Capítulo V

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Novembro, 2016

Músicas tema do capítulo: 🎶 Você não poderia surgir agora - Roberta Sá 🎶

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A orla da Urca naquela noite de quinta-feira servia de palco para a resenha das jogadoras após a vitória do time. O assunto do momento era o cronograma da sexta, já que o time estaria de folga. Gabi convidou todas para um barzinho no centro, ela já tinha um aniversário marcado por lá, então a ideia era juntar todo mundo.

- E quem são essas meninas que vão amanhã hein, Gabriela? - Roberta perguntou, erguendo a sobrancelha desconfiada.

- Uai, umas amigas minhas... antigas... tá curiosa por que? Se quiser eu te apresento pras que tão solteiras - Gabi comentou.

O coro de "Hmmmm" logo foi ouvido, e o rosto de Roberta ficou vermelho. Carol, que ouvia a conversa das amigas, começou rir da situação e quase engasgou com o líquido que bebia, o que gerou ainda mais falação e risadas do grupo. A cena não passou despercebida pelo olhar atento de Anne, que estava sentada ao lado da mulher.

A Holandesa segurava uma long neck nas mãos e bebia devagar, observando a paisagem da noite. Aquele, sem dúvidas, se tornou um dos seus lugares favoritos da cidade. A brisa gostosa, o barulho da cidade, das pessoas conversando... a lua iluminando o mar. E agora todos esses elementos se misturavam com o som da risada da morena perto de si. Desde que voltaram de viagem, a frequência de interação entre as duas tinha diminuído. Durante os treinos e jogos, Carol continuava lhe ajudando a traduzir as conversas que tinha com toda a equipe. Mas fora das quadras a brasileira parecia fugir da gringa como o diabo foge da cruz. Anne não conseguia explicar o porquê tudo aquilo a incomodava tanto. Ela percebeu um distanciamento da brasileira nos últimos dias, mas... poderia ser só coisa da sua cabeça, certo? A holandesa se sentia confusa com o tratamento, mas não sabia como abordar esse assunto. Tinha medo de ser direta demais, de estar confundindo as coisas. Seriam todas as brasileiras assim? Intrigantes? Complexas? Isso Anne tinha certeza que não. Não eram todas as brasileiras que a deixava com início de falta de ar com um simples olhar, com a boca seca e pele quente quando corria os olhos pelo seu corpo e admirava os pequenos detalhes, com uma vontade quase incontrolável de se aproximar quando desviava o olhar ou se afastava...

Saindo de seus pensamentos, Anne virou o rosto e percebeu a movimentação das outras colegas, algumas levantando e outras até começando a cantar. Sua cara de confusão deve ter chamado a atenção de Carol.

- Elas tão indo pro samba que tem aqui perto. Se você quiser ir, só seguir a Roberta.

- Samba? A música? - perguntou, confusa.

- É, roda de samba ou pagode. É tipo uma festa, só que mais informal. É comum ter muito em bares, churrascos... - Carol explicou.

- E você não vai?

- Ah, hoje eu não tô com vontade de festa. - Carol respondeu novamente, dando um gole mais longo em sua cerveja.

O grupo de jogadoras começava a se afastar em direção à rua, sem perceber a ausência das duas que permaneciam sentadas na mureta, lado a lado. Carol pensou em insistir para Anne acompanhar as outras, afinal era mais uma oportunidade de conhecer a cidade. Mas ela não sabia explicar o magnetismo que a mantinha ali, parada. Ela viu pelo canto de olho a holandesa se movimentar, passando uma das pernas por cima da mureta e virando o corpo na sua direção.

- Você não.. "gostar" de samba?

A frase em português arrancou um sorriso de Carol. O português da gringa estava ficando cada vez melhor, ela tinha que admitir. Mas era sempre muito fofo quando ela não conjugava os verbos, talvez Carol preferisse assim.

Amour d'or et du bronzeOnde histórias criam vida. Descubra agora