the demon that whispers II

3 0 0
                                    

Olhando o lugar Victor avista no meio da multidão que passava de um lado para o outro, um lobo preto que tomava chá num dos restaurantes, com um bigode e um óculos de um olho só. Seu terno era preto, usava uma blusa social branca e gravata vermelha. Carregava uma mochila preta comum e vestia calças pretas e sapato social com o cinto bem preso.
— Olha só Lucca! — Victor aponta — Aquele Lobo é bem parecido com o Mordecai. Será que tem um sósia? — Ele sussurra.
— Vamos ver… — Lucca passa próximo a ele e diz a Victor em voz alta — Eu espero que a lua esteja viva, a novela ficaria meio vazia sem ela — Ela presta atenção ao lobo.
— Não sabia que você acompanhava a novela, minha dama — Mordecai toma um gole enquanto lê o jornal — O sol está indo ao socorro dela neste momento, não temos com oque se preocupar.
— Minha nossa finalmente alguém com cultura — Ela se senta ao lado de Mordecai, pedindo para Victor se sentar ao lado dela — Você viu a logo daquela gangue que apareceu no último episódio?
  Victor senta ao lado de Lucca e segura a cadeira tentando equilibrar para trás.
— Fiquei sabendo que serve para acessar um lugar no castelo da Roseta — Mordecai olha para Victor confuso e depois Lucca — O problema é que um príncipe cruel mora lá.
— Eu acho que perdi esse capítulo, como ele se chama?
— Giacomo Leopardi — Mordecai olha para o relógio e depois Lucca — O problema em si não é ele. E sim aquele que se ergueu das sombras — Ele junta os dedos em reza sério — Um homem de estilo e inestimável uma cascavel que nunca cometeria um erro tolo. O condecorado "Eblis" — Mordecai corta seu pão de queijo e come — O tabuleiro? Ele representa o absurdo do mundo — Mordecai continua comendo — Os fenômenos que estão além do jogador do tabuleiro, aquilo que os animais acham compreender e entender. Rumores são espalhados — Seu olho brilha em vermelho ao encarar Lucca — De que todo o mundo está sob influência deste homem.
— Que inferno, esse roteiro se complica demais — Ela joga sua cabeça para trás — Os herois já sabem como lidar com isso?
— Basta encontrar o local e sair com tudo que precisam sobre essas peças desconhecidas que vem interferindo no trabalho alheio — Mordecai bebe o último gole e olha o grande castelo — Tudo até agora foi pensado por ele e só tem o príncipe do seu lado por motivos egoístas. O tempo está passando — Mordecai dá um leve sorriso — Vamos ver qual dos dois lados terá a melhor vantagem, os mocinhos começam perdendo, mas sempre vencem no final...
✩♱⋆⁺₊𝄞☽✮⋆⁺₊✴✧
  Olhando os monitores do computador. Um homem saboreia uma esfirra.
— Senhor? — Urso entra calmante, usando roupas casuais — Desculpe atrapalhar seu almoço.
— O que foi? Quer jogar outra partida?
— Parece que aquele lobo que andava com o 0-456 foi visto na cidade de ouro.
— Curioso. Primeiro o sinal de Néfelos e agora esse lobinho… Parece que o jogo ficou interessante — Ele digita algo no teclado, um mapa aparece nos monitores com um ponto em vermelho se movendo — Traga ele aqui, diga que Mattyyas está chamando.
— Como quiser senhor. Mas e quanto a cidade?
— Avise ao príncipe para ficar de olho em um lobo negro — Ele caminha até uma sala vazia enquanto oUrso se retira. No meio da sala uma mesa com tabuleiro de xadrez e othello são vistos. Ele passa a mão sobre eles enquanto sorri animado — Você ainda é o mesmo da última vez?
Ahm... — Victor olha para Mordecai sem saber o que fazer — O que vamos fazer quanto ao braço dela?
— Você é melhor do que eu nisso — Mordecai entrega um papel e endereço junto — Se tudo tiver dado certo Robert estará com os equipamentos necessários lá.
  Um cão faz um ‘estou de olho em vocês' com os dedos e apesar do sobretudo diferente dá para ver que é claramente Robert escondido que não se deu muito trabalho de se disfarçar.
— Nosso tempo está acabando — Mordecai diz cansado — Sejamos rápidos.
  Ao entrarem no local, Robert abre uma caixa de madeira e Mordecai ajuda Lucca a abrir o projeto da 'Luva Nuclear' e um braço metálico mais leve e resistente se encontra em cima da mesa.
— Essa daqui é multifuncional — Robert coloca em cima da mesa — Espaço para guardar, granadas e todo tipo de coisa empolgante.
— Para o senhor risadinha — Robert coloca uma Remington 870 e uma pistola Taurus GX4 — Isso serve.
— Tem kit médico e colete leve — Robert termina de organizar.
— Por fim, dei um upgrade naquela espada — A espada de Mordecai e Esposito meio que se fundiram com outros materiais — E um nunchaku que consiga torcer o crânio daquele escroto.
