xv.

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Não consegui acreditar que foi fácil assim ter Amaury de volta, fico pensando em quanto tempo perdi. Se tivesse ligado ou procurado ele anos antes poderíamos estar juntos desde então.

Esse Amaury tinha algo diferente, era mais delicado nos gestos e até na fala. Não to reclamando do outro inclusive tenho tratado em minha cabeça eles como duas pessoas diferentes, mas na verdade são a mesma pessoa.

Depois do nosso encontro decidimos ir devagar e saiamos praticamente todo dia, almoçávamos juntos e quase sempre depois do trabalho ele ia lá em casa ou eu na casa dele.

Hoje ele já havia avisado que viria, me arrumei e passei o perfume que segundo ele é meu cheiro oficial. Chegou com flores, comida e aquele sorriso largo no rosto.

Essa simplicidade dele me inspirava. Ele é lindo, inteligente, interessante sempre precisar de roupas caríssimas de uma cobertura no prédio mais alto da cidade. Mesmo sendo sócio de um dos maiores escritorios de advocacia da cidade e tendo provavelmente mais dinheiro que eu, Amaury precisava apenas ser ele pra ser alguém que todos gostam.

— Oi meu bem — disse quando abri a porta e arregalei os olhos quando vi o buquê — qual a ocasião?

— Ué... te agradar — me beijou, entrou em casa e foi direto pra cozinha.

— Preto, o que cê trouxe ai? — tentei olhar as sacolas — o cheiro tá uma delicia.

— Parmegiana! vou botar ela um tempinho no forno — tirou a forma da sacola e analisou como tava — tem arroz também, acho que ainda tá quente...posso escolher um vinho na sua adega?

— Até dois — olhei a correria dele confuso — comida boa, vinho, flores....

— Pra dar um climinha de romance, pode?

Ainda não tínhamos conversado sobre o status do nosso relacionamento, pra falar a verdade a gente não tinha nem transado ainda. E mesmo assim ansiava o tempo todo pelo momento em que finalmente veria ele.

— Óbvio, se a gente vai casar cê tem que começar logo a me conquistar — espiei o forno pra ver se já tava no ponto — Faz tempo que não como essa sua parmegiana.

Ele me deu um olhar questionador.

— Diego...eu nunca fiz parmegiana pra você, aprendi a cozinhar pra valer na faculdade.

— Já disse que comi em sonho, você que não acredita.

— Entendi. E o que mais você sabe sobre mim que viu nesse sonho doido ai?

— Você tem um morango tatuado na bunda, perdeu uma aposta pra um colega de classe.

Ele me olhou sorrindo de lado.

— Bom, se eu tivesse te mostrado minha bunda com certeza lembraria. — cerrou os olhos pensativo — to começando a acreditar nessa sua história de alien ai.

Ri e fui até ele o abraçando pelo pescoço. Beijei a pontinha do nariz.

— Fofinho, você é tão lindo, quero morder.

— Morde.

— Primeiro vou morder a comida que cê fez, depois mordo você.

Essas provocações entre a gente já duravam algumas semanas mas nunca se concretizaram.

*

Quando a comida ficou pronta Amaury correu pra sala de jantar e montou a mesa para dois, com coisas que ele mesmo trouxe.

Serviu os dois pratos e serviu o vinho em seguida, fiquei olhando cada movimento com curiosidade. Ele estava mais quieto que o normal.

Comemos em silencio, vez ou outra ele me olhava sorrindo largo ou piscava e mandava beijo.

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