Kazuki
Estou levando Miri para a escola, às vezes eu esqueço que ela já tem quinze anos! Não entra na minha cabeça, sei lá, dá vontade de parar o tempo e abraçar a garotinha que eu e o Rei adotamos há tantos anos atrás, inclusive, ele deve estar dormindo agora, em um quarto que não é dividido comigo, isso me incomoda tanto, moramos na mesma casa temos uma filha e não podemos dormir na mesma cama? Não acho justo e nem coerente, todos já acham que somos casados mesmo! Não faria mal se realmente fossemos.
--Papai, você está com aquela cara de estressado de novo. --Miri chama minha atenção, me fazendo tentar forçar uma cara calma.
--Desculpa, Miri! --Digo voltando a me concentrar mais no trânsito.
--Estava pensando no papai Rei de novo? --Ela suspira como se fosse a coisa mais previsível de todas.
--É que não faz sentido! --Reclamo com cuidado para não bater o carro.
--Pai, como vai acontecer algo entre vocês se você não admite que sente algo? --Pergunta impaciente, acho que ando desabafando demais com minha filha.-- Não é como se ele fosse abrir a boca para falar de relacionamentos, por sinal, o papai Rei já beijou alguém na vida?
--Olha, Miri, se ele beijou, eu não quero saber não, prefiro acreditar que os únicos cantos que a boca dele já encostou tenham sido minha comida e sua testa.
--Mas papai, ele deve ter beijado alguém na adolescência, todo mundo beija alguém quando adolescente! --Ela retruca.
--A gente está falando do seu pai, aquele que quase não sai de casa, vivia no sofá jogando videogame, você está falando que esse cara beijou alguém na adolescência? Ele deveria ser mais tímido ainda! E um bocado de gente não beijou na adolescência, você é um exemplo.
--Eu sou? --Ela pergunta meio baixinho mas eu consegui ouvir.
--Como que é a história, senhorita? --Pergunto parando o carro.
--Papai, fica tranquilo, você até conhece ele, é aquele lá que virou meu amigo na creche, mas com ele foi só uma vez!
É tão errado assim assassinar alguém? Talvez sumir com a existência de alguém... É tão errado?
--Um segundo, com ele? E como assim "com ele foi só uma vez"? --Pergunto meio assustado.
--Nossa, pai, acho que a gente já está bem perto da escola, não acha? Vou andando agora, até mais tarde! --Miri fala e sai do carro antes que eu possa falar qualquer coisa.
Em que momento ela cresceu tanto!? Está até... Beijando garotos! Meu Deus, será que eu estou exagerando? Ou não, vai que ela foge de casa para ficar com ele! Aí depois nunca mais volta e só iremos nos ver em datas tipo o natal e só nos falaremos pelas redes sociais para mandar "Feliz aniversário!!" E coisas assim e... E eu acho que talvez eu precise de terapia.
Tento me desligar dos meus pensamentos e volto à rua em caminho nossa casa, espero que o Rei ja tenha dado algum sinal de vida, já deixei umas torradas e um suco pronto para caso ele acordasse e eu ainda estivesse na rua, já que as vezes eu decido de última hora ir no mercado ou algo do tipo e eu tenho medo dele tentar cozinhar e se intoxicar e eu ter de levar ele para o hospital, ou ele colocar fogo na casa e acabar com queimaduras tão graves e eu tenha que levá-lo ao hospital.
Estou começando a considerar a hipótese de eu ser meio paranóico.
Em uns dez minutos eu chego em casa, vejo ele dormindo no sofá com uma coberta em cima dele, sai tão rápido de casa com a Miri que nem notei que ele dormiu aqui em vez do quarto dele, já que agora ele tem um e não dorme mais em uma banheira.
Me aproximo dele e tiro o cabelo do seu rosto, as vezes sinto falta do antigo corte de cabelo, quando íamos trabalhar ficava tão lindo! Mudava até de DNA, mas ele de cabelinho solto é muito fofo.
--Kazuki? --Diz pegando minha mão que estava nos seus cabelos. --O que está fazendo?
