Happy Birthday

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  Em uma tarde chuvosa, porém com o sol à mostra. Lyrilvy navegava pela internet em busca de algo para passar o tempo. A casa estava quase vazia devido aos afazeres dos demais membros. Buscando uma forma de tentar ajudar no avanço do grupo, Lyrilvy decidiu procurar por casos em que pudessem trabalhar.
  Lyrilvy era um gato branco de olhos castanhos escuros. Vestia uma camisa preta de manga longa que caia até os dedos, uma calça moletom cinza, sapatênis pretos e um colar de lua prateada. Normalmente usava uma máscara branca e lisa com vidros fumê na região dos olhos.
Após buscar por umas horas, Lyrilvy encontra alguns casos estranhos que lhe chamaram atenção.
— Esses podem ser interessantes — Ele diz meio desanimado enquanto se recosta na cadeira olhando o monitor. Ele se levanta ao mesmo tempo que se espreguiça — Talvez eu devesse… — Lyrilvy olha para o calendário próximo a porta. Faltavam alguns dias para o aniversário de seu irmão. Ele então procura Mordecai, que estava em seu escritório.
Eai Mordo, tem um tempinho? — Lyrilvy fala enquanto entra, fechando a porta com sua cauda. Mordecai olhava a chuva pela janela enquanto sentia a brisa fresca em seu rosto — Vou presumir que sim... É o seguinte, eu preciso visitar um parente meu por esses dias, pois é o aniversário dele. Eu deixei uns três casos salvos na pasta compartilhada, mas eu não achei eles tão interessantes assim olhando de cima — Lyrilvy da de ombros.
  Mordecai se afasta da janela e se senta na poltrona do escritório com os dedos juntos sob o peito e olha para o gato de relance com o olhar cansado.
  Sobre a mesa diversos documentos e livros sobre criminologia e psicologia estavam espalhados juntamente a alguns perfis de criminosos que se destacavam num círculo vermelho em espiral, parecendo o sol. A sala possuía um vermelho forte destacado e detalhes em dourado com um lustre e algumas lamparinas nas paredes. Um incenso com cheiro de carro novo tornava o ambiente aconchegante. Apesar disso, uma aura pesada também preenchia o local, ao que tudo indicava, pelas olheiras de Mordecai, ele passou a noite lendo os livros e arquivos de cada um dos agentes na estante.
— Recomendo apenas tomar o devido cuidado Vy, acho justo que você passe um tempo com a família — Mordecai era um lobo negro de olhos vermelhos. Cheirava a perfume de tulipas e vestia um terno ciano com blusa social e gravata azul, uma calça jeans preta e confortável, sapatos marrons simples e um relógio em forma de sol, possivelmente referenciando amaterasu, com contorno dourado nas chamas e de prata no interior onde ficam os números, um encaixe marrom de couro, que estava bem apertado, marcando um horário enquanto o som se alastrava em meio ao silêncio.
— Você por acaso dormiu ontem? — Lyrilvy se senta na janela enquanto tira sua máscara, apreciando a chuva. Seu rosto parecia distante.
  Mordecai boceja e levanta a cabeça estufando um pouco o tronco e o peito enquanto levanta as orelhas e abre o corpo deixando as mãos abertas em cima da mesa.
— Você sabe que nós estamos passando por tempos difíceis — Diz Mordecai em tom monótono mas interessado — Digo isso porque deixar a guarda aberta e permitir uma só brecha de vulnerabilidade pode colocar em xeque a diferença entre uma vitória e uma derrota. Aquelas pessoas estão esperando um porto seguro — Diz Mordecai abrindo as mãos em direção a sala de estar — Nosso trabalho é impedir que outros precisem passar pelo inferno e sofrer nas mãos dos vândalos. Como a ideia partiu de mim e convidei vocês, meus admiráveis companheiros — Ele mostra uma carta preta em selo dourado com assinatura — Devo garantir uma imagem forte e que ninguém se machuque, estou disposto a dar a vida por essa organização.
— Eu entendo isso. Mas não se esqueça, exausto você não poderá fazer nada, vê se cuida da sua saúde totó — Lyrilvy se inclina para trás, pondo sua máscara novamente, caindo pela janela.
  Mordecai volta seus olhos para a mesa, enquanto pensa sobre o que foi dito.
