Eu sou do tipo de pessoa que gosta de acordar cedo para organizar as coisas, me arrumar tranquilamente, mas principalmente ver o amanhecer. Após observar a floresta ao amanhecer, sai da janela e comecei a me arrumar no automático para ir à faculdade já que era meu primeiro dia, me vesti com uma calça jeans preta, uma blusa de manga comprida gola alta preta, uma jaqueta preta de couro, meus coturnos de sempre e coloquei meus acessórios. Fiz uma maquiagem simples para parecer que tive uma ótima noite, já pronta peguei minha mochila que desde ontem já estava arrumada, e desci as escadas para ir tomar café.
Ao passar pela sala, encontrei meu irmão todo jogado no sofá, fui em direção a cozinha e vi minha mãe lá. Larguei minha mochila em qualquer lugar, e me aproximei da minha mãe.
- Bom dia mãe. - falei com uma calma que até eu estranhei.
- bom di... - ela para de falar quando se vira para mim, me analisando de cima abaixo - que roupa é essa garota? - fala com se eu tivesse assassinado a moda.
- não começa, por favor - digo, sentando-me para comer, já sabendo onde essa conversa vai dar.
- não começa? A pelo amor a mim, você está parecendo que vai ao funeral com essa roupa toda preta, e não a uma faculdade. Pelo menos podia colocar algo branco ou uma cor, talvez deixar um pouco desses anéis em casa - disse praticamente listando alguns erros que ela achou em mim.
Minha mãe nunca gostou do fato de eu ser o oposto dela e, toda vez que me via com o cabelo diferente ou no estilo meio gótico, vinha falar algo que não gostava e a lista ia ficando cada vez maior.
- Eu me visto assim desde sempre e não vou deixar meus anéis em casa.
- como sempre nada do que eu falo você faz - disse, virando-se novamente para pia.
Às vezes doía demais vê o desgosto na voz da minha mãe que era direcionado para mim.
- eu já vou para faculdade - ela não disse nada, só faz um resmungo concordando.
Virei-me, peguei minha mochila do chão e passei pela sala para dar um beijo de despedida no meu irmão antes de sair. Quase chegando à porta, apareceu uma folha de pergaminho com fogo azul ao redor, escrito com uma mensagem.
Bom dia, Senhorita Lacroix, me encontre hoje na floresta, perto do lago, às 23h.
Depois de ler a mensagem, o fogo em volta do pergaminho queimou toda ela, não deixando nenhum vestígio para trás. Essa era uma das formas dos bruxos de enviarem mensagem um para o outro.
- Bem! Parece que vou conhecer minha nova professora. - sussurrei para mim.
- Parece que sim - diz alguém atrás de mim, me fazendo dar um pulo de susto.
- Puta que pariu, que susto, desgraça!
- Foi mal maninha - revirei os olhos para ele. - Vem, vou te levar para a faculdade - disse ele bem calmo. Isso era estranho, ele odiava me levar para qualquer lugar.
- Ok! - respondi, já saindo de casa. Quem sou eu para negar uma carona?
Odeio chegar aos lugares onde as pessoas ficam me encarando. No caso, estavam encarando o carro, mas logo seria eu.
- Parece que nunca viram gente nova nessa cidadezinha. - Digo em tom de ironia, para esconder que eu estava com medo.
- Não começa Bella. vamos, vou te acompanhar até a secretaria pegar seus horários. - Disse Nicollas. Parecendo até que sabia que eu estava com medo de ir sozinha.
Descemos do carro e fomos em direção a secretaria. eles não paravam de nos encarar. Chegando perto da entrada da faculdade, acabei trombando com uma garota qualquer. Quando ia pedir desculpa, a garota já estava toda emburrada na minha frente.
- Olha por onde anda, novata - disse a garota, toda brava, com uma voz de hiena.
- Garota, ia até pedir desculpa, mas você chegou achando que é a dona do lugar - falei baixo, para não atrair o público.
- Posso não ser dona da faculdade, mas sou muito popular em comparação a você, querida. Me chamo Pactria Lisboa, capitã das líderes de torcida. - disse com sua voz de hiena. Estava me dando dor de cabeça sua voz irritante. mas já quer ela que palco para passar vergonha, vamos dar a ela isso.
- Aí que você se engana, querida - falei, com tom de ironia - Eu não sou qualquer pessoa, sou aquela que pode fazer sua vida virar de cabeça para baixo em segundos.
- Você vai pagar por ter falado assim comigo, novata.
Olho para ela de cima para baixo e sussurrei Decipiat (enganação), um feitiço que não precisa de varinha e nem de tanta magia. Assim, descobri que ela era uma não-abençoada. Ela começou a ser enganada pela sua própria mente, achando que as pessoas eram algum tipo de monstro querendo a matar. Ela gritou desesperada e acabou tropeçando nos seus próprios pés, caindo para trás, continuando a se debater no chão.
Vi que o reitor da faculdade apareceu com toda essa gritaria. Fiz cara de inocente, sussurrei o contra-feitiço e fingi estar tão confusa quanto a maioria do pessoal.
Nicollas olha para mim e revira os olhos.
- o que está acontecendo aqui? - perguntou o reitor.
- Senhor! Eu estava indo em direção à secretaria quando essa garota acabou trombando comigo. quando eu ia pedir desculpa, ela começou a falar como se fosse dona da faculdade e, do nada, ela começou a gritar e tropeçou nos próprios pés, caindo para trás. - respondi com toda a calma possível.
- Hum! - ele observou em volta. - Já que está tudo resolvido, quero todos para suas respectivas salas, e você, senhorita, me acompanhe até a secretaria.
- Bom, vou indo então, maninha.
Balancei a cabeça em despedida e segui o reitor. Chegando na secretaria, resolvi os problemas que faltavam e segui em direção ao segundo andar, onde seria minha sala nesse semestre. Entrei na sala e reparei que a professora ainda não havia chegado, então fui para o fundo da sala e me sentei. Alguns minutos depois, a professora chegou e observou a turma e seus olhos pararam em mim.
- Bom dia! Vejo que temos uma nova aluna. Se apresente para sala.
Olhei para ela e revirei os olhos, odeio me apresentar, parece até que estamos na quinta série de novo.
- Bom dia! Meu nome é Belladonna Lacroix. Essa é a única informação que vocês terão sobre minha existência. - respondi sentada mesmo, já que não sou obrigada a me levantar. Viu como posso ser educada quando quero.
- Bem, turma, vamos continuar com o conteúdo da aula passada.
Parei de escutá-la e observei a turma. Reparei que três pares de olhos não paravam de me olhar com uma cara indecifrável. Não liguei muito. Uma hora eu descubro o que eles querem.
Peguei meu fichário, minhas canetas e comecei a prestar atenção na aula, se não ia me ferrar nas provas.
Significado de não-abençoado: Pessoas que não fazem parte do mundo bruxo ou feérico. (Humanos)
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Bruxas e feéricos: Uma trégua improvável
FantasyEm um mundo onde bruxos e feéricos se enfrentam, será que uma amizade pode florescer ou sobreviver? Belladonna, uma jovem bruxa conhecida pelas confusões por onde passou, seus pais acabam decidindo se mudar para cidade de Sanguinem Cordis na esperan...