"Tudo em ti foi naufrágio!" - Pablo Neruda.
OLIVER
Bibliotecas têm cheiro de vida.
Em frente a uma prateleira, abrir um livro é o equivalente a abrir um mundo inteiro. Deve ser por isso que elas curvam tanto quando estão velhas, carregar tantos mundos nas costas não é nada fácil.
Me considero um viajante. Viajar por entre linhas e parágrafos é o momento mais fantástico das minhas noites silenciosas, acompanhadas por uma xícara de café e uma brisa entrando pela janela do meu quarto.
Seguro nas mãos um livro repleto de poesias. Um professor nos passou o trabalho de escolher três poesias de um poeta a nossa escolha para fazer análises literárias deles. Me animei com isso por ter liberdade para escolher o que eu quiser, e quem eu quiser. Contudo, minha animação se foi quando me lembrei que não sou tão familiarizado com poesias. Vasculhei as prateleiras à procura de um poeta que me chamasse atenção, mas nenhum me atraiu tanto quanto Pablo Neruda. Suas poesias eram tão intensas e cheias de paixão que não consegui segurar um suspiro a cada verso lido.
Há um verso seu, da poesia intitulada de A Canção Desesperada, que diz assim:
"Meu desejo de ti foi o mais terrível e curto, o mais revolto e ébrio, o mais tenso e ávido."
Foi o verso mais lindo que já li na minha vida. Com poucas palavras, ele conseguiu descrever um desejo tão descomunal que pode se tornar arrebatador. Mesmo que curto, como num piscar de olhos, foi tão forte quanto uma tempestade de granizo. Tão intenso que te deixa inerte, zonzo, bêbado.
Não é atoa que poesia é o gênero literário favorito de Theo. Consigo ver sua beleza, é realmente fascinante — estou falando de poesias —.
Ao terminar as análises, já estava sentindo o sangue correr entre minhas veias cerebrais. Acho que eu até conseguia ouvi-las gritando.
Preciso de um pouco de ar.
Enquanto guardava minhas coisas, fiquei pensando nos escritores que não são reconhecidos pelas suas obras. Escrever parece ser algo fácil mas, acredite, não é.
Criar não é fácil. Além disso, tem que ser bom com as palavras e saber usá-las. Penso em como os escritores não reconhecidos se sentem ao se esforçarem tanto e não ter suas obras lidas pelo mundo todo.
Não quero ser invisível.
Cresci sendo apenas mais uma boca para alimentar. Um completo nada que só estava ali pelas forças da reprodução humana.
Eu me esforcei tanto para ser visto. Tudo o que eu fazia era à mercê dos meus pais, tudo para garantir a aprovação deles. Tudo para garantir que estava sendo um bom filho e irmão mais velho. Aí, veio uma das maiores tragédias da minha vida.
Quando meu irmão morreu, era como se eu não existisse mais naquela casa. A única pessoa que me enxergava era minha vó, e ela não estava mais lá também. Eu tinha perdido todo mundo. Estava sozinho. E pra piorar, invisível.
Não desejo essa sensação a ninguém.
Andando pelo corredor vazio próximo a biblioteca da faculdade, pensava em Theo e no seu grande segredo.
Olhe, ele não disse nada, mas sei que há algum segredo por trás daquela carinha angelical, e tenho medo de descobrir.
Sei também que disse a ele que gostaria dele mesmo sem saber o que está acontecendo com ele, mas... Isso me deixa louco.
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até o último suspiro - versão 2
RomanceSEGUNDA VERSÃO DA FANFIC ATÉ O ÚLTIMO SUSPIRO Theo nunca foi o tipo de garoto que aproveitava a vida da maneira que devia. Acomodou-se tendo poucos amigos e uma família unida o suficiente para fazê-lo se sentir amado. Então, quando seus dias passam...