  Após alguns segundos Lyrilvy entra novamente, um pouco molhado e com um travesseiro em mãos.
— Eu esqueci de trancar meu quarto — Ele joga o travesseiro em Mordecai — Usa isso ai pra descansar valeu. Até a próxima.
  Mordecai olha confuso para Lyrilvy mas aceita e pega o travesseiro, encostando sua cabeça iniciando seu sono polifásico.
  Lyrilvy segue para seu quarto e arruma suas coisas em sua mochila impermeável. Descendo as escadas, ele se encontra com Manske, que fechava seu guarda-chuva.
— Saudações.
— Saudações.
  Ambos se cumprimentam enquanto mantêm seus caminhos.
— Você vai sair sem nada? — Manske pergunta ao ouvir o abrir da porta.
Uhum, eu quero curtir um pouco a chuva.
  Ele seguiu sem pressa até a rodoviária, enquanto sentia a chuva cair sobre si. Por estar totalmente molhado, Lyrilvy busca um local para se trocar antes de pegar o ônibus.
  Em meio a multidão que corria de um lado para o outro em seus compromissos, um grupo de pessoas se reunia em frente ao restaurante Chameleon to lion sussurrando inquietos. Uma raposa vermelha de olhos verdes, usando um sobretudo marrom, colete de suéter azul acima de uma blusa social, calça azul e sapatos marrons escuros, sacava uma flauta e começava a tocar.
  Uma luz forte ilumina o pequeno palácio que se abre revelando pequenos camundongos traçando vestes reais. A plateia observa a coreografia dos ratos que iniciam uma espécie de baile. Um par romântico, o príncipe de Aragão e a princesa de Britânia se apaixonam e após a morte de uma criança pela outra família da realeza um confronto de tiros é iniciado e os ratos gritam horrorizados. Parcerias começam a ser feitas e com o enfraquecimento das famílias surgia uma penumbra.
— Será que poderia ser possível? — Diz a raposa de forma melódica — Aquilo que era tão aprazível despertar tamanha matança?
— A criatura bestial surge e os territórios são devastados — Diz abrindo os braços posando — Os urubus da história um inimigo natural surge.
  As luzes se desviam para a criatura de papelão revelando um gato demoníaco e o som de miado feroz soa da pequena caixa.
— Tudo acabou-se, os russos abominavam a minoria dos ratos — Continuou pegando um e colocando no seu ombro — Com repulsa das doenças que na realidade era provocada por pulgas, infelizmente seus reinos e espécie foram quase erradicadas do mundo.
— Agora eles vivem como um povo sem estado — A raposa coloca um chapéu — Gostaria de pedir o mínimo de sua contribuição para ajudar os ratos de Gales.
  Virando-se observando as pessoas seus olhos se focam em Lyrilvy, que passava meio a multidão, notando seu colar de lua. Ele acena gritando em alto som enquanto as pessoas colocam o dinheiro em seu chapéu.
— Venha cá você meu caro bichano! — Diz se curvando levemente — Vamos conversar ali dentro aqui está muito movimentado.
— Bichano? — Lyrilvy observa em silêncio enquanto mantém o passo — Hmm, acho que posso me trocar no banheiro do restaurante — Pensou ele enquanto ia de encontro a raposa.
— Deseja alguma coisa? — Lyrilvy diz enquanto passa entre as pessoas, que se afastaram ao sentir o toque frio de suas roupas molhadas.
  Ele se apoia nos ombros dele e chega próximo dos ouvidos do gato sussurrando.
— Sou um novo membro da OA, o Doutor Mordecai me mandou entregar isso a você — Ele mostra uma página aparentemente em branca que ao ser iluminada por uma luz negra revela uma série de códigos desconhecidos.
— Pode me chamar de Sr. Esposito, a comida fica por minha conta desta vez — Disse em voz mansa se afastando e entrando no restaurante.
  Ao sentar numa das mesas de prestígio que alugou, pede aquilo que é do agrado do paladar do Lyrilvy, que se trocou no banheiro colocando as roupas molhadas em uma sacola guardando-as em sua mochila, juntamente com a página e luz. O garçom, um antílope, ao colocar um vinho na mesa faz Espositos salivar um pouco e encher seu cálice colocando para dentro.
