Epílogo

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"O que está escrito em mim

Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer

A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer?

Só peço a você um favor, se puder

Não me esqueça num canto qualquer"

– O caderno, Toquinho



OLIVER

Sonhei que estava perdido. Acho que era um labirinto, as paredes iguais e escuras, consumidas por musgos e sujeira. A neblina tomava conta dos cantos, invadindo-me como se fosse algo bom, mas só me deixava sufocado e com vontade de vomitar tudo.

Eu andava entre as paredes e não conseguia achar uma saída. Tudo parecia igual. Sombrio e frio, sem nenhuma vida à vista. O eco dos meus passos me aterrorizava, porque parecia que eu estava sendo perseguido por alguém. Mas a verdade era que eu estava completamente sozinho, se eu estivesse sendo perseguido por alguém, esse alguém era eu mesmo. E, aí, uma voz me chamou. Aquela em que venho ouvindo em todo canto, pensando que me chamava.

Oli? Ele me chamava. Era ele. Era a voz de Theo.

Oli, olhe para mim!

Onde você está? Onde você está, Theo?

Acordei afogado num choro desesperado. O ar nem chegava em meus pulmões. Eu estava me afogando e não conseguia me salvar. Meu bote salva-vidas não estava aqui para me levar à superfície. O que eu ia fazer? Nem ligava se chorava alto demais. Deve ser por isso que a porta do quarto quase foi arrebentada quando Liam irrompeu para dentro.

— Oliver? — Liam gritou, sabendo que eu estava tendo um pesadelo.

— Onde ele está, Liam? — Não tenho certeza de que ele me entendeu, minha voz saiu enrolada e entre soluços. — Por que ele não vem até mim?

Liam me ergueu na cama, fazendo-me ficar sentado, mas meu corpo estava mole. Eu me contorcia enquanto chorava alto. Então Liam me abraçou. Me apertou tão forte que, por um momento, esqueci o porque eu chorava.

De repente, minha mãe entrou no quarto também. Toda descabelada, os cachos desgrenhados, ela nos olhava com confusão.

— O que aconteceu? — Ela usou sua voz doce, preocupando-se com a altura do meu choro.

Liam me abraçava com força, balançando meu corpo de forma lenta, uma maneira de me ninar. Ele não falava nada, só esperava que eu parasse de chorar. Que bom que ele não dizia coisas como: vai ficar tudo bem, ele está em um lugar melhor, vai passar... Isso irritava. Me deixava com mais vontade de chorar.

A noite se arrastou com Liam e minha mãe apertados na minha cama, aconchegados para dormir comigo, um de cada lado. Encarei o teto a noite toda, enxergando o rosto de Theo na tinta branca, sorrindo para mim. Não tem sido os três meses mais fáceis para mim. Tudo começou a piorar depois do dia do seu funeral.

Depois que ele morreu com a cabeça deitada em meu ombro, o tempo parou. Eu não sabia mais quando era dia ou noite, pois passava a maior parte do tempo trancado no quarto, encarando o teto. No dia do seu funeral, eu me encarava no espelho. Observava meu terno preto, meu cachos sem a devida definição e meus olhos inchados por chorar a noite toda. Liam entrou no quarto, também de terno preto. Ele me olhou com aquela expressão irritante, dizendo silenciosamente que sentia muito.

até o último suspiro - versão 2Onde histórias criam vida. Descubra agora