XIV

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O quarto de Taiyō ainda tinha o cheirinho dele. O perfume característico do primo. Raygo não conseguia não chorar ao entrar ali. As lágrimas corriam em silêncio, as mãos tremiam intensamente a cada memória.

Doía como o inferno.

Lembrar dos bons momentos era uma tortura. E aquele mês havia sido o pior de toda a sua vida. Pior do que todas as feridas causadas pelas maldições, pior do que ser desprezada por não ter uma técnica, e pior do que ter sido rejeitada pelos pais.

A comida era como cinzas em sua boca, mesmo quando era sua comida favorita, e o sono era tão desejado quanto ardiloso, ela dormiu no primeiro dia inteiro, se assustando ao acordar a noite do dia seguinte.

-- Raygo? -- A voz da tia se fez presente na porta do quarto -- Você está bem?

-- Eu pareço bem? -- Ela mordeu o lábio, contendo a vontade de gritar.

Eles só podiam estar brincando, aquela ideia estúpida de esvaziar o quarto só poderia ser brincadeira.

-- Nós vamos doar as coisas para quem precisa, e manteremos o mais importante -- O tio segurou a cintura da esposa, passando conforto -- Não faz bem para você continuar assim Raygo, já faz um mês...

-- E para vocês isso já passou não é!? -- Ela esbravejou, atravessando a porta rapidamente, indo par ao próprio quarto -- Vocês superaram isso primeiro que eu, sendo que vocês são os pais! -- Ela bateu a porta com força, trancando logo em seguida.

Ela ouviu um choro no quarto ao lado. Merda. Merda. Merda.

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-- Ela está irritada com a gente -- Milagro comentou, as olheiras e o cansaço marcados em seu rosto -- Magoada por termos passado pelo nosso luto primeiro do que ela.

-- Eu entendo -- Sukuna falou, a pequena neném em seu colo tentou morder o dedo dele, mas ele substituiu pelo mordedor -- Vocês não tinham opção, precisavam cuidar da Hoshi, e dela também.

-- Ela sente que está sozinha -- A ruiva pegou sua bebê do colo de Sukuna, entregando ao marido -- Pode ir fazer ela dormir um pouco?

-- Claro -- ele levou a pequena para o andar de cima, deixando a esposa e Sukuna a sós.

-- Ela só sai do quarto para comer ou ir no quarto do Taiyō, e está comendo pouco -- Ela segurou as mãos de Sukuna, apertando com carinho -- Nós não conseguimos fazer ela sair de lá, acha que consegue?

-- Posso tentar -- Ela sorriu melancólica, indicando as escadas em um pedido silencioso. Ele parou na frente do quarto dela -- Raygo?

-- Desculpa Sukuna, mas não quero ver ninguém -- Ele ouviu a voz abafada, baixa.

-- Eu sei -- Ele se sentou no chão escorado na porta -- Quando meu avô morreu, eu sentia que os dias passavam muito rápido. Não queria ver nem o Yuji, porque eu odiava ver como o mundo continua sem se importar com aqueles que ficam.

Ele esperou um pouco, e não obteve resposta, o feiticeiro mecheu os dedos nervoso.

-- Eu queria poder te abraçar, te ver adormecer em meus braços, ser a pessoa a estar do teu lado nesse momento. Porque mesmo que você caia, eu sempre estarei aqui para tentar te levantar -- Sukuna olhou para as fotos em família penduradas na parede -- Eles são sua família Raygo, e estão preocupados com você.

Um choro repentino de bebê tomou o ar, o tipo de choro de quando um bebê faz birra.

-- Saia -- Ele ouviu a voz de Raygo atrás da porta -- Eu não quero ouvir mais nada.

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