Capítulo 19

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"Eu daria qualquer coisa para ouvir

Você dizer isso mais uma vez

Que o universo foi feito

Apenas para ser visto pelos meus olhos"

- Saturn, sleeping at least


OLIVER

Um mês se arrastou devagar. O tempo parecia não passar. A ansiedade me corroia por dentro, não me deixando dormir uma boa noite de sono. Porque Theo passou a ser a pessoa que podia morrer a qualquer momento.

Eu tentava viver minha vida normalmente. Frequentar minhas aulas e ir atrás de um emprego, porque meu pai não me sustentava mais. Estava apenas eu por mim mesmo. Claro que eu mantinha as visitas na casa de Theo o mais frequentes possíveis, mas mesmo assim eu sentia que não era o suficiente. Eu ainda sentia que ia perdê-lo e não ia estar lá para ver isso. Isso me assustava, porque eu não queria isso. Queria estar lá 24 horas por dia. Podia ser conosco em silêncio, eu não ligava. Eu só... queria estar lá.

Isso era algo cruel. Esperar que sua morte chegasse. Isso consome você de uma forma que deixa marca. Não dá para superar algo assim.

O sol já começava a ficar alaranjado quando eu parei numa livraria, a caminho da casa de Theo. Andei entre as prateleiras, me sentindo abraçado por histórias quentes e cheirosas. Procurei entre os livros o que eu queria. Quando achei, encarei a capa com o garotinho loiro de terno engraçado em cima de um mini planeta cinza desenhado nela. Deslizei os dedos em cima da rosa encapsulada, desejando ser ela.

Se eu fosse uma rosa presa numa redoma, eu estaria a salvo? Existiria tantas outras como eu por aí, porque eu não poderia viver dentro dela, aconchegado e seguro, livre do que me faz mal?

Talvez eu pudesse pôr Theo lá dentro. Ele não me deixaria caso vivesse lá.

Certo?

Quando estava a caminho da casa de Theo, passei em frente ao nosso parque, aquele que nós íamos tanto. Pensei naquela árvore gigante e cheia de folhas dançantes em que nós sentávamos embaixo toda santa vez. Antes, quando Theo e eu éramos apenas duas rosas desconhecidas, aquela árvore era como cem mil outras árvores. Agora, depois que ele me cativou, aquela árvore é a única no mundo. Sempre será a árvore em que eu e Theo nos abrigamos enquanto nos apaixonamos sem nem perceber.

Confesso que fiquei tentado a ir até lá, e me agarrar a sensação de tê-lo ao meu lado, talvez sentir seu cheiro escondido entre as folhas. Porque, quando eu chegar na casa dele, não vou ter isso. Porque, quando o vejo, eu apenas tenho um corpo que costumava ser do Theo. Porque, quando o vejo, eu não sinto mais o seu cheiro de aconchego. Porque, quando o vejo, eu tenho a certeza de que ele está morrendo. Porque, quando o vejo... Eu não o vejo mais.

Isso me destrói.

Está me destruindo desde aquele dia em que o vi se debatendo no chão do nosso parque favorito.

Por que as coisas tinham que ser assim?

Sam atendeu quando dei apenas duas batidas na porta. Os olhos pequenos inchados e olheiras fundas foram direcionados para mim, o canto enrugado pelo sorriso forçado que me deu. Entrei e atravessei o corredor longo em seu encalço, o silêncio mórbido consumindo meu ser. No fim do corredor, Sam parou. Virou-se para mim, me olhou com medo.

— O Theo não... — algo engasgou sua voz, perdendo-se no que ia dizer. — Não consegue falar direito. Talvez não te responda, mas ele ainda consegue sorrir.

até o último suspiro - versão 2Onde histórias criam vida. Descubra agora