirasse.
Fazia um ano desde aquele beijo. Que me fez acreditar que, talvez, correspondesse aos sentimentos que sempre nutri por ele. Mas, em seguida, partiu para a Califórnia, para viver com sua namorada, assim tirando a melodia da minha vida. E eu, como uma tola, ainda o amava e acreditava nas promessas do meu coração, que sempre alimenta da esperança de que um dia poderemos ficar juntos. Sussurrei para mim baixinho, com os barulhos do estúdio.
- Eu não vou ser como meu pai!
Desde aquele dia, meu violoncelo permanecia encostado no canto do meu quarto, coberto por uma camada de poeira. Ele era meu coração fora do peito. A música, que antes era minha maior paixão, havia se transformado em uma fonte de dor. A cada vez que olhava para aquele instrumento, me lembrava de Rafael e de tudo que não gostaria de ser. Uma patética violoncelista eternamente apaixonada por seu vizinho.
A melodia que Juca estava gravando era bonita, mas não conseguia me emocionar. Sentia como se estivesse ouvindo tudo através de uma névoa, distante e indiferente. A verdade é que meu coração ainda pertence a Rafael, mesmo que soubesse que era impossível que fosse meu.
Olhei para Juca, que cantava enquanto acompanhava a gravação. Ele era um homem incrível, talentoso e atencioso. Mas, por mais que gostasse dele, faltava algo. Faltava aquela melodia, aquela conexão única que ouvia quando vê Rafael.
Suspirei profundamente e fechei os olhos. Talvez fosse hora de aceitar que algumas coisas simplesmente não são destinadas a ser. Talvez fosse hora de seguir em frente e encontrar a minha própria felicidade. Mas, por enquanto, tudo o que conseguia sentir era uma profunda tristeza.
Saímos do estúdio, Juca queria muito ver a disputa de Rafael, mas criei inúmeras desculpas. Depois de curtir um momento musical na praia, fomos para um bar onde estavam reunidos seus amigos para verem o grande momento do skatista Ávila. Quando ele subiu na rampa, lindamente com seu estilo e tatuagens. Ele dominou, Juca e os amigos vibravam com as manobras perfeitas. Até que em impulso, ele fez um movimento novo, nunca visto na história do skate. Ele quebrou a banca, Juca gritou. Como esperado, a vitória foi para a estante dele. Na entrevista, quando questionado sobre o movimento, simplesmente disse:
- Criei essa manobra para uma pessoa muito especial na minha vida. Ela se chama sinfonia perfeita. Keite me olhou.
Meu coração está se alimentando. Saio para fora do bar, para tomar um ar fresco, e fazer meu coração parar de bater. Minha amiga Keite se aproxima.
- O que está pegando, Helena. Olhei para o céu.
- Esse coração maldito insiste em me contrariar. Ela sorri.
- Talvez seja melhor deixá-lo bater, minha amiga. Você sempre o amou! Passo o braço no seu ombro.
- Vamos entrar para encontrar nossos namorados. Keite rir.
- Você é doida. A manobra foi para você, sabe disso, Leninha.
- Não sei de nada. Vou pedir para Juca criar uma rima para a namorada dele, euzinha!
Estou deitada na cama, depois de fazer amor com Juca. Gosto da forma como ele me toca, mas ainda não me sinto completa. O reencontrei na faculdade, não sei como ele se apaixonou por mim, então, estamos juntos. Não queria vir para Califórnia, porque tinha medo de ter uma recaída. Vou reprimir esse sentimento até o fim. Repito para mim mesma: não amo mais Rafael Ávila.
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Flip para o amor
Romance✨Um amor guiado por melodias e por manobras da vida. Será que é possível reverter uma manobra mal realizada? Será que uma melodia já toca é possível ouvi-la novamente? Vamos conhecer a história de Helena Queiroz e Rafael Ávila, duas pessoas totalmen...