Não podemos estar juntos
Assim que Raul foi embora para Londres, depois de ele ter ficado por duas semanas em Burford, muitas coisas mudaram. Na verdade, muitas coisas já estavam mudando quando Raul ainda estava nessa pequena cidade.
Foi no instante que o vi pela primeira vez, que as coisas começaram a mudar. Pois, assim que o vi, Raul trouxe junto com ele caos na minha vida. Ele trouxe para minha vida um caos de emoções e de sentimentalismos, dos quais se encontravam por muito tempo adormecidos dentro de mim.
Tudo na minha vida está planejado extremamente para um fim: ser a filha perfeita, ser a irmã protetora, ser uma serva fiel do Bosque. Não há espaço para o caos, para a incerteza e nem para os erros. Se eu me permitir um pouco de caos, tudo pelo qual sacrifiquei e prometi vai pelo ralo abaixo.
Por isso, não tenho esse luxo de me permitir ter um pouco de caos.
Por isso, eu passei a odiar essa palavra: caos.
Não gosto do caos. Não gosto nem um pouco dele. Só de pensar nessa palavra, já sinto um desconforto. Porém, eu percebi, recentemente, o quanto essa minha repulsa pelo caos é infundada. Pois, recentemente, eu me vi questionar a mim mesma tantas vezes em diversas coisas. Pois, recentemente, eu descobri que, uma porção de coisas que achava ser o certo, na verdade, não era nem um pouco certo.
Quantas vezes eu me enganei? A resposta é muitas vezes. Em relação aos meus julgamentos. Em relação ao Raul.
Foi, recentemente, que descobri que há algo de positivo no caos. Foi, graças ao caos de emoções e de sentimentalismos, ao qual o Raul trouxe junto com ele na minha vida, que percebi o quanto me congelei no tempo, devido ao fato de manter as memórias da minha irmã e dos meus pais vivos para continuar sendo a serva fiel do Bosque Congelado.
Foi, graças ao caos carregado de emoções e de sentimentos, a qual o Raul trouxe para minha vida, que eu percebi que: o que adianta ser a serva fiel ao Bosque e ter permanecido como a filha perfeita e a irmã protetora, se não busquei ser mais do que isso?!
Eu deveria não só manter as lembranças da minha vida como Dafne, como também deveria ter buscado adquirir novas lembranças. Novas lembranças adquiridas com pessoas que estão ao meu redor e que se preocupam comigo. Adquiridas com pessoas as quais aprendi a confiar.
Quando fiz o pacto com o Bosque Congelado, não tratei o desejo como dádiva, apenas tratei o desejo como uma oportunidade de curar a minha irmã. E foi bom, no início, ver que a minha irmã tinha uma longa vida adiante, graças ao meu desejo feito ao Bosque. Porém, ao longo dos anos, esse desejo se tornou uma carga ao qual eu tinha que carregar. E, em dias atuais, o meu desejo se tornou uma prisão.
O que estou querendo dizer não é que me arrependo de ter desejado a saúde da Anastácia de volta. O que estou querendo dizer é que, antes do Raul aparecer na minha vida, estava tão convicta que fazer aquele desejo era o certo a se fazer, mas, agora que Raul apareceu e abalou as minhas convicções, eu me pergunto se aquele desejo era o certo a se fazer.
Eu me pergunto se aquele desejo feito ao Bosque era mais para mim e para a minha mãe do que realmente para a Anastácia. Eu me pergunto se aquele desejo era, realmente, para curar a minha irmã e não porque a minha mãe e eu iríamos nos despedaçar caso a minha irmã morresse.
Só que não foi apenas outra percepção do caos que o Raul trouxe de mudança para a minha vida. O Raul trouxe também a mudança de ter me fazer ter mais fé em mim mesma para me abrir para as pessoas, além de me fazer contar com o apoio dos mais próximos. Raul me ensinou que tudo fica melhor quando tem alguém para nos ajudar a nos levantar depois da queda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas do Bosque Congelado
FantasiaEm uma situação onde a vida de alguém importante pendesse por um fio, você ousaria fazer um pacto com um bosque encantado? Foi exatamente essa escolha que Dafne fez para salvar a irmã de uma doença que assolava a Inglaterra do século XX. ...