Happy Birthday part II

8 0 0
                                    

Afundando na flexível cadeira se deitou olhando para o teto enquanto aguardava pacientemente. Lyrilvy se senta enfim após ter se despedido, ele olha a foto enquanto se senta.
— Eu imagino que ainda não conheça a OA oficialmente, estou certo? — Ele pergunta após uns minutos revelando que estava ali.
  Ao notar sua presença, Espositos imediatamente guarda a foto, embora tenha sido pego de surpresa, e se vira para Lyrilvy.
— Sim, o Olho de Águia passa despercebido pelas maiores organizações atualmente — Diz enquanto gesticula fazendo um círculo com as mãos abertas — É como se fosse impenetrável, está disjunto e ao mesmo tempo permanece indetectável. Tive a sorte de conhecer o Doutor Mordecai nos mísseis de Cuba — Explica sorrindo um pouco, embora notavelmente desanimado — A retirada foi recíproca e nós nem precisamos interferir na negociação. O que eles esquecem de comentar é que a unificação não foi e provavelmente nunca será posta em prática — Diz enfaticamente — Me lembro de estar numa trincheira, como era exibido quis inventar de repetir o passado em meio ao caos, erro meu, claramente as granadas e os gases iriam matar metade do meu pelotão — Suas orelhas ficam baixas — Mordecai teve o bom coração de me salvar ainda que fosse do exército americano. Eu fui um fardo em combate — Confessa suspirando levemente — Depois disso, após anos de contato por correspondência, ele disse que desejava se encontrar comigo — Ele se vira para o palco vazio onde apresentou sua peça, enquanto os últimos passageiros entravam — Infelizmente eu perdi alguém importante naquele dia — Diz refletindo — Entrei nessa organização para cuidar dos meus e contribuir com a ajuda do Senhor Mordecai.
— Hmm — Lyrilvy se mantém atento às palavras de Espositos — Eu lamento por sua perda — Ele apoia seu cotovelo na janela olhando para a estrada — A OA é mesmo um lugar bem interessante, acredito que se dará bem com a maioria de nós.
  Durante a conversa o ônibus começa a andar um pouco mais e o motorista cita o painel para os interessados em assistir séries e filmes, lembrando que após o uso se deveria resetar para o próximo que utilizar. Espositos tira de sua bolsa um pequeno livro chamado “Uma chacina na vila”.
— Espero que sim — Diz um pouco centrado, mas olhando de relance — É o passado, ainda assim agradeço — Esposito tira um cobertor e cobre Lyrilvy diminuindo um pouco o volume do ar acima deles. Lyrilvy recusa o cobertão com sua mão.
— Não precisa não, eu gosto desse ar mais fresco, você pode usar se estiver com frio.
  Esposito se cobre enquanto se concentra em sua leitura.
  Durante os dois dias que se seguiram podia-se dizer que ambos começaram a se conhecer melhor, embora Lyrilvy não falasse tanto sobre si a princípio, estavam ficando próximos.
  Chegando em Ekhen Lyrilvy lhe mostrou um dos caminhos que usava para chegar em OA, após lhe mostrar de forma simples algumas partes da cidade, onde se dividiram. Após passar em uma sorveteria, Lyrilvy se encontrou com Lucca que estava correndo até a cidade.
— Opa, Lyril, achei que estivesse no quarto até agora — Ela pára em sua frente.
  Lucca era um leopardus tigrinus. Vestia uma camisa ciano escura de manga comprida sob um colete preto, uma calça roxa e tênis verde escuro.
— É sério que você achou que eu fiquei esse tempo todo no quarto?
— A vai saber, se deixar acho que você hiberna quando resolve dormir — Ela diz em tom cômico.
— Olha só quem fala — Ele dá um leve tapa em seu ombro — Por que está indo pra cidade?
— Tirei uma pausa pra ir comer.
  Na distância um ponto aparece em meio ao horizonte, uma coruja bufo-real pousa no meio de ambos e os observa com seus grandes olhos curiosos.
— Ora ora ora quem temos por aqui. Fiquei sabendo que você trouxe o novo membro.
— Você devia parar de assistir JoJo — Lyrilvy diz brincando.
— Olá Lucca — Diz ela abrindo suas asas — Achei que ainda estava trabalhando, você tem dado tudo de si atualmente.
  Priscila era uma Coruja Eurasian Eagle Owl de olhos castanhos e óculos redondos. Vestia um suéter rosa com coração vermelho e listras amarelas.