— Vocês devem ser realmente próximos para ele me mandar ficar do seu lado — Diz enquanto mordisca os aperitivos de pães — Fiquei encarregado disso, mas tenho quase certeza que ele mandou você ficar de olho em mim como sou novo — Disse olhando para o teto se abrindo na cadeira.
— Entendi… — Lyrilvy diz enquanto levanta levemente sua máscara, para comer suas duas mil-folhas de brigadeiro com crocante de chocolate belga e mousse de maracujá com ganache — Já que vamos ser amigos me fala um pouco de você.
— Eu sou um agente da FSB — Diz Sr Esposito mostrando seu distintivo enquanto encara o vazio da máscara a sua frente — Meu pai é de origem Italiana, já minha mãe é russa o'que faz de mim um russo também por ter nascido naquele território inóspito
— Abrindo as mãos sob a mesa e se inclinando na direção de Lyrilvy vira o pescoço observando agora com mais atenção o colar de lua — O doutor Mordecai tem algo parecido, não é mesmo? — Diz a raposa curiosa — Sou um refugiado de guerra, com essa moradia e salário poderei sustentar meu filho. Infelizmente muitos produtos andam sendo descartados ultimamente — Diz dando uma garfada no macarrão a bolonhesa que acabou de chegar com carne de ovelha.
Ele retira de seu sobretudo, uma imagem de crianças gatos violentadas enquanto um monte de corpos está jogado do lado de fora dessa instalação de pesquisa.
— Mesmo com as novas fórmulas para super soldados...eles dizem que agora só passa de material do passado — Esposito limpa seus lábios com o lenço e começa a murmurar alguma coisa antes de retornar ao foco.
  Lyrilvy olha a foto em silêncio enquanto saboreia seu prato.
— Perdão, não ouvi o que disse agora há pouco.
— Quis dizer, e você meu jovem o'que faz de bom? — Diz Esposito recebendo mais um prato com coxas de coelho.
— Sei. Eu me chamo Lyrilvy, caso não saiba — Ele pega o colar por um momento — Sim, o Mordo possui um deste, o que me lembra que ainda não comprei a estrela — Ele termina seus pratos e pede uma macarronada com carne moída e omeletes — Vamos para Walthynox nos próximos dias, já esteve por lá? Aliás — Ele estende a mão, por poucos segundos é possível ver parte de seu nariz — Prazer.
— Notei que ele possuía um semelhante — Diz enquanto brinca com sua faquinha e come um espeto de galinha — Sendo honesto, nunca estive em Walthynox, sou novo nesse país. E prazer Lyrilvy — Sr Esposito se levanta e aperta as mãos nem muito apertado nem frouxo demais — Tenho certeza que nós vamos nos dar bem.
— Ele sorri levantando a sobrancelha levemente e se senta — Antes de se trocar sua aura parecia diferente — Diz olhando curiosamente para Lyrilvy — Espero que isso tenha aliviado minimamente seu cansaço da caminhada — Ele paga a conta e dá uma gorjeta de cinquenta reais para o garçom. Coloca a bolsa em seu ombro e vai para o banheiro escovar os dentes aguardando Lyrilvy na saída — Se precisar de ajuda com a mochila não hesite em pedir — Diz enquanto leva as pastas para o ônibus — Recomendo ver seja lá oque for isso na calmaria do ônibus esse tem ar ao que parece.
  Estando no ônibus, durante a noite, Lyrilvy faz uma pesquisa em seu celular, indo dormir em seguida. Em uma das paradas, para comer, Lyrilvy parecia esperar por alguém. Prestes a voltarem para viagem, um caminhão da Compras Livre chega, onde Lyrilvy recebe uma caixa e um saco.
— Era isso aí que você precisava ver?
— Isso mesmo — Lyrilvy guarda ambos após conferir seu interior — Por um momento pensei que tinha errado o time de entrega, vamos então? O motorista está esperando.
  Após dois dias de viagem eles chegam em Walthynox, durante o amanhecer, onde Lyril, seu irmão, o aguardava na estação. Lyrilvy pede para que Esposito fique de longe enquanto estivesse com eles e lhe dá o endereço de um hotel próximo a casa de seu irmão, tirando a máscara o avistar.
— Que cara de sono em — Lyril, um lobo, grita para Lyrilvy enquanto acena para ele.
— Olha só quem diz.
— Pois é haha, dormir nessa viagem não foi muito agradável. Como se tá guri?
— Com sono, mas bem. A mãe e o pai estão dormindo agora.
