"sentiu saudades, mi amor?"

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Acordei no dia seguinte com uma grande dor de cabeça, é isso que acontece quando se passa quase uma noite inteira chorando.

Levantei do sofá e assim que fiz isso me xinguei mentalmente por não ter tido forças de ter ido deitar na minha cama, a dor nas costas após dormir de mal jeito no móvel não colaborava em nada. Ninguém me avisou que sofrer uma decepção amorosa era doloroso não só mentalmente, mas também fisicamente.

Fui andando até meu banheiro e quando olhei no espelho quase tomei um susto. Estava com grandes olheiras a baixo dos olhos, meu cabelo estava bagunçado e meu rosto ainda inchado por conta do choro. Ainda não consigo acreditar que ele teve a cara de pau de vir até minha casa.

Confesso, senti uma pontada de vontade em meu coração de perdoá-lo, quando o vi ali, afirmando que me amava. Não é fácil assim deixar de amar alguém, por mais que o sentimento dele não fosse verdadeiro, o meu era. E vê-lo em minha frente, pedindo para voltar, me fez notar que sou mais fraca do que pensava e realmente não podia ficar perto dele até meu processo de superação passar.

Me peguei pensando no nosso tempo juntos, os últimos meses não foram os melhores mas tivemos momentos bons, nos divertimos juntos, eu me dava bem com sua família e a filha dele me adorava, mais uma razão para meu coração doer. Tinha me apegado a aquela pequena e seria bem difícil superar isso, talvez eu estivesse mais triste em me desfazer da família dele do que dele próprio.

Segurei nessa ideia, se na minha cabeça eu afirmasse que só estava mal pelas pessoas que conheci por conta dele, seria mais fácil de me convencer que nunca o amei de verdade.

Era uma grande piada, era claro que eu o amava. Se não, não estaria pensando em nossos momentos juntos e não teria pensado na possibilidade de uma volta na noite anterior. Chega! Não posso ficar muito tempo nesse apartamento sem ver gente diferente, se não realmente vou acabar cedendo aos meus pensamentos idiotas e isso não pode acontecer.

Naquela tarde, o time do meu irmão iria jogar e ele tinha me convidado para assistir. Só tinha um detalhe: Sou uma Flamenguista doente e nunca, nunca mesmo gostei do palmeiras.

Apesar da minha família ser paulista e meu avô ter doutrinado eu e meu irmão a torcer pelo time alviverde, nunca consegui sentir conexão com o time, diferente do meu irmão, palmerense desde pequeno. Foi quando nosso avô nos levou a uma partida, que seria contra o time carioca, Flamengo, que senti o que era emoção de verdade em meio ao esporte.

Até então, pensei que só não gostava de futebol, mas isso mudou quando vi o time Rubro-Negro em ação. Naquela partida, que terminou em empate, virei para meu avô e disse na cara dele a maior decepção de sua vida, "Vovô, descobri! Vou torcer pra esse time vermelho aí."

Meu avô era nossa inspiração, quando ele infelizmente faleceu, foi o único momento da minha vida em que ousei usar a camisa de outro time que não fosse o meu. Vesti uma das camisas do palmeiras que ele mais gostava, ainda guardo ela em meu guarda-roupa, uso em todo aniversário dele, como uma homenagem ao homem que me ensinou a amar o esporte, não da forma como ele queria, mas mesmo assim ensinou.

Meu amor pelo meu avô me fez ceder ao time alviverde e agora, meu amor pelo meu irmão me fez mandar mensagem para Maitê, avisando que iria buscá-la em casa e iríamos juntas ao jogo.

Fui logo tomando banho para me arrumar, acordei tarde devido ao dia anterior e não gostava de chegar muito atrasada nos jogos. Tomei um longo banho premium, com direito a lavar meus cabelos e fazer uma rápida hidratação enquanto escutava música, coisa que sempre me animava no banho. Não sei ao certo quanto tempo passei ali, mas quando acabei, minhas mãos estavam até enrugadas pela água. Pelo menos minha cara estava mais apresentável e eu também estava me sentindo melhor.

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