— Ultimamente tenho cuidado do serviço de espionagem por tempo demais — Diz um pouco ofegante enquanto guarda seus óculos em suas penas — Missões novas não param de chegar apesar de estar num ritmo menor. Nem tenho tido tempo para jogar futebol ou escutar minhas músicas — Ela bate em retirada até uma loja próxima olhando a tv — Não posso acreditar que nós perdemos feio…
— Nunca dê gasolina a um pássaro noturno — Lucca diz fazendo uma pose de pensador. Lyrilvy cruza os braços enquanto balança a cabeça.
— Quer saber dane-se — Ela diz retornando ao grupo — Prefiro ficar com meus doces. Aliás, oque vocês têm feito? Já que estou acordada em plena luz do dia não custa puxar papo com meus queridinhos — Diz um pouco debochada de modo brincalhão.
— Eu estava indo guardar minhas coisas, mas não me importo de almoçar com vocês — Lyrilvy responde apesar de comer alguns sorvetes.
— Que ótimo, então vamos logo que estou faminta, você vem Priscila? — Ela diz enquanto puxa Lyrilvy pelo braço.
  Priscila coloca um pirulito no bico e olha para trás por um momento e ao focar se une ao lado do grupo.
— Claro minha gente, estou faminta.
— Podemos ir às Delícias Patinhas, faz um tempo que ando querendo ir lá. — Lyrilvy diz enquanto se deixa ser levado por Lucca.
— Por mim, tudo bem — Diz dando de ombros — E você Lucca o'que tem feito de bom?
— Atualmente estou saindo de um caso entediante… Só quero descansar agora, foquei tanto nele que acabei me esgotando sem muita necessidade hahaha.
— Algum problema Pris? Você parece um pouco tensa — Lyrilvy diz a cutucando com a cauda.
— Ah, é que estou com saudades do Senhor Mordecai — Diz enquanto acompanha ambos — Ele anda ocupado demais ultimamente — Diz bicando os doces — Estou cheia de informações e os casos de morte por predação não param de aumentar. Nós somos um dos escândalos como sempre — Diz abrindo suas asas em negação — Mas aposto que não se compara a felinos como vocês. Sinceramente, essa gente acha que ainda vive na idade da pedra — Diz com um olhar carrancudo — Por causa disso que precisei me mudar de tão longe. Mas em compensação posso ficar à vontade na área de alimentação e assistir meus filmes em paz.
— Que bom né — Lyrilvy comenta.
Cof, desculpem meus maus modos, como foi a semana fora?
— Foi boa e ruim ao mesmo tempo, mas no geral boa — Ele baixa uma das orelhas enquanto aperta sua cauda — Senti saudades de vocês, não nos falamos muito ultimamente devido aos casos.
  Pris apalpa seu suéter e sente algo faltando.
— Então era essa a sensação que estava sentindo — Dizia enquanto ficava um pouco alarmada — Não posso acreditar que esqueci minha credencial. Vocês podem ir na frente, isso é de extrema urgência — Diz levantando voo — Quando estiver com meus documentos retorno.
— Eu vou correr então — Lucca diz enquanto ameaça segurá-lo pelo colarinho com a boca, já entrando na cidade.
Epa calma aí — Lyrilvy estava prestes a saltar quando seu corpo ficou gélido. O mundo o escureceu por completo. Lyrilvy, embora soubesse que Lucca o estivesse correndo, não se via mais em movimento. Murmúrios começam a ser ouvidos enquanto as pessoas ao seu redor parecem ter começado a encará-lo repentinamente. Seu corpo estremece e seu coração começa a bater lentamente como se fosse parar. Olhando para o fundo, dessa vez mais perto do que antes, está o olho no arbusto o observando. Ele se contorcia e vibrava como se esperasse por esse momento. Seus olhos ardem de repente e, ao abri-los, se vê sendo levado por Lucca, que pára em frente o Delícias, o soltando.
— Isso foi realmente desagravel — Pensou ele em voz alta.
— Se queria correr era só falar — Diz Lucca cruzando os braços.
— Não foi bem disso que falei, mas me consulte na próxima pode ser?
Ah tanto faz vamos comer logo — Diz ela enquanto entra.
  Enquanto se sentavam, após pegarem seus pedidos, Lyrilvy se pergunta o que estava acontecendo com ele e se contava para alguém. Sua maior preocupação era que isso pudesse ser consequência de testes passados, mas sempre que pensava sobre isso sua cabeça latejava.
