𝐁𝐞𝐥𝐥𝐚
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A virada de mais um ano se passou silenciosamente. Hoje é 2 de janeiro, e eu estou escondida do mundo, isolada neste quarto. Faz dois dias que estou aqui, e embora Borislav nunca durma aqui, ele aparece em momentos específicos para trocar os curativos e trazer comida. Já me acostumei com a carranca dele, que sempre deixava claro que eu era um estorvo.
A maior parte do tempo, no entanto, eu fico sozinha. Hoje ele foi atencioso o suficiente para deixar um livro antes de sair depois de tanta reclamação da minha parte, mesmo assim percebi que nada seria capaz de me tirar do tédio.
Eu odiava estar presa, e pior, odiava estar dependente dele para qualquer coisa que precisasse. Ele não deixava ninguém me ver nem falar comigo.
— Como cheguei a esse ponto? — perguntei em voz alta, a solidão do quarto tornando-me mais introspectiva.
Minha vida tinha mudado drasticamente em tão pouco tempo. De uma sobrevivente lutando contra os abusadores, agora estou aqui, dependente dos cuidados de um homem cuja força poderia me quebrar como um palito de dente. E ainda assim, há algo reconfortante em sua presença, algo que me faz sentir... Segura.
Era uma forma horrível de se sentir? Na minha condição, eu consideraria que sim, era péssima.
O relógio de pêndulo marcava dez da noite, e a qualquer momento ele estaria aqui para trocar os curativos.
Ele entrou no quarto sem fazer barulho, como de costume. Seus olhos escanearam o ambiente antes de pousarem em mim. Ele carregava a habitual bandeja prateada de comida.
— Está na hora — disse ele, a voz grave quebrando o silêncio.
Assenti, fazendo menção de me levantar. Antes que eu pudesse me mexer para sair da cama, Borislav me pegou no colo, seus movimentos rápidos. Ele me colocou na ponta da cama, deixando a bandeja ao meu lado.
— Eu posso fazer isso sozinha — protestei.
— Odeio quando você demora — Sua voz era impaciente. Observei a forma como ele puxava as mangas e tirava as ataduras, as pontas dos seus dedos encostando na minha pele. Sua mão era fria.
Enquanto Borislav trabalhava nos curativos, não pude deixar de observar suas características. Ele era um homem incrivelmente bonito.
Seu rosto tinha uma estrutura perfeita, com um maxilar angular e bochechas altas que se destacavam. Os olhos de um azul profundo eram intensos, cheios de severidade e algo mais suave que raramente emergia. Seu cabelo, escuro e ligeiramente ondulado, estava sempre arrumado de forma impecável, caindo levemente sobre sua testa.
Os lábios eram firmes, raramente sorrindo, mas perfeitamente desenhados. A pele tinha um tom claro, quase pálido, contrastando com a escuridão de seus cabelos e a profundidade de seus olhos. Ele fazia o tipo autoritário e atraente.
Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos.
— Parece que não teve um dia muito bom hoje — Tentei, para me distrair. Mas ele não me respondeu.
Continuei olhando o redor enquanto comia alguns pedaços de pão ao lado da sopa, não estava com muita fome.
Minha atenção se desviou para o quadro pendurado acima da lareira. A pintura era de uma mulher com uma beleza impressionante.
Os traços da mulher eram notavelmente semelhantes aos dele — o mesmo formato de rosto, o mesmo tom de pele, até os mesmos olhos intensos. Era como se ela fosse uma versão feminina dele, um reflexo de sua própria imagem.
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HERDEIROS DO PECADO - A Vida e Morte de Isabella | DARK ROMANCE
RomanceVendida para uma família russa, Isabella Jones se vê presa na mansão Lavrentiev. Enquanto tenta formas de conseguir sua liberdade, ela começa a interagir mais com os irmãos. Nem tudo é o que parece ser, e o que era perigoso se torna a chave para a s...