— Pode parecer exagero — Robert coça a cabeça — Só que depois de ver aquela coisa melhor não arriscar.
— Vamos fazer uso no último caso — Mordecai busca auxiliar Lucca na construção da Luva — Evitem a todo custo o gato e eu distraio o outro.
— Você viu ele por aqui? — Lucca pergunta enquanto se acostuma com o braço
— Não, mas duvido que esteja muito longe — Robert continua se arrumando junto a eles.
— Eu vou matar esse gato se ele tiver feito algo com Lyril.
  Quando a luva fica pronta o despertador do relógio de Mordecai começa a tocar. 'Tum tum' seu coração bate, ele caminha abrindo a porta com a visão embaçada. “Eu te vejo do outro lado, meu único amigo…” Mordecai cai e seu cérebro e coração parar de bater simultaneamente
— Que merda é essa!? — Victor grita.
  Robert o coloca em suas costas verificando os sinais vitais usando o aparelho que Mordecai usou na Lucca.
— Vocês sabem oque aconteceu? — Robert olha com medo.
— Ele tá vivo? — Lucca se aproxima do corpo.
A vida, muitas vezes, é um labirinto de memórias entrelaçadas. Ecos de risos e sussurros que se perdem no tempo. Para muitos, essas recordações moldam quem somos e quem poderíamos ter sido. Mas e quando quem somos foi moldado sobre o vazio de uma história perdida, seríamos o mesmo ao preenchermos esse vazio, ou quem somos desapareceria pelo que éramos?
  Explorar esses fragmentos de uma vida inteira, um mosaico de alegrias e tristezas, verdades que há muito haviam sido enterradas.
— Se sintam privilegiados, meus filhos — Um leão vestindo um smoking branco caminhava em frente a uma fila de gatos, sua maioria provavelmente possuía 8 anos — Vocês foram escolhidos para a nova fase evolucionária — Ele parou em frente ao espelho da parede, é claro, não era um espelho. Todos nós sabíamos que alguém estava nos vendo… — Não se deem ao luxo de cometer um erro. Certifiquem-se de que cada atividade seja bem-sucedida, vocês são nosso estágio 0 para o mundo perfeito — Ele se virou para o espelho, exibindo um rosto convencido. Eu quase adorava ele — 0-180, 0-320, 0-278 e 0-456, venham até aqui — Ele nos colocou próximo ao espelho. Na época eu me sentia especial. Imagine só, um gato, um avanço. Um dos escolhidos para um novo estágio… e agora um escolhido dentre esses.
— Esses espécimes vêm obtendo resultados perfeitos nos testes.
— Fabuloso — Uma voz respondeu respondeu por um alto falante — Apenas palavras não vão lhe render um lugar ao nosso lado — Uma voz diferente, velha e séria, interrompeu o homem que antes estava falando — Me mostrem se valem realmente nosso tempo.
— Você parece ser bem dominador, é você quem manda não é? — 0-180 respondeu friamente. Eu gostava dele, mas não sei se posso dizer o mesmo dele sobre mim — Você vai dizer que isso era óbvio pelas palavras que usou agora. Isso deve ser comum em gorilas.
— Não senhor, o papai não falou de você para nós — A 0-320 deu um passo à frente, acho que eles apenas estavam competindo para ver quem era o melhor — Mas acho que nem ele sabia quem você era
— Vocês são do exército? — 0-278 levantou a mão — Não parecem falar como eles… Não vamos ver nossos irmãos então?
— Um belo truque eu reconheço — O velho respondeu após uns segundos de silêncio — Porém não vi iniciativa em um de vocês
— 0-456, por que não disse nada? — O pai parecia irritado
— A falta de paciência de vocês me irrita — Eu respondi cruzando os braços e olhei para os outros, apenas o 0-180 estava me olhando, parecia curioso — Qualquer coisa que eu falar não vai ser diferente do que qualquer outro aqui diria. Se você quer uma prova, é só ver os testes.
  0-180 não desperdiçou uma risada naquele dia.
— Muito bem, pode prosseguir para a fase Lyrilvy — De algum modo, nós acabamos os impressionando.
— Como sabia que era um gorila?
— Aquele espelho tem uma falha na região inferior, eu consegui ver as mãos dele quando ele ficou perto dela.
— Você trapaceou
— Não, eu garanti minha sobrevivência.
Os dias passaram, e aos poucos nosso número de colegas foram se reduzindo. O pai nos disse que uns foram escolhidos para lutar na guerra, para salvar o mundo dos vilões… Os testes foram ficando difíceis e os experimentos só cresciam.
  Nós fomos levados a uma sala nova, era grande o suficiente para 10 crianças correrem sem preocupações.
  0-180 era nosso astro, nunca falhou em nenhum único teste, os experimentos nele eram bem sucedidos. Ele parecia se orgulhar disso. Ficamos consideravelmente próximos com o tempo. Talvez pela competição, talvez pela falta de opções. Jogávamos muito jogos de tabuleiros quando tínhamos descanso.
