✨ Melodias adormecidas✨

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Helena Queiroz

A aula de fisioterapia seguia monótona, as palavras do professor ecoavam em meus ouvidos como um murmúrio distante. Meus olhos, no entanto, estavam fixos no celular, que vibrava insistentemente no bolso da minha calça. Uma notificação. O coração acelerou. Era Rafael.

"Saudades de você, Lena. Te amo."

A mensagem era curta e direta, mas carregada de um peso que me deixava inquieta. Ele estava em Balneário Camboriú, lutando contra um câncer, e todos os dias me enviava mensagens dizendo que me amava. Eu as lia, uma a uma, e as apagava em seguida.

A imagem do meu pai biológico, sofrendo pela  ausência e abandono de Margareth, me assombrava. Ver alguém que mal conhecia me causar tanto sofrimento, me fez entender que não queria mais sentir a dor de ser abandonada novamente. Muitas pessoas esquecem das lembranças de sua infância, mas a minha ainda está intacta em minha mente. Depois do meu último encontro com minha mãe biológica, tudo se intensificou dentro de mim, principalmente com a declaração de Rafael. Todas as vezes que o encontro esse amor ressurge das profundezas do meu coração, me despertando para sensações que me proibido sentir.

Rafael, assim como Margareth, era egoísta. Ambos me abandonaram de alguma forma, e eu não estava disposta a passar por isso novamente. Eles eram duas faces da mesma moeda. Pessoas que buscavam o próprio bem-estar, sem se importar com as consequências de seus atos. Eu não queria mais me envolver com alguém que me causasse tanta dor. Encontro com Keite na lanchonete da universidade. Enquanto comemos, fico imaginando o quanto ele deve estar assustado com essa doença. Antes tão ativo com seu Skate, agora estava preso a uma cama de hospital, tentando fazer uma manobra contra o câncer.

- Ele enviou mensagem novamente?, perguntou Keite. Levanto meus olhos.

- Sim. Vou bloqueá-lo. Digo mexendo na comida do meu prato.

- Tem certeza, Helena?, exclamou minha melhor amiga.

- Sim. Não quero esse amor na minha vida. Estou muito bem com Juquinha. Ele me ama. Digo firmemente.

- Mas você não o ama, pronto falei! Pare de mentir para si mesma. Está com o coração doendo de não poder ir ficar com ele no hospital, sei bem disso.  

- E daí, Rafael é a cópia exata de Margareth. Os dois por causa de fama e glamour fazem qualquer coisa, se me ama tanto, mas namorou anos a Berenice. Keite, entenda, posso amá-lo, mas não quero ficar com ele. Empurro o prato nervosa 

- Calma, só acho que vai se arrepender se algo acontecer com ele, depois não diga que ninguém avisou e outra coisa eles não as mesmas pessoas. Ninguém é igual a ninguém. Ela volta a comer. Me levanto.

- Vou para minhas aulas agora à tarde. Tchau. 

Caminho pelo corredor da faculdade com as lembranças do nosso passado juntos, me assombravam. Os momentos felizes, as cartas, tudo parecia tão distante agora. Mas a verdade é que o amor que sentia por ele era apenas uma ilusão. Uma ilusão criada por uma menina que sonhava com um final feliz. Um amor de adolescência, de uma garota gorda, negra e emotiva que se apaixonou por um garoto popular da sua vizinhança.

Respirei fundo e tentei me concentrar na aula. Mas a mensagem de Rafael continua ecoando em minha mente. Sabia que ele precisava de mim, mas também compreendia que não podia ceder. Precisava me proteger, proteger meu coração. Ao final das aulas à tarde, apaguei a última mensagem de Rafael e bloqueei seu número. Era hora de seguir em frente.

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