--Desculpa! Estava só tirando da sua cara.
--Ah, tranquilo. --Diz e se senta, se espreguiça e me olha. -- Já deixou a Miri na escola? --Pergunta ainda sonolento.
--Acabei de voltar de lá. --Digo me sentando do seu lado.
--Deu tudo certo?
Penso em falar que a Miri já teve o seu primeiro beijo, mas o Rei costuma ser mais assustador com esse assunto do que eu, então melhor não, vai que ele caça o garoto.
--Deu sim.
--Ótimo, já volto, vou comer algo e ir no banheiro.
--Certo. --Suspiro.
O Rei está mais estranho que o normal nos últimos dias, pode até ter sido impressão, mas eu acho que não, tenho certeza que algo mudou, ficamos tão mais próximos depois que adotamos ela, ele inclusive começou a ser bem mais responsável! Mas nas últimas semanas eu sinto que ele está incomodado ou com raiva de mim, fala comigo só para saber da Miri, não que isso seja um problema, é bom ele se preocupar com a nossa filha, mas não sei, parece que voltei a ser só seu parceiro de trabalho, eu estou odiando isso.
--Ei, Rei! --Digo indo até cozinha que é onde ele está comendo.
--Que foi? --Diz sem me olhar na cara, só está prestando atenção nas torradas.
--Deveríamos sair nós três mais tarde, o que acha? --Sugiro, afinal, ele pode apenas estar meio sobrecarregado com as coisas do nosso negócio.
--Não, temos que cuidar do restaurante e a Miri tem que estudar.
--Hoje é sexta! Ela pode estudar amanhã, e eu posso colocar um aviso nas redes sociais que vamos fechar hoje por motivos pessoais. --Dou um sorriso.
--Kazuki, precisamos do dinheiro, não somos mais ricos. --Diz quase terminando de comer.
--Fala sério, Rei! Um dia não vai fazer mal, vai ser até bom!
--Não.
--Então o que tal amanhã? --Falo quase desistindo.
--Eu saio com a Miri amanhã. --Termina de comer e se levanta.
--Ótimo! Então vamos. --Sorrio.
--Você fica aqui. --Ele fala tirando o sorriso do meu rosto.
--Por que eu ficaria? --Cruzo os braços indignado, com certeza ele está estranho.
--Sei lá, vai que acontece um roubo no restaurante.
--Não é com isso que você está preocupado, inclusive, escolhemos essa área da cidade por ser mais segura para criarmos a Miri e seguirmos com nossa vida, nossa família, você simplesmente está com uma birra de uma criança de oito anos por alguma besteira que eu fiz e você não quer me contar.
--Está sendo paranóico de novo.
--Você literalmente recusou de todas as formas possíveis sairmos em família, só me fala o que eu fiz para eu tentar não repetir. --Me aproximo um pouco dele.
--Kazuki, você não fez nada, agora licença, vou ao banheiro. --Sai, e em nenhum momento dessa conversa ele olhou para mim, para minha cara, nada!
Sério, que merda é essa? Ele ficou doido do nada? É óbvio que eu fiz alguma coisa! Será que eu dei comida vencida para algum cliente ou para ele? Esqueci a Miri em algum lugar? Não, acho que isso não, afinal, acabei de deixar ela na escola! Mas algo eu devo ter feito, não é normal essa atitude dele... Já estou começando a me estressar! Vou colocar uma música nos meus fones e cozinhar alguma coisa para mim e ver se me acalmo, o Rei não escuta nada que eu falo quando estou irritado pois isso o irrita.
Mais tarde eu resolvo tudo, a Miri as vezes o entende melhor.
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Temos de tudo, não? | Kazurei • Rei e Kazuki • Buddy Daddies
Fanfiction~ ❤️Sinopse ~ Kazuki e Rei moram juntos com sua filha Miri, e por algum motivo, razão ou circunstância, não são um casal, porém, não é como se Kazuki não quisesse. •Não creio que será uma fanfic muito longa. •Aviso no fim da fic•