  O Delícias Patinhas era uma salgaderia média, com mesas dentro e fora da construção. Possuía salgados diversos, desde um pastel de banana a uma coxinha de churros, juntamente uma geladeira de bebidas básica e ventiladores no teto.
— Parece delicioso — Ele diz enquanto coloca sua máscara em sua cabeça, entre as orelhas. Eles saboreiam seus pratos em silêncio enquanto observavam o trânsito.
— E como — Lucca diz enquanto devora uma esfirra. Algum tempo após começarem a comer, Lucca recebe uma mensagem de Priscila. Ela olha a mensagem mas tudo que encontra é um ponto. Pris parece estar on-line, porém fica offline em seguida.
— Hmm, que texto profundo — Diz Lucca colocando o celular na mesa com a tela ligada, esperando algo a mais.
— Será que significa algo ou ela só, sei lá, segurou durante o voo? — Ele morde um pastel de chocolate.
— Espero que seja algo besta.
— Vocês parecem mais próximas ou é impressão minha?
— Não sei, acho que sim. Nas últimas semanas nós ficamos juntas umas madrugadas devido nossos casos — Ela diz se inclinando levemente para Lyrilvy — Você está bem Lyril?
— Hmm? De onde veio isso?
— Seus olhos parecem mais distantes que o normal, nem falou nada quando corremos pra cá.
— Só ando meio distraído… dor de cabeça sabe.
— Entendo.
  Eles comem enquanto conversam mais alguns minutos, Lyrilvy considera se conta para ela as coisas que tem ocorrido com ele mas fica hesitante por um momento, talvez não quisesse dar preocupações, ou apenas não quisesse parecer louco, porque estava hesitante em falar? Eles eram próximos, não tinha com o que se preocupar, não é?
  No caminho de volta eles disputam uma pequena corrida até a OA. Após percorrer o pequeno bosque e seguir a trilha fechada da floresta, eles se encontram em uma casa aparentemente esquecida por Deus com três andares. Apesar do esconderijo ficar no subsolo, eles comumente usavam os dormitórios do andar de cima às vezes, especialmente para ter contato com a natureza. Seus pelos eram agitados pelo vento do campo enquanto sentiam a grama em suas pernas.
  Aquele era o refúgio construído por Mordecai com objetivo de trazer proteção para os membros afiliados, conhecida como Olho de Águia. Anos de esforços e dinheiro foram investidos nisso. Agindo nas sombras de modo independente, milhares de mudanças eram feitas e corporações eram salvas.
✩♱⋆⁺₊𝄞☽✮⋆⁺₊✴✧
Por um momento, o mundo parece escurecer. Lyrilvy se vê sozinho em frente a uma porta. Ele respira um ar frio sentindo como se algo o encarasse. Mas dessa vez algo estava novo... ele escuta uma respiração lenta e um rosnado em seu ouvido.
— Por Deus — Ele pensa — Não olhe para trás, você não pode olhar para trás, não agora. — Ele começa a caminhar lentamente para a porta, enquanto sente os passos de alguma coisa o acompanhar em suas costas. A cada passo que ele avança sua visão fica mais embaçada, seus pulmões quase ficam sem ar se recordando dos comentários da sua família, “por que eles não entendem?” Suas dúvidas continuam crescendo.
  “Você não agiu da primeira vez”. Lyrilvy dá um passo. “Da segunda vez também não agiu”. Ele dá outro passo. “Mas... você não agiu mais vezes não foi? Por que você não agiu antes?
Mas agora é tarde demais. Você vai agir querendo ou não e você sabe disso. Você precisa encarar a realidade.”  Subindo as escadas, fazendo um som quebradiço, ele abre a porta. Entrando na casa um cheiro asqueroso e gosmento impregna seu nariz. Prestando atenção no chão encontra um rastro de sangue que o leva em uma parede da sala, onde a cabeça da coruja com os olhos cortados e depenada se encontra, com uma expressão de horror, como se tudo que pudesse ter feito fosse gritar e pedir desesperadamente por ajuda.