— Quando eles chegaram?
— Ontem a noite.
  Eles conversaram durante parte do caminho até a casa de Lyril. Era uma casa simples, localizada no alto da rua. Possuía três quartos, um quintal ao fundo e uma sala e cozinha de tamanho médio e uma garagem. Normalmente Lyrilvy ficava no quarto próximo a garagem, o que ele amava devido ao frescor causado pela altura  do teto e as paredes ligeiramente mais finas. Apesar de estar querendo se jogar na cama, Lyrilvy aproveitou o dia com sua família. Ao cair da noite ele não esperou muito para se atirar ao travesseiro, não tinha sensação melhor do que aquela.
  No dia seguinte os demais familiares chegaram, Lyril completava seus 20 anos.
Ow Lyril — Lyrilvy o chama antes de começarem a comer — Eu não tinha certeza do que comprar, se não gostar eu posso devolver — Ele diz enquanto entrega uma caixinha preta para Lyril.
— Vamos ver — Lyril diz enquanto a abre, revelando um colar de corrente prateada.
— Eu lembrei que você queria muito um desses quando era mais novo — Lyrilvy diz enquanto pega uma estrela prateada em seu bolso — Dependendo se você quiser usar pra combinar com o meu…
— Eu vou, obrigado — Lyril diz enquanto pega a estrela e encaixa na corrente.
  O dia se seguiu de forma pacífica, sempre que podia Lyrilvy tinha um bolo em mãos. Em meio às conversas, apesar de tentar evitar, eles perguntaram sobre seu trabalho.
— Você já está trabalhando? — Seu avô, um leopardo, pergunta ao ver uma brecha no silêncio momentâneo.
Uhum — Lyrilvy não desejava falar sobre isso, porém sabia que sem uma resposta não o deixariam em paz — Diria que é mais divertido que o anterior.
— Se faz o que? — Sua tia, uma onça pintada, pergunta.
— Eu meio que ajudo a encontrar pragas — Lyrilvy diz enquanto sorri disfarçadamente de sua resposta, guardando uma fatia de bolo para Espositos.
— Hum, eu achei que pra um gato você teria um trabalho diferente — Seu tio, uma raposa, comenta de forma seca.
— E de que eu deveria trabalhar então? — Lyrilvy não entende a princípio a intenção das palavras, mas não era primeira vez que ouvira comentários para apenas o ignorar desta vez — Ou melhor, o que iria agradar você?
— E pensar que iriam desperdiçar um produto de qualidade em tarefas de operários... tem sorte que a guerra acabou.
— … — Lyrilvy se mantém em silêncio enquanto lentamente pega um pouco de suco, seu irmão pensa em falar algo mas Lyrilvy o impede estendendo sua mão — Sabe, eu nunca disse nada por educação, mas se eu tive que ouvir então também irei falar — Ele toma o suco — Suas opniões para mim valem tanto quanto um caracol. A de vocês também — Ele aponta para alguns membros da família — Então só cale a boca, palhaço.
— EI LY-
— Nem tenta, já aturei muitos comentários idiotas de vocês pessoas que acham que me conhecem. Eu tenho algo chamado vida, talvez conheçam isso um dia. Se eu quiser seguir a vida de alguém sem vontade própria, eu volto pra…
  O ambiente fica quieto.
— Até lá, fiquem com seus pensamentos só em sua cabeça, ninguém gosta de lixo fora do lugar — Diz ele em tom calmo enquanto pega o pedaço de bolo que tinha guardado e vai até o hotel que Espositos estava hospedado.
Ow, lhe trouxe um pedaço do bolo — Lyrilvy diz no interfone.
— Olá Senhor! — A voz de Esposito é ouvida pelo interfone após uns segundos com tom animado — Obrigado por esperar, estava conversando com o Miguel no telefone, crianças quando começam a falar não param mais. Obrigado pelo bolo — Um click é ouvido e o portão se abre — Se não for muito incomodo gostaria que deixasse com o segurança.
— Por mim tudo bem, escuta… — Lyrilvy sente seu corpo gelado, era como se todo o som do mundo estivesse indo embora por um momento. Uma respiração de alguém e sons de luta podem ser ouvidos. Seu coração começa a bater involuntariamente como se tentasse te avisar que algo estava errado. O som de uma porta rangendo por algum motivo desconexo surge da floresta local. Olhando para ela, um olho aparece o encarando de dentro do arbusto, brilhante em branco, fechando e abrindo de maneira como se encarasse sua alma. Uma sensação estranha toma conta de seu corpo, como se seus sentidos gritassem que algo iria agir.
