Amour d'or et du bronze

Capítulo XI

Outubro, 2035

Música tema do capítulo: 🎶 Veins - Palace 🎶

- Vovó disse que pode comer chocolate. - a garotinha fez um bico com os lábios e cruzou os braços.

- Se eu te deixasse sozinha com sua avó... só ia comer besteira. É quase pior que deixar você sozinha com a sua mãe. - Carol respondeu enquanto terminava de arrumar alguns detalhes da decoração do ambiente.

- Mama disse que podia também. - Carol sorriu com a cena. Tão nova e já com tanta personalidade. "Eu era exatamente assim", pensou.

- Claro que ela deixou, pequena. Ela deixa você fazer tudo. Mas a gente combinou que chocolate e os outros doces só depois da janta, mais tarde. Você lembra disso, né?

A garotinha suspirou e descruzou os braços.

- Sim, mãe. - respondeu, ainda com o rosto visivelmente contrariado.

- Muito bem, meu bebê. Agora me ajuda aqui, abre a segunda gaveta de baixo pra cima e pega a caixa que tem dentro dela.

A garotinha foi na direção do móvel grande que habitava o centro da sala. Ainda que a contragosto, ela buscou pela caixa que a mãe pediu. E como qualquer criança meio desastrada, deixou cair o objeto ao tentar voltar correndo na direção da mãe. Carol ouviu o barulho da queda e logo desceu da escada, indo ao encontro da filha.

Após conferir se estava tudo bem com a menina, Carol percebeu a caixa caída no chão e, junto dela, dezenas de fotos antigas. A pequena deveria ter errado a gaveta e, em vez das fitas e enfeites de Halloween, encontrou as fotos guardadas da família.

Olhar para aquelas fotografias despertou um sentimento de nostalgia enorme, Carol se sentiu revivendo parte de toda a sua vida de uma vez só. Fotos de viagens, de festas de aniversário, do seu casamento, de títulos individuais e dela e Anne como um casal, do nascimento da sua filha...

Essa foto específica fez ela deixar seu olhar por segundos a mais, era de Anne segurando a bebê recém nascida em seus braços. Carol viu seu próprio rosto ao lado de Anne na fotografia, um rosto com uma mistura de cansaço, felicidade e orgulho de ter conseguido dar à luz. Sem dúvidas o melhor dia da sua vida.

A morena olhou para baixo e viu olhos verde-acinzentados atentos e curiosos com todas as fotografias espalhadas. Mas antes que conseguisse pensar por onde começaria a explicar a história de cada memória, a porta da sala se abriu e o barulho chamou atenção das duas. Uma Anne esbaforida entrou pela sala, carregando sacolas. Ela nunca chegava em casa de mãos vazias, sempre trazia alguma coisa para mimar a filha.

A menininha logo saiu saltitando desengonçada para abraçar a sua outra mãe, que ela chamava de mama. A loira conseguiu dar alguns passos com a filha agarrada à sua perna e largou as sacolas na bancada mais próxima.

- Mijn prinses, cuidado para não se machucar correndo assim. - Anne advertiu a filha, mas não deixou de abraçá-la de volta e depositar um beijo em sua testa.

- O que tem na sacola, mama? - a garotinha perguntou, ansiosa.

Anne havia trazido alguns doces para o Halloween. Percebeu a sua esposa distraída do outro lado da sala e se abaixou para ficar da altura da criança à sua frente. Discretamente, pegou um dos chocolates e entregou para a filha.

- Só um, leva pro seu quarto. - disse num sussurro.

A holandesa não conseguiu deixar de sorrir com a cena fofa da menininha loira, tão parecida com si mesma, feliz com o doce. Seu sorriso foi se desfazendo lentamente ao ver sua esposa sentada no sofá, com a cabeça abaixada e a mão esfregando os olhos. Anne se aproximou devagar de Carol e sentou ao seu lado. Sua mente logo compreendeu o que acontecia ali ao ver as fotos espalhadas pela mesa de centro. Sua esposa parecia concentrada, quase não percebeu a aproximação.