Capítulo 11

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"Eu queria dormir em paz, intoxicado com a sua doce essência." - autor desconhecido.


OLIVER

Em toda a minha vida, nunca soube lidar com grandes emoções. Eu apenas empurrava tudo pra debaixo do tapete e abria um grande sorriso, dizendo a mim mesmo que estava tudo bem. Funcionou por muito tempo. Porém, estou achando que não vou conseguir esconder tanta sujeira debaixo de um tapete tão pequeno. Era como tentar manter uma onda daquelas com vários metros de comprimento fora de uma cabana de madeira velha construída na margem do mar, apenas mantendo a portinha fechada. A água corrói a madeira, já toda desgastada, a cada trombo na pequena construção. Em algum momento, ela vai entrar. Em algum momento, a água vai destruir tudo.

Pensei nisso ao desligar a ligação com meu pai. Mesmo depois de algumas semanas desde o nosso último almoço, ele insistiu em me ligar para falar que não me queria mais como filho.

— Estou ligando para avisá-lo que cansei de você. — ele disse no instante em que atendi, depois de passar uns cinco segundos encarando seu nome na tela do celular até, enfim, decidir atendê-lo. Foi a pior decisão que tive na minha vida. — Tudo o que te dei, me devolve em uma semana.

— O que? Como assim? — Minha voz vacilou. Apertei o celular com força. — Por que está fazendo isso? — Tentei não chorar, mas estar sendo abandonado pelo próprio pai causa certas emoções.

— Cansei, Oliver. Cansei de te dar tudo e você continuar sendo um filho de merda.

Meu mundo desmoronou ali mesmo. No corredor do hospital, ao lado de fora do quarto de Theo, escondendo um choro desamparado para que ele não acordasse com o barulho. Eu não sei o que fiz de tão errado para ser largado na sarjeta dessa forma.

O que eu fiz?

Porque ele não consegue me amar como um pai ama seu filho?

Talvez seja minha sina. Ser abandonado por todos que amo, sobrando apenas eu no mundo. Completamente sozinho.

Theo teve outra convulsão. Assim que os médicos deitaram-no na maca, ele começou a se debater, sem nem esperar chegar dentro do hospital. Não sei explicar como me senti vendo aquilo se repetir. Acho que foi como se eu fosse uma rosa tornando-se seca e sem vida devido a falta de água, sol e palavras de carinho.

Agora, ele dormia. Sua franja escura caía sobre a testa pálida, os lábios rachados e esbranquiçados entreabertos. Enquanto o assistia de um canto do quarto, tentava me acostumar com aquela visão, de vê-lo desacordado. Sem sinal de vida. Sem me olhar nos olhos. Sem me chamar de Oli, acompanhado sempre de um sorriso doce. Tentei, mas não consegui. Fiquei calado e de braços cruzados encarando Theo dormir pelo que pareciam horas. Nem ao menos notei quando fiquei a sós com Liam, que me observava com uma expressão séria do outro lado da cama de Theo.

— Oli... — ele murmurou, e aquilo doeu. Porque não era Theo que estava me chamando daquela forma.

— Não me chame assim. — encostei a cabeça na parede, fechando os olhos com força.

Liam se calou.

— Quer conversar? — Ele perguntou, a voz soando fraca.

— Sobre o que?

— Sobre qualquer coisa que esteja te machucando.

Foi difícil escolher o que sairia primeiro.

— Eu estou cansado, Liam. — minha voz falhou ao dizer isso, os olhos começando a arder imediatamente.

até o último suspiro - versão 2Onde histórias criam vida. Descubra agora