— Senhor? Ainda está aí?
— Ah, desculpe — Ele olha para a floresta novamente, não vê mais o olho, seu corpo está leve novamente enquanto sente o corpo ser aquecido pelo sol — A gente vai embora amanhã de manhã por volta das sete horas.
— Eu vou de carro até o ponto então a gente vê lá — Diz em tom animado — Qualquer coisa se quiser falar comigo só acessar o 403.
  Após deixar o bolo, Lyrilvy retornou para a casa de Lyril, apesar do clima aparentemente pesado, ele não parecia realmente irritado, mas cansado era inegável que estava, sua bateria interna já estava esgotada o suficiente para aquele dia. Apesar de tudo, ele aproveitou o dia junto de sua família, isto é, seus pais e irmão. Ao cair da noite, antes de dormir, tendo se despedido dos últimos parentes, ele pensa em examinar o papel que lhe foi entregue. A cada olhada dada era uma certeza em seu interior de que alguma coisa não estava certa. Pois em nenhum caso em que eles estiveram desde o início da OA Mordecai havia agido desta forma tão cautelosa. Sua mente se lotava de pensamentos enquanto olhava para os códigos.
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  Lyrilvy caminhava por um corredor escuro com sombras que se contorciam ao seu redor, cantando uma melodia estranha. O ar era pesado e carregado de um cheiro estranho.
— Isso é… novo — Pensou ele enquanto caminhava, se vendo de repente em um grande salão, onde as sombras criavam formas sólidas e dançavam entoando cânticos estranhos e incompreensíveis. Ele pensa em tomar uma ação, porém algo, como quando se sente a chuva se aproximando em um dia ensolarado, lhe dizia para não interferir.
  De repente, as paredes do salão começaram a tremer e se contorcer, como se estivessem respirando. Uma luz intensa e ofuscante irrompe do centro do salão, cegando temporariamente Lyrilvy, que, ao retomar sua visão, avista uma figura de olhos vermelhos o encarando de perto. Ela parecia imitar seus movimentos, talvez fosse um espelho? Não, a figura sorria a cada minuto que passava. Lyrilvy se afasta lentamente até que a figura avança repentinamente sobre si, explodindo em uma fumaça negra.
  Ao abrir os olhos, ele se vê no quarto novamente com a página e luz caídas sobre si. Ele se senta em silêncio e desliga a luz negra enquanto olha para os vãos da janela, verificando se o sol já tinha raiado, o que não era o caso.
— Parece que ainda não amanheceu — Ele coloca a página em seu bolso escondido abaixo de sua cauda. Ele vai até o quintal dos fundos, enquanto toma uma água, e pensa sobre o sonho que tivera. Mesmo para ele aquele tinha sido um sonho estranho — O que foi aquela visão no hotel? Esse sonho era fruto dessa alucinação? Não, não faria sentido eu só assistir. Aquila visão foi obra do meu estresse? Não, não estava tão estressado e nem estava calor o suficiente. Será algum efeito retardado dos experimentos? — Sua mente barulhenta cantava em seus pensamentos, ela de repente começou a doer. Durante o silêncio daquela madrugada, era como se sua alma estivesse em outro mundo.
  Seu pai, um lobo cinzento, o despertou ao chamá-lo quando se levantou durante o nascer do sol para se refrescar, o que era um hábito criado após anos de trabalho.
— Eu fiquei aqui até o nascer do sol? — Ele pensou voltando a si.
  Lyril e seus pais o acompanharam até a rodoviária. Espositos, vendo que ele estava acompanhado, se manteve a uma distância média, de forma que ambos se viam, entrando em contato de fato apenas no ônibus.
  Aguardando seu novo companheiro entrar no ônibus, Esposito observou Lyrilvy se despedir da sua família. A rodoviária estava mais calma que o normal, muito possivelmente pelo horário. Ao puxar sua carteira do bolso, tirou uma foto vintage onde era possível observar duas crianças em São Petersburgo em frente a uma loja de varejo. No canto inferior esquerdo estavam os dizeres V.D.C marcados na cor vermelha.

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