xiv.

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Foram treze anos longe dele, treze anos de agonia e falta de coragem, treze anos levando a vida da melhor forma possível mas mesmo assim sentindo que uma parte faltava.

Na verdade não encontrei nenhum amigo nosso da época, foi uma desculpa tola que seria desmentida quando ele perguntasse quem. Eu o acompanho de longe tem alguns anos.

Sei que é CEO da empresa onde trabalha, que mora num apartamento provavelmente gigantesco. Não o segui nem nada parecido. Dois amos atrás saiu uma matéria em uma revista de negócios onde ele era o destaque.

Apesar de ser um homem com mais de trinta anos acabei me apaixonando por ele novamente, igual um adolescente guardando aquela revista com cuidado. Sempre que podia pegava pra ler de novo.

Não sou obcecado por ele, apenas sinto muita saudade e agora uma admiração crescente.

Acho que ele nem percebeu que o sigo no instagram desde a época da matéria, as fotos são lindas, ele é lindo, literalmente igual a um príncipe. Nunca me achei a altura.

Mas este ano, na véspera de natal tive um sonho esquisito, ele me chamava, gritava dizendo que não conseguia mais viver sem mim, me impressionei tanto que acabei por perder o medo de ligar.

Bom, a secretária atendeu e me disse que ele não estava. Encanei que ele estava SIM por perto e ouviu quando ela pronunciou meu nome e pediu pra falar que ele ainda não havia chegado.

Mas dois dias depois me ligou, parecia nervoso, gaguejava, atropelava palavras, parecia tímido, muito nem parecia um Diego diretor executivo de uma das maiores empresas do país.

Quis abraçar, dizer que tá tudo bem e que eu estava tão nervoso quanto ele, que desde que terminamos  não consegui me envolver amorosamente com ninguém.

Depois que nos despedimos marcamos por mensagem o local e a hora do nosso jantar.  Saí pulando eufórico pela sala. Tinha tanta coisa que queria perguntar e falar pra ele, sobre família, relacionamentos, amizades.

Mas preciso me conter para não assustar ele.

*

Depois de um dia inteiro deitado sonhando acordado e planejando tudo que diria a ele precisei atender o celular pra resolver um pepino do escritório.

Me peguei pensando como minha vida mudou completamente depois da faculdade, logo após a formatura montei um escritório pequeno com um colega de classe, quase dez anos depois empregamos quase sessenta pessoas.

Será que Diego pensa em mim com a frequência que penso nele? será que já parou pra imaginar como seria nossas vidas se nosso término nunca tivesse acontecido?

A interfone tocou me tirando de meus devaneios. Esqueci completamente que tinha marcado com Rodrigo em casa.

— Oi Rô — disse em um sorriso quando abri a porta.

— Oi Maury — me deu um beijo na boca — saudade de você.

— Você sumiu da cidade, achei que nem lembrava mais meu nome, fiquei triste — na verdade eu não dou a mínima — como tem passado?

Conheci Rodrigo em uma balada ano passado, desde então ficamos esporadicamente, ele viaja muito a trabalho e acho que é por isso mesmo que nos damos tão bem.

Apesar de ser um homem lindo, gentil, educado não sinto nada além de uma certa atração por ele. Na verdade somos muito amigos.

— Bem, tô trabalhando demais, meu anjo — deitou no meu ombro — não tenho tempo pra nada, ando tão cansado.

— Hum então deita ali no sofá, te faço uma massagem.

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