Capítulo 04 - Medos

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Segundo dia, prisioneira, em uma mansão, sempre acordando no escuro. Sinto falta da minha antiga vida, e tenho tido pesadelos freqüentes. E essa sensação de desconforto continua. Não vi minha mãe o dia todo ontem. Passei a tarde com Ramon, ele me explicou tudo novamente, querendo tirar minhas dúvidas uma a uma. Não posso negar que gostei da tarde que passamos juntos. Perguntei-me se Ramon é sozinho assim como eu. E Megan o que tem feito esses dias? Será que ela me esqueceu? Eu queria meu celular. Será que mandou torpedos? Para minha surpresa, eram 5 da manhã. Como acordei essa hora? era raro isso. Decidir por mim mesma andar pela mansão sozinha. Fui ao banheiro, tomar banho, escovar meus dentes, e me trocar.

Tudo parecia silenciosamente tranqüilo, segui em direção a onde nunca me levaram, o corredor oposto ao meu quarto, me senti naqueles filmes de terror, as cortinas eram pretas, e o corredor era enfeitado de um silêncio enorme. Comecei a me arrepender de seguir essa direção, mas minha curiosidade era maior. No final do corredor, tinha uma curva, onde dava acesso a outro corredor igual ao primeiro, mas dessa vez, tinha quartos sequenciados, com os seguintes nomes: Michelly, Lucelia, Vicent, Ramon, Stela...e ao fim um nome conhecido por mim: Dirty Mortis, minha mãe.

Parei em frente a sua porta, e fiquei dividida entre entrar ou não entrar. Minha curiosidade novamente me venceu, girei a maçaneta que dava acesso a uma escada para cima, subi as escadas com as pernas tremulas, e o coração batendo acelerado. Ao chegar a uma porta. Estava escuro, mais a frente da porta tinha duas luzes, que serviam como sinal, para quem subia as escadas. As luzes eram vermelhas. Girei a maçaneta de novo, mais estava trancada. Ouvi um ruído vindo da escada abaixo. Quando virei, me deparei com dois olhos me encarando no escuro. Quando pensei em gritar, meus lábios foram selados por outros lábios, arregalei meus olhos, mas depois me entreguei a aquele toque familiar. Ramon me abraçou e me beijava loucamente, nossos corpos colados. Depois vi que ele se afastou bruscamente de mim. Fiquei confusa, tudo bem que eu era nerd, mas será que meu beijo é tão ruim assim? Vi os olhos surpresos e cheios de desesperos de Ramon, ele saiu correndo.

Antes que eu pudesse correr atrás dele minhas pernas permaneceram imóveis. Como se eu estivesse calçando um coturno muito, mais muito pesado, a ponto de não conseguir se quer dá um passo a frente! Sentei onde estava, e me pus a chorar, em meio a escuridão, enquanto ouvia os passos de Ramon, descendo as escadas. Finalmente os passos foram abafados. Eu me levantei e segui em direção a meu quarto. Foi uma péssima ideia. Pensei comigo mesma. Por que ? Não sei. As vezes acho que as coisas são mais rápidas do que pensei. Mas o meu maior medo era Ramon...O que o fez sair correndo desesperado daquele jeito? Quanto mais eu tentava entender mais confusa eu ficava. E aquela prisão estava me deixando louca. Fiquei vegetando até dá 7:00 horas em ponto. Como previsto, a porta do meu quarto foi aberta por Lucilia e Michelly:

-Bom dia Diana! – Michelly me disse, sem nada nas mãos.

-Vamos lá, levante, vamos escolher uma roupa para você tomar café.

-Obrigada meninas, mas hoje quero ficar no meu quarto.

-Então vou preparar uma bandeja. O que vai querer?

-Um Nescau. E pão assado.

-Ok em 30 minutos estarei de volta. – Michelly se retirou porta fora.

Lucelia contornou minha cama, até o lado onde eu estava. Sentou-se na cama, perto de mim, e me olhou meio desconfiada.

-Está tudo bem Diana?

Levantei minha cabeça, e a encarei com meus olhos vermelhos por causa do choro, Lucelia me abraçou como minha mãe nunca tinha me abraçado. Depois me perguntou:

-Olha sei que não pode conversar com sua amiga, e que só tem Ramon que lhe escuta aqui. Mas saiba que pode confiar em mim para tudo. Sou sua amiga Diana. Conte-me o que aconteceu.

-Eu estou tão confusa com tudo isso Lucelia. Minha vida virou de cabeça pra baixo em 3 dias. E não vejo minha mãe, mas também não sinto falta dela, a gente só tinha pouco contato mesmo. Não sei quem é meu pai. E ... – Nesse exato momento parei, lembrei de Ramon e do sentimento que está aflorando aqui dentro de mim. Baixei a cabeça.

