Helena Queiroz
Meu coração batia como um tambor quando me aproximei do portão da mansão dos meus pais. A casa, imponente e elegante, parecia mais viva do que nunca. Aquele lugar havia sido palco de tantas alegrias e tristezas, mas agora, ao voltar, sentia uma paz que há muito não experimentava.
Afinal, eu estava de volta. De volta à minha casa, de volta à minha família e, principalmente, de volta à vida que havia deixado para trás. E, para minha surpresa, de volta aos olhos do homem que nunca consegui esquecer.
Toquei a campainha e esperei ansiosamente. A porta se abriu e um dos funcionários da casa me recebeu com um sorriso.
— Boa tarde, senhorita Helena. Sua avó vai ficar muito feliz em vê-la. Meu coração acelerou.
— Vovó!
Corri pelos corredores da casa, guiada pela voz calorosa do funcionário. Ao chegar à sala de estar, vi minha avó sentada em uma poltrona, sorrindo para mim.
Corri para seus braços e a abracei com força. Ela era mais frágil do que da última vez que a vi, mas seus olhos brilhavam de alegria ao me ver. Beijou meu rosto repetidas vezes, sussurrando palavras de carinho.
— Minha neta, que saudade senti de você! A família toda vai adorar saber que chegou.
Sentei-me ao lado dela e conversamos por horas. Ela me contou sobre a vida na casa, sobre os novos projetos da família e sobre o quanto sentia falta de mim. Falou sobre João Vitor, o bisneto que enchia a casa de alegria com suas melodias no violino.
— Ele nasceu para tocar, Helena. Quando Yuri, Keite e João voltaram da visita que te fizeram na Suécia, vocês tocaram juntos. Foi lindo ver os vídeos!
Sorri ao ouvir falar de meus irmãos e de minha melhor amiga. Tinha tanta saudade deles. Garanti à minha avó que João Vitor tinha um futuro brilhante pela frente.
Três horas se passaram e já estava impaciente. Queria ver meus pais, meus irmãos, Keite... Afinal, todos eles faziam parte da minha vida e da minha história. Levantei-me e caminhei até a escada.
— Vocês demoram demais, sabiam? Gritei, com um sorriso no rosto.
A casa se encheu de vozes e de passos apressados. Meus pais, meus irmãos, Keite, todos correndo em minha direção. Abracei cada um deles com força, sentindo uma felicidade que há muito não conhecia.
A emoção tomou conta da mansão Queiroz. Rimos, choramos, relembramos histórias antigas e fizemos planos para o futuro. Aquele reencontro foi tudo o que sempre sonhei nestes últimos anos. E, ao olhar para Rafael, que me observava com um brilho nos olhos, tive a certeza de que a vida estava me presenteando com uma segunda chance.
A mesa do jantar estava farta, repleta de risadas e conversas animadas. Contei para a família sobre minha experiência em Gana e sobre os últimos três anos na Suécia, dedicados à minha especialização em música. Todos me ouviam com atenção, fazendo perguntas e comentando sobre cada detalhe.
Senti um aperto no coração ao lembrar que não pude estar presente no casamento do Yuri com a Keite, nem no da Beatriz. Mas, ao ver a felicidade nos rostos deles, me senti grata por fazer parte da vida de cada um.
— Vovó, a senhora não tem ideia de como o João Vitor toca violino! Exclamou Yuri, com um brilho nos olhos.
— Ele usa a sala de música com muita frequência. Completou minha avó, sorrindo.
— Ótimo! Agora tenho companhia para tocar. Comentei, animada.
— Tia Helena, podemos tocar juntos? Perguntou João Vitor, os olhos brilhando de entusiasmo.
— Claro que sim! Respondi, sorrindo. Que tal tocarmos um som no quintal, como fazia antigamente?
João Vitor saiu correndo para pegar seu violino, enquanto eu fui buscar meu violoncelo. Caminhei pelo jardim, sentindo a brisa fresca em meu rosto. Aquele lugar havia sido palco de tantas memórias felizes.
— Senti muita falta desses momentos, Helena. Disse meu pai, se aproximando de mim.
— Eu também, pai.
Chegamos ao fundo do jardim e nos posicionamos sob a sombra da velha árvore. João Vitor se colocou ao meu lado, ajustando seu violino. Fechei os olhos e comecei a tocar uma melodia familiar. O som do meu violoncelo se misturou com o som suave do violino de João Vitor, criando uma harmonia perfeita.
De repente, ouvi uma voz familiar me chamando: “Helena, você voltou!”. Olhei para cima e vi uma de nossas vizinhas na janela de sua casa. Abri um sorriso e continuei tocando, sentindo a música me envolver por completo.
Deslizei meus dedos pelas cordas do violoncelo, sentindo cada nota. A música me levava de volta a momentos especiais, a lugares distantes e a pessoas que amava. E, principalmente, me levava de volta para Rafael.
Olhei em direção à mansão Ávila e vi uma sombra se movimentar na janela do quarto dele. Era ele. Meu coração acelerou. Tinha certeza de que ele estava me olhando.
Ao terminar de tocar, abri os olhos e encontrei o olhar de Rafael fixo em mim. Senti uma onda de emoções me invadir. Aquele momento era mágico, único. Tinha a certeza de que, dessa vez, tudo seria diferente entre nós.
Deitada fico pensando neste dez anos longe do Brasil. Depois de cinco anos com voluntária na África, resolve estudar música para agregar no meu trabalho como fisioterapeuta. Neste período um poema me acompanhou durante esse período de amadurecimento emocional. Resolvo caminhar pelas ruas do condomínio para ver se consigo dormir. Com o fone no ouvido, estou me deliciando com o poema.
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Flip para o amor
Romance✨Um amor guiado por melodias e por manobras da vida. Será que é possível reverter uma manobra mal realizada? Será que uma melodia já toca é possível ouvi-la novamente? Vamos conhecer a história de Helena Queiroz e Rafael Ávila, duas pessoas totalmen...