  Testemunhando essa visão macabra seu mundo desmorona. “Como eu pude ser tão tolo de ter deixado ela ir sozinha?” Ele começa a sentir quase como se fosse desmaiar ou vomitar e decide sair daquela sala imediatamente evitando essa visão. Na outra sala os pedaços do corpo dela se encontram esquartejados onde uma está só o osso nos dizeres "Feliz aniversário" escrito com sangue e o que parecem ser lágrimas. A podridão do cadáver invade suas narinas sensíveis, ele não consegue aceitar aquela realidade, era só mais uma alucinação, ao menos deveria ser assim, mas se fosse, porque Lucca o acompanhava com aquela expressão em seu rosto?
  Começando a correr para os quartos alguns dos membros estão cortados ao meio, um queimado e sem suas tripas e assim por diante. Vários documentos e papeis estão jogados pela casa e a porta do escritório estava arrombada. Sobre a mesa, Lyrilvy observa uma carta borrada em sangue.
— Isso é do Mordo? — Ele comenta com Lucca em tom seco e lento.
Lyril vo- — A porta atrás deles se fecha enquanto começam a escutar gritos em russo. Olhando pela janela, cercando a casa, está um pelotão que aponta suas armas e começa a metralhar a casa. Um isqueiro é aceso e as chamas começam a consumir a casa de pouco em pouco. Na sua mente imediatamente vem o papel de Mordecai, dessa vez você se ilumina, é impossível esquecer agora.
✩♱⋆⁺₊𝄞☽✮⋆⁺₊✴✧
  "Olá meu caro, sei que nós estamos juntos nessa desde muito tempo. Mas confio em você para decodificar o papel. Após o rei cair, soube imediatamente que precisava de alguém para enviar com exclusividade, somente para você meu fiel e confiável amigo.
Peço perdão por ter colocado tanta responsabilidade em suas costas. Só que deposito toda minha confiança em você, sei que usará seu caderno...sim somente você pode descobrir o que está escrito nele e mais ninguém.
Precisei ir até um lugar devido a algo que poderia colocar em xeque todas as nossas vidas. Peço humildemente que proteja a todos que puder. Por favor, nós precisamos nos encontrar o mais rapidamente possível, tem algo de extrema urgência à espreita e talvez tenha despertado um demônio ainda maior em sua vida."
"Peço perdão por uma pessoa honesta e de bom coração como você ter que passar por essa provação. Independentemente do resultado mantenha a si e seus amigos a salvo você é o que importa.

À Sua Riqueza e Felicidade Mordecai da família xxx."
✩♱⋆⁺₊𝄞☽✮⋆⁺₊✴✧
   Os gritos de Lucca, o chamando para fugir, ecoam pelos ouvidos de Lyrilvy. Como se retornasse ao mundo, eles correm sob quatro patas, em meio aos destroços dos tiros, até a cozinha onde Lucca aciona a alavanca, disfarçada em meio o cenário, que faz a mesa abrir enquanto Lyrilvy, retirando o tapete, destrava a porta. Eles pulam sem pensar duas vezes pela passagem, que se fecha em seguida.
  Quando começam a descer as escadas no escuro, as luzes se acendem mostrando uma sala de armamentos. Com os mais variados tipos de armas.
— As munições sumiram! — Lucca grita para Lyrilvy, que olhava o vestuário.  Alguns kits de sobrevivência e medicina  permanecem inutilizados. No vestuário vários coletes estão presentes, além deles capacetes e outros meios de defesa.
— Verifica a informática! — Ele grita da área científica. Ferramentas que Lucca usava para seus trabalhos manuais ou mecânicos estavam sobre a mesa — Não, isso não daria certo…
— A porta está emperrada! — A voz de Lucca revelava seu estado emocional, embora ainda se mantivesse racional. A fumaça começa a invadir o "bunker" da base e aos poucos vai começando a se acumular, embora em pouca quantidade — Espera, tem um pequeno vão aqui, acho que você consegue passar.
— Espero que sim — Ele anda olhando o cenário — Espera, meu livro, precisamos do Lewicode.
— Eu não entendo onde isso vai ajudar.
— O chefe me deixou uma missão, eu preciso dele — Ele diz enquanto vai até a porta emperrada — Enquanto isso, por Cristo, vai pegar ele pra mim.
  Ela corre até a biblioteca enquanto Lyrilvy retira sua mochila e tenta se esgueirar pela passagem. Do lado interno, Lyrilvy libera a passagem para Lucca, que chegou minutos depois. Ele coloca o papel em branco e a carta sobre a mesa e ilumina ambos com a luz negra, enquanto Lucca fecha a porta, para retardar a fumaça naquela região, e vasculha a sala em busca de algo.

Obscuration Where stories live. Discover now