— 1900, 1905, 1910, 1915 — Toda semana precisávamos repetir uma sequência numérica, enquanto as luzes giravam ao nosso redor, a cada erro uma voltagem elétrica maior que a anterior era descarregada. 0-320 teve um ataque em uma das vezes e acabou morrendo eletrocutada.
— O resultado é 3 — Tínhamos que descobrir o resultado da soma dos números que o pai e o homem da voz pensavam.
  Um dia eu acordei em uma sala quase totalmente vazia e escura, estava descalço e o chão completamente cheio de vidros. Meu corpo estava molhado com óleo e só tinha uma única luz, uma vela em um prato. A voz do pai ecoou pela sala, me dizendo que a chave da porta estava no cofre trancado com senha no canto da sala e que eu teria até a vela se acabar para sair.
  0-180 acordou em uma sala branca com apenas uma caixa com alguns itens e 0-278 em uma sala vermelha com mesa e bebedouro com copos. Ele aparentemente morreu durante um experimento químico uma semana depois, o pai não nos disse o que aconteceu com ele, mas nós suspeitávamos.
— Tem medo de ser o próximo? — Eu perguntei a ele durante nossa partida de Othello no descanso.
— Não, por que eu teria? Você também não deveria — Ele sorriu com o canto da boca — Nós temos tudo que eles não tinham… Vamos nos formar e trazer um mundo sem vilões.
— Herois… Vilões… Você acredita mesmo nas palavras do pai?
— Você é ingênuo demais as vezes né? É claro que sim, nós viemos para ajudar o mundo.
  Os dias passaram, estávamos com 13 anos. Eu estava começando a sofrer com os experimentos. No final eu também era um defeito.
— Eu estou doente — Eu expliquei a meu amigo — Acho que só você vai se formar.
— Não diga besteira. Você e eu somos praticamente iguais, seu corpo logo logo vai se acostumar, é oque pai sempre diz.
  Ele não estava errado, meu corpo se acostumou, ao menos o suficiente para viver por no mínimo 15 anos. Eu era mais frágil do que ele, talvez fosse o destino. Ou talvez apenas falava demais o que não deveria.
  No meio do ano, mudanças estranhas começaram a acontecer, recebemos símbolos em nossas costas, recebemos nomes, fomos transportados para outros lugares.
  Isso mesmo, eu me lembro agora. Fomos levados a uma nova escola, onde recebemos pela primeira vez nomes como identificação.
— A partir de hoje vocês irão se identificar pelos seguintes nomes — Um urso polar vestindo uniforme japonês apontava para mim — Lyrilvy, por se manter persistente mesmo com sua doença. Assim como este experimento — Ele tocou o ombro de 0-180 — Mattyyas, por ser um dom entre muitos.
  Os testes continuaram, parecia que nada tinha mudado, com exceção do pai, que nunca mais vimos. Porém desta vez os testes muitas vezes eram corporais.
  Um ano e meio após nos estabelecermos, o Mattyyas parou de aparecer após receber sua marca em seu tórax, uma circunferência com duas cruzes que se tocavam enquanto suas pontas saiam para fora. Às vezes eu podia ver sua silhueta junto dos guardas me observando. No final daquela semana foi quando tatuaram minhas costas, e foi também quando tive me formatura. Eu fui acordado por Mattyyas durante a noite. Mas ele estava diferente agora, apático.
— Venha, nossa formatura é hoje — Ele me levantou e me levou até o corredor principal. Muitos homens estavam nele, vestindo capas violetas, ficando apenas os guardas vestidos como de costume.
— Eu achei que nossa formação só ocorreria daqui a 4 anos.
— As coisas mudaram. Vamos poder iniciar nossa missão mais cedo — Ele parou de frente com uma das portas — Mas antes precisamos cuidar de você — Naquele momento um dos homens me injetou algo. De repente não conseguia mexer nada além de meus olhos. Fui colocado em uma mesa no centro da sala, onde alguns deles faziam movimentos estranhos.
— Não se preocupe, isso vai curar sua doença — Mattyyas sussurrou para mim — Pense nisso como um presente de formatura. Aproveite sua vida Lyrilvy — Ele se afastou da mesa e pegou um tipo de agulha que saia que saia de um triângulo — Infelizmente eu sei que você daria trabalho se apenas isso fosse feito — Homens viraram minha cabeça — Então vamos te fazer um fazer um favor — A dor da agulha atravessando meu crânio era sufocante — Você vai poder ter uma vida simples por um tempo, aproveite até o dia em que o chamar — Meus olhos estavam pesados, sentia como se fosse morrer. Um dos homens começou a entoar algo, como um tipo de ópera, até que uma sombra envolveu toda a sala. Uma voz familiar de repente começou a falar, sim, era o urso que nos dera nomes.

Obscuration Where stories live. Discover now