-Ei, não quero que fique pensando nessas coisas. Olha eu sei que está sendo muito complicado pra você ficar trancada aqui. Mas você também tem amigos aqui. Pode contar comigo pra tudo, entendeu?

-Obrigada! – Abracei de volta com a mesma intensidade que havia me abraçado.

Tomei meu café aquela manhã sozinha em meio as minhas dúvidas. Ramon não apareceu nem a tarde e nem a noite. Comecei a pensar que ele pode ter ido embora, com medo do que minha mãe podia achar de tudo isso, ou com medo de perder o emprego. Na verdade eu não queria pensar na hipótese de que beijava mal, ou que ele não gostava de mim. Eu queria arrumar forças para seguir em frente. Depois daqueles conturbados dias. Mas não conseguia tirar aquele beijo da minha cabeça, ele tinha sido ótimo pra mim, mas e para Ramon? O que será que ele tinha achado. 

Comecei a me lembrar também de outros problemas que me cercavam. E passei a me sentir idiota por se preocupar com um beijo, quando lá fora, haviam lobos me caçando. Lobos, lobisomens pra ser mais exata. Ainda pensei em Megan, pensei em Miller, pensei nos meus colegas de sala. Fiquei imaginando, antes eu odiava a escola, hoje eu senti falta dela mais do que nunca. Nossa me senti bem velha com esse pensamento. Amadureci será? 17 anos não são o que se possa chamar de madura. Isso lógico depende de cada pessoa. Fiz minhas refeições no decorrer do dia no meu quarto. A porta do meu quarto finalmente se abriu. Pensei em Ramon, mas fui surpreendida pela minha mãe.

-Boa noite minha princesa!

-Boa noite mamãe!- Pulei da cama, em direção a seus braços. Ela me abraçou meio fria. Ela já é fria por natureza, mas senti que ela estava me abraçando forçadamente. Ao mesmo tempo que percebi isso, meu coração se despedaçou.

-Tenho que te dizer umas coisas minha filha.

Me afastei dela, segurando as lágrimas que não queria soltar. Olhei fixamente para ela, querendo achar respostas para seus atos, para aquele abraço sem gosto, aquele abraço forçado. Mas baixei meu olhar e ela continuou.

-Comprei um apartamento para você. – Qualquer adolescente na minha idade, iria fazer a festa, mais aquilo estava me remoendo por dentro, eu me sentia como se a cada palavra dela fosse um adeus. Ela continuou. – Você voltará a ter sua vida normal. Continuará estudando, vivendo como uma adolescente normal. Deixarei Lucelia e Ramon cuidarem de você...

Nesse momento, eu a interrompi, com o desprezo e raiva em meu coração.

-A senhora está me abandonando é isso?

-Não, não totalmente.

-Explique-se, o que quer dizer não totalmente para você?

-Eu vou deixá-la viver sua vida, mas Ramon estará com você, vigiando, e guardando você. Eu vou ter que fazer uma viagem, uma longa viagem. Para resolver os problemas. Ainda não tive noticias do seu irmão.

-Desculpe, eu não quis... – Antes que eu pudesse terminar a frase, ela devolveu meu celular, e bateu a porta com força. Falei baixinho. – Não quis lhe aborrecer.

O silêncio que tomou meu quarto, me encheu de lágrimas os olhos, e me fez ver, que aquela sensação de solidão, era apenas carência de carinho materno, mas isso minha mãe certamente não devia entender, ou melhor não devia sentir. No escuro do meu quarto meus olhos inchados foram se apagando pouco a pouco, e num desligue de mente, meus olhos se fecharam. Minha noite foi tomada por pesadelos, constantes, os mesmos pesadelos que me assombravam. O sonho ruim sempre foi o mesmo, eu me via enfurecida com algo, numa forma abominável, muito desesperador, e no meu sonho, olhos de Ramon me encontravam em desespero, assim como ele me olhará naquele dia. Eu queria parar de destruir as coisas, mas não conseguia, não tinha autocontrole suficiente. Estava perdida, e feria aqueles que mais amava, numa parte do sonho eu vi os olhos da minha mãe de desprezo por mim. Não entedia nada do sonho, só acordava ofegante, e com o rosto molhado de lágrimas. Sentei na cama, enxuguei meu rosto molhado, e percebi que estava suada. Fui a meu banheiro, tomei um banho frio, e tentei esquecer o meu pesadelo, olhei para o relógio e estava marcando 2 horas de amanhã.

O Silêncio de DianaOnde histórias criam